273 IMIGRANTES

Bauru está entre as cidades que mais receberam venezuelanos

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Agência Brasil/Reprodução
Imigrantes da Venezuela
Imigrantes da Venezuela

Bauru está entre as dez cidades paulistas que mais receberam venezuelanos em cinco anos, com exceção da Capital. Segundo dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no último dia 27, 273 imigrantes deixaram a Venezuela para viver no município entre julho de 2017 e julho de 2022. O número corresponde a 35% do total de 779 pessoas que vieram de outra nação no período e fixaram residência na cidade.

Este momento coincide com a intensificação do êxodo de moradores da Venezuela diante da crise econômica, social e política enfrentada pelo país. Além de Bauru, Ribeirão Preto, Sorocaba, Guarulhos, Diadema, Osasco, Mauá, São José do Rio Preto, Campinas e São Bernardo do Campo lideraram o ranking de municípios que mais acolheram estes refugiados em cinco anos no Estado, atrás somente de São Paulo, que recebeu 5.090 venezuelanos.


Gráfico: JuhRehder

Este fluxo imigratório, associado à chegada de estrangeiros de outros países em dificuldades, como é o caso de Cuba, impulsionou uma mudança na tendência de redução do número de estrangeiros e naturalizados brasileiros tanto em âmbito nacional quanto municipal. Na cidade, o número de moradores nascidos em outro país, que era de 1.601 pessoas no ano 2000, caiu para 952 em 2010. Este contingente, no entanto, dobrou até 2022, totalizando 1.910 residentes, o correspondente a 0,5% do total de habitantes.

ORIGEM

Houve ainda alteração em relação ao local de origem destes indivíduos. Entre os que chegaram a Bauru de 2017 a 2022, 57% eram da América Latina e 15% da Europa. Já no Censo anterior, que considerou o movimento imigratório de 2005 a 2010, 2% haviam saído da América Latina e 18% da Europa.

Neste período, a crise econômica mundial desencadeada em 2008 forçou o retorno de dekasseguis que tinham ido trabalhar no Japão em busca de melhores salários e, em Bauru, eles representaram 69% do total de 763 moradores que saíram de outros países em cinco anos para morar na cidade.

Gerente de Estimativas e Projeções de População do IBGE, Marcio Minamiguchi destaca que, de forma geral, os fluxos advindos do chamado Norte Global são caracterizados pelo retorno de brasileiros que residiam no Exterior, enquanto o dos países do Sul são em sua maioria, pessoas estrangeiras. "No Censo 2010, Estados Unidos, Japão e Europa somados respondiam pela maior parte dos fluxos no Brasil e são localidades em que o perfil do migrante é de brasileiro retornado. Já em 2022, observamos a inversão dessa tendência histórica, verificada desde o censo 1960", frisa.

ACOLHIMENTO

Entre os imigrantes que desembarcaram em solo bauruense entre 2017 e 2022, além de Venezuela, os principais países de origem foram Cuba (47 pessoas), Costa Rica (39), Colômbia (22), Equador (20) e Peru (19). Alguns deles certamente foram atendidos no Programa de Orientação, Acesso à Documentação Civil e Atendimento ao Imigrante (Proadi), desenvolvido pela Cáritas Bauru por meio de convênio com a prefeitura.

No momento, a entidade tem acolhido predominantemente imigrantes oriundos da Venezuela, Colômbia, Togo e Cuba, conforme descreve a coordenadora Karla Andrade. "Muitos venezuelanos relatam que estavam passando fome, porque o preço dos alimentos está exorbitante. Normalmente, vem um da família, que trabalha bastante aqui para, depois, conseguir trazer a esposa, esposo, filhos ou irmãos. Então, os que estão vindo agora quase sempre já têm algum parente ou amigo na cidade", detalha.

Já entre os colombianos, a principal motivação do êxodo é a violência. "Alguns relatam que tinham pequenos comércios e eram roubados quase todos os dias. Além disso, existem as guerras entre facções, com impacto direto na população", pontua.

ARTICULAÇÃO

A Cáritas iniciou o trabalho de acolhimento de refugiados com a ajuda de voluntários. No início, chegou a ofertar aulas gratuitas de português a um grupo de venezuelanos, mas com aumento do fluxo imigratório em diversos países, formalizou convênio junto à Secretaria de Assistência Social por meio de chamamento público e passou a oferecer atendimento pautado no Sistema Único de Assistência Social (Suas), articulado com outras políticas públicas em áreas como saúde, educação, habitação e emprego.

"Conseguimos formar uma equipe profissional com psicólogos, assistentes sociais, educadores sociais e temos também uma advogada voluntária que oferece apoio jurídico a estas pessoas. Com isso, conseguimos fazer um acompanhamento mais sistemático, oferecendo desde documentação civil até o suporte para demandas humanas", frisa.

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