OPINIÃO

Não podemos calar: papel do setor privado na proteção infantil

Por Ernesto Pousada | O autor é CEO da Vibra
| Tempo de leitura: 3 min

Proteger nossas crianças e adolescentes é um dever coletivo — e urgente. O abuso e a exploração sexual a esses grupos seguem sendo uma das formas mais cruéis e silenciosas de violência no Brasil, muitas vezes invisível aos olhos da sociedade. Dados do Disque 100 revelam milhares de denúncias por ano, mas sabemos que o número real é muito maior: muitos casos permanecem escondidos, silenciados pelo medo, pela vergonha ou pela falta de informação. A maioria dessas violências acontece dentro de casa, cometida por pessoas próximas às vítimas, o que torna ainda mais desafiador romper esse ciclo. Diante disso, precisamos fazer uma escolha: podemos fingir que não é conosco, ou podemos agir. Na Vibra, escolhemos agir.

A proteção da infância e da adolescência não pode, nem deve, ser tratada apenas como uma responsabilidade exclusiva do poder público. Acreditamos que empresas têm um papel fundamental na transformação da sociedade. Não basta gerar empregos, inovação e desenvolvimento econômico. Empresas, organizações sociais e cidadãos precisam assumir um papel ativo nessa luta. O setor privado, em especial, dispõe de alcance, estrutura e influência suficientes para ampliar a conscientização e fomentar mudanças sociais de forma concreta. Precisamos também ser agentes ativos de proteção, inclusão e cuidado com as pessoas — especialmente com as mais vulneráveis.

Foi com essa convicção que nasceu o Movimento Violência Sexual Zero, uma mobilização inédita que já reúne mais de 150 empresas e instituições, dispostas a enfrentar esse tema com a seriedade que ele exige. Apoiada por organizações como o Grupo Mulheres do Brasil, Childhood Brasil, Instituto Liberta e pela própria Vibra, a iniciativa visa garantir que as empresas atuem dentro de seus ecossistemas, alertando colaboradores, parceiros e comunidades sobre a urgência da pauta. Por isso, este mês, reforçamos nosso compromisso com a proteção da infância. Estamos fortalecendo campanhas internas de conscientização e a expectativa é atingir os mais 750 mil colaboradores, incentivando o acesso a informação, o uso de canais de denúncia, e mostrando que juntos podemos mudar o futuro das crianças.

Como empresa com capilaridade nacional e presença em milhares de localidades, entendemos que não podemos nos omitir. Temos a responsabilidade de levar informação e promover ações concretas de enfrentamento a esse problema. Um levantamento da Polícia Rodoviária Federal identificou mais de 17 mil pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias brasileiras, muitos deles próximos a postos de combustíveis e pontos de parada de caminhoneiros.

Temos mais de oito mil postos de serviços espalhados pelo país. Isso nos dá a responsabilidade — e a oportunidade — de fazer diferença. Sabemos que o frentista pode ser o primeiro a perceber um sinal de alerta. Que um caminhoneiro bem orientado pode ser um aliado na denúncia. Que informação salva vidas.

Essa luta não é simples. Ela exige coragem, constância e cooperação. Mas temos convicção de que é possível mudar realidades quando todos assumem sua parte. Por isso, faço aqui um chamado: a outras empresas, líderes, colaboradores e cidadãos. O combate à violência sexual infantil precisa da união de todos. O silêncio, nesse caso, é conivente. E nós não seremos coniventes. Vamos juntos construir um país onde cada criança possa crescer com dignidade, segurança e afeto. Porque proteger a infância é proteger o futuro.

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