OPINIÃO

Peixeira ou caneta?

Por Cidinha Couto |
| Tempo de leitura: 2 min

Como uma legítima nordestina raiz, às vezes não falta aquela vontade de pegar a peixeira...

Mas o legado de seus pais nordestinos e a própria vida a ensinaram a ter coração bondoso e, por isso, nem quer usar a peixeira, pois quer manter-se longe de brigas de facas: ôxente!

Quando dá vontade de usar a peixeira, ela lembra muito bem da insistência e dedicação dos pais, semi-analfabetos, que investiram todos os seus esforços para que os seis filhos estudassem.

A vida, deu àquela nordestina arretada a oportunidade dos estudos.

E, então, ela descobriu que não precisa ferir com peixeira, mas, sim, que pode usar as palavras para expressar sua dor, indignação com a argumentação de um coração que sente e faz de tudo para mudar maldades e injustiças tentando defender, por meio das palavras, aqueles que precisam. Pode usar as palavras para levar esperança.

Diante de tantas injustiças, ela só quer ser justa. Mesmo que não ouçam, mas ela fala e traz dentro de si a esperança inabalável e, alguém um dia haverá de escutar.

Não pise no calo, assim ela diz; se pisar rodará a sergipana. A peixeira, diz ela, que está a amolar. Na verdade, ela afia as palavras que ora acaricia, ora lasca um tapa com luva de pelica para quem pensa que ela é trouxa.

Então, a nordestina descobriu que é melhor trocar a peixeira pela caneta. Ela passou a escrever, escrever, mas há quem não queira ler, talvez porque pense que saiba de tudo. Mas ela lembra: nessa vida não somos maiores ou melhores do que ninguém: aprendemos! E o estudo, não é para nos tornarmos detentores do saber, para amolestar ninguém, mas, sim: para ajudar alguém.

Como diria o pernambucano Paulo Freire, alguém cujas as ideias a sergipana se identificou em meio aos seus estudos: estudar, não é para oprimir ninguém, não é para tornar-se opressor que domina e sim para libertar, livrar a maioria da exploração para conquistar a conscientização e a libertação.

Ela trocou a peixeira pela caneta. Sábia troca! Ambas são armas, mas a caneta é mais poderosa!

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