Tem datas que a gente aprende na escola, anota no caderno e esquece depois da prova. Outras, a gente sente. O 9 de Julho é uma dessas. Não porque é feriado — e sim porque é memória. Porque é sangue, coragem, saudade. Porque, de alguma forma, fala da gente. Fala da nossa luta por justiça, por voz, por regras que valem pra todos.
Em 1932, São Paulo foi à guerra. Não por território, não por dinheiro. Foi por Constituição. Por um país com leis feitas por todos, e não só por quem manda. E foi uma guerra de verdade: trincheira, pólvora, lágrima. Mas, antes das armas, vieram os gritos. Veio a juventude que foi às ruas pedir o óbvio: eleições, democracia, respeito. E foi aí que Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo caíram. Jovens. Muito jovens.
Morreram porque ousaram pedir o que o poder não queria dar. Morreram antes da guerra começar, mas foram eles que acenderam o estopim. E é nesse ponto que a história atravessa seu caminho. Miragaia — um desses quatro — tem raízes em Birigui, cidade em que vivi alguns anos. Fiz o Curso Científico lá ouvindo esse nome com reverência. Não era só uma figura dos livros de história. Era "o menino da família", o filho que saiu pra mudar o país e nunca mais voltou. A família dele ainda mora por lá. E mesmo que o tempo tenha passado, o que ficou não foi esquecimento.
Foi um tipo de saudade que não envelhece. Uma tristeza quieta, mas também uma honra que ninguém tira. Sempre que chega julho, me pego pensando nisso. Pensando no que leva alguém tão jovem a arriscar tudo por um ideal. A morrer por algo que muitos hoje tratam com descaso. Miragaia e seus três amigos morreram por um país mais justo. Morreram acreditando que dava pra virar a página. E, no fim, virou.
A nova Constituição veio dois anos depois. Tarde demais pra eles, mas não pra todos nós. Será que eles imaginavam que, quase um século depois, alguém ainda escreveria sobre eles com a voz embargada?
Feliz a iniciativa das autoridades de Bauru em dar o nome de Praça Nove de Julho a um de seus espaços públicos. Uma escolha que não é à toa: nela está a ITE, que através do Dr. Toledo, cidadão visionário, revolucionou a educação superior da cidade. Um homem que acreditava no poder da formação, da liberdade pelo saber. Muitos juristas/constitucionalistas se formaram na ITE. Uma praça com essa presença não é só um lugar bonito. É um recado silencioso: memória também se constrói com escolhas urbanas e homenagens conscientes.
O 9 de Julho é sobre isso. Sobre gente que não se calou. Sobre jovens que viraram mártires. Sobre o peso de lutar e o valor de lembrar. E que a nossa geração saiba honrar essa herança. Que da saudade e do orgulho nasça compromisso.
Que da lembrança surja ação. Que cada um de nós, com esforço, fé e amor à pátria, ajude a construir um Brasil de todos, por todos, com todos. Porque a história não se apaga.
Mas o futuro… ainda está sendo escrito.
E ele começa nas nossas mãos.