
Vereadores da base e da oposição ao governo Suéllen Rosim (PSD) divergiram nesta segunda-feira (16) em declarações na tribuna da Câmara a respeito da problemática situação em que se encontra a saúde em Bauru.
O "jogo de empurra-empurra", como mencionou o oposicionista Júnior Lokadora (Podemos), vem na esteira de declarações da diretora do Departamento Regional de Saúde (DRS), Fabíola Yamamoto, indicando reflexo direto entre a baixa cobertura em atenção primária na rede municipal e a superlotação nas vagas hospitalares no âmbito estadual.
Lokadora vê contradição em declarações da prefeita Suéllen Rosim (PSD) e do secretário municipal de Saúde, Márcio Cidade Gomes, em torno da relação entre município e Estado - que sofre mal-estar desde o início do ano.
Em discurso na tribuna, Lokadora exibiu vídeo em que Márcio Cidade acusa o secretário estadual da Saúde, Eleuses Paiva, de não fazer o seu papel. "Eu acho que o doutor Eleuses não faz [a lição de casa] dele. Eu vou dizer o seguinte: quem não faz a lição de casa é o doutor Eleuses", disse o titular da Saúde municipal durante audiência com vereadores na semana passada.
A declaração de Cidade veio na mesma semana em que Suéllen minimizou, durante entrevista à TV Câmara, o estremecimento nas relações com o Palácio dos Bandeirantes.
"Eu defendo muito esse diálogo que temos com o governo do Estado, e o secretário já se colocou à disposição para a gente dialogar no que for necessário para a agilidade das vagas [de internação]", afirmou a prefeita.
Para Lokadora, ambos os entes têm responsabilidade sobre o problema na saúde municipal - mas cada qual tem de assumir seu papel. "Virou uma bagunça", criticou. "O município tem, sim, sua parcela de culpa. Não tem um hospital municipal, não cuida da atenção primária", mencionou.
Estudos mostrados pelo vereador na tribuna demonstram haver relação direta entre maiores investimentos na atenção primária e menor índice de internações posteriores. "As pessoas estão morrendo nas unidades de saúde e fica esse jogo de empurra-empurra", criticou.
Linha semelhante adotou Júnior Rodrigues (PSD) - que afirmou, contudo, que o DRS "lava as mãos" para o problema da saúde municipal. "Não vem dar desculpa da falta de gerência do DRS e dizer simplesmente que [o problema] vem da falta de cobertura primária", disse. "Se você pegar todas as cidades do Estado, verá que todas têm problemas na cobertura da saúde primária", emendou Rodrigues.
Na entrevista ao JC, Fabíola comparou a situação no município com Ribeirão Preto, onde o Estado mantém três hospitais. Naquela cidade, a cobertura de equipes do programa Estratégia Saúde da Família, por exemplo, supera 78%. Em Bauru, o número não chega a 57%.
O mesmo vale à retaguarda municipal em questões de baixa complexidade. Segundo Fabíola, o DRS não recebe pedidos de internação por bronquiolite, por exemplo, de municípios que mantém Santa Casa - entidade filantrópica conveniada - ou mesmo um hospital municipal, casos de Agudos ou Lençóis Paulista.
Para o vereador, porém, "a sra. Fabíola está arrumando desculpa para ela não conseguir mostrar a falta de resultado de trabalho". "As pessoas têm de judicializar [por vagas], não há bomba de insulina a diabéticos", criticou.
DUAS NOVAS UBSs
Em meio ao que parlamentares dizem há tempos ter se tornado uma "batata-quente" em torno da saúde municipal, o governo Suéllen Rosim (PSD) abriu duas licitações no último final de semana para contratar projeto e a própria construção de duas novas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) - uma no Parque Roosevelt e outra, no bairro 9 de Julho.
A informação foi anunciada pelo líder de governo na Casa, vereador Sandro Bussola (MDB), durante discurso na tribuna nesta segunda em que celebrou a abertura do certame - que classificou como "um grande passo".
"Gostaria de ver a do Tangarás e do [Parque] Manchester", cobrou o colega André Maldonado (PP).
Pacientes com alta, mas internados
O vereador Júnior Lokadora (Podemos) encaminhou representação ao Ministério Público de Bauru na qual denuncia que pacientes já em alta hospitalar seguem internados no Hospital Manoel de Abreu por ausência de acolhimento adequado da rede de assistência social. Segundo o parlamentar, a situação atinge 23 pacientes que, embora já não precisem da vaga de internação, permanecem na unidade hospitalar "ocupando vagas que deveriam ser destinadas a pacientes com necessidade de internação por critérios clínicos".
"A gravidade da omissão do poder público, seja na esfera municipal ou estadual é evidenciada pelas recorrentes notícias de mortes de pacientes aguardando vagas em hospitais de Bauru", criticou. O MP ainda vai deliberar em torno da denúncia do vereador.