Chega um momento da vida em que o barulho da casa diminui… mas o silêncio dentro da gente aumenta. A gente já não corre mais atrás de futuro, porque o futuro agora é hoje. Os filhos cresceram, e mesmo morando sob o mesmo teto, muitas vezes vivem em mundos paralelos. Sabem de tudo. Não pedem conselhos. Riem entre si de coisas que já não entendemos. E quando precisam… bem, aí sim lembram: "Pai, me leva ali? Pai, me empresta isso? Pai, dirige pra mim?" E a gente vai. Porque ainda somos pais. Porque amor não se aposenta. Mas existe uma solidão que não é ausência de pessoas. É ausência de escuta. É estar rodeado de quem amamos, mas não ter mais voz. Não como antes, quando um "olha pra mim" dos nossos filhos era o centro do universo. Hoje, parecemos figurantes no filme que ajudamos a escrever. Não é mágoa. É constatação. A vida muda. Os filhos seguem. E nós, muitas vezes, ficamos em uma espécie de bastidor afetivo — sempre prontos, sempre ali, mas pouco vistos. Não se trata de reclamar, nem de cobrar. Mas de lembrar: quem hoje está quieto, já gritou "vai, filho!" nas arquibancadas da vida. Quem hoje dirige em silêncio, já perdeu noites pensando no caminho que o filho deveria seguir. É apenas um lembrete: pais também envelhecem. E quando envelhecem, não querem muito. Só querem ser lembrados, ouvidos… e às vezes, abraçados sem motivo.
Porque, no fim das contas, quem deu amor por inteiro, só espera um pouquinho de volta.