Empresária, professora de empreendedorismo, consultora e mestre em negociações internacionais, filantropa e palestrante, Natália Mondelli, 43 anos, é uma cidadã do mundo. Destemida e inquieta, morou em cinco países, aprendeu a falar cinco idiomas e visitou mais de 80 nações. Atualmente, vive em Basel, na Suíça, com o marido Christian Hoferer e o filho Rafael, 6 anos. Agora, voltou a Bauru, sua cidade natal, para lançar seu primeiro livro, "O Mundo é Seu. Negócio Fechado!", que reúne suas experiências em tratativas com 65 países e ensina técnicas de negociação com respeito às diferenças culturais. Desde jovem, Natália cultivou o espírito empreendedor herdado da família Mondelli e, após comandar uma agência de intercâmbio em Bauru, movida por amor e coragem, mudou-se para a Suíça.
Mas, mesmo após concluir mestrado em negócios internacionais, enfrentou dificuldade de inserção no mercado europeu, o que a motivou a fundar a ONG Empowering Women for Integration (EWI), hoje com 370 voluntários que oferecem capacitação a pequenos empresários imigrantes na Europa. Além disso, criou o EWI Summit, feira de empreendedorismo que reuniu 4,5 mil pessoas em 2025, e o EWI Global Awards, premiação a empresários do Brasil. Há dez meses, por meio da B-Long Business School, Natália também oferece formação empreendedora a alunos brasileiros pelo mundo, sempre com o propósito de criar pontes entre culturas e oportunidades para quem ousa sair do lugar.
JC - Você tornou-se empreendedora por influência da família?
Natália - Meu avô, Vangélio, e meu pai, Braz Mondelli, eram empreendedores, então, cresci com esse espírito. Ainda menina, tive contato pela primeira vez com uma cultura diferente da minha, quando os rabinos de Israel que compravam carne do frigorífico vieram verificar se o abate era feito de acordo com a religião deles. Aquilo me despertou e, aos 11 anos, fiz minha primeira viagem internacional sozinha com minha irmã. Meus pais me deram raízes fortes, mas também asas para voar e desbravar o mundo. A partir desta base, trilhei meu próprio caminho.
JC - E não parou mais?
Natália - Não. Com 16 anos, cursei parte do ensino médio em San Diego (EUA) e fui fazer faculdade de turismo e demografia em Buenos Aires. Trabalhava como recepcionista em uma agência de viagens de intercâmbio cultural e, certo dia, a agência foi invadida e destruída por um grupo que protestava em meio à crise que a Argentina enfrentava, o que me fez retornar ao Brasil em 2002. Terminei a graduação na Unaerp de Ribeirão Preto, fiquei três meses estagiando na Itália e, de volta a Bauru, tive, por oito anos, uma franquia da agência de intercâmbio cultural Student Travel Bureau (STB), que direcionou 4 mil universitários para estudos e trabalho no Exterior.
JC - Tinha que idade ao abrir a agência?
Natália - Tinha 22 anos e, na época, também dava aulas na Unimep de Lins. Nesse meio tempo, decidi passar férias na Europa e recebi uma ligação do Christian, que é alemão e, até então, era um dos meus melhores amigos. Ele me convidou para fazermos uma viagem juntos pela Europa, topei e começamos a namorar. Eu tinha minha vida em Bauru, mas ele estava de mudança para a Suíça. E, como acredito que são pessoas inconformadas e inovadoras que constroem algo positivo no mundo, fui junto, com quase 30 anos e sem saber falar alemão.
JC - E fechou a franquia?
Natália - Fiquei com a agência por três anos a distância, mas me sentia solitária trabalhando em casa. Então, fui fazer mestrado em negócios internacionais e, na primeira semana, o reitor me ofereceu um contrato e bolsa de estudos para ser gestora de um projeto da universidade. Durante dois anos, trazia alunos e pequenos empresários para visitarem grandes empresas no Brasil e aprenderem a fazer negócios com o País. Mas, quando concluí o mestrado, mesmo falando português, inglês, espanhol, italiano e alemão, não conseguia um bom trabalho. A partir desta frustração, passei a fazer pequenos encontros com imigrantes visando promover a integração cultural.
JC - Foi quando a ONG nasceu?
Natália - Foi. E comecei a me deparar com mulheres vítimas de violência doméstica e do tráfico internacional de pessoas. Então, produzimos uma cartilha contra violência doméstica, passei a dar pequenas palestras sobre direitos e deveres dos imigrantes, dar aulas de capacitação sobre empreendedorismo, tudo gratuito. Até que recebi duas ameaças de morte. Para não colocar minha vida e a da minha família em risco, direcionei todo o trabalho da ONG para capacitação empreendedora. Hoje, contamos com 370 voluntários em todo o país.
JC - Quais são suas outras frentes de atuação?
Natália - Como a ONG teve um salto grande, passei a fazer eventos com ingresso ou estantes pagos para manter os projetos sociais. O EWI Summit, por exemplo, teve público de 4,5 mil pessoas em 2025. Neste evento, os empreendedores imigrantes atendidos pela ONG podem participar gratuitamente e fazer conexão com novos clientes, parceiros e fornecedores em toda a Europa. Já em setembro, ocorrerá o EWI Global Awards, uma premiação no Castelo de Chillon com 130 empresários gigantes do Brasil, que terá transmissão ao vivo por uma TV suíça.
JC - Além disso, mantém uma escola?
Natália - Após uma conversa com meu mentor, Flávio Augusto da Silva, decidi abrir a B-Long Business School, onde ensino, na prática, pequenos empresários brasileiros ao redor do mundo como progredir. Ela oferece 55 certificações internacionais suíças e produtos como o B-Long Stream, com 650 horas de capacitação em diversas áreas, além das mentorias online. Em setembro, inicio as imersões empresariais com 35 brasileiros que irão até a Suíça para visitar grandes empresas e aprender como os suíços fazem negócios. E estes empresários serão os sócios-fundadores da B-Long Club, um novo produto. Sou dessas pessoas que se arriscam a estar em movimento. Apesar de ter uma origem superprivilegiada, o mundo nem sempre foi agradável comigo. Então, com a base que tive, sempre crio oportunidades, sou determinada, faço escolhas bem planejadas e tenho constância. Eu não paro.