Toda estrutura ou sistema tem um ponto fraco, quase sempre referido como “calcanhar de Aquiles”. Os dentes também têm e corresponde ao ponto de encontro entre o esmalte da coroa com o cemento da raiz. Justamente onde a gengiva se encontra com os dentes e os rodeiam. Este ponto de encontro é conhecido como junção amelocementária e forma uma linha que contorna esta parte do dente, conhecida como região cervical dos dentes.
No lugar que a mãe segurou no tornozelo, a água não criou uma película protetora, ficou ali uma janela ou gap exposto do corpo. Conta a lenda que, um dia antes da guerra de Troia, na cercania da cidade, Aquiles profanou o templo de Apolo, uma poderosa divindade. Irado, em plena batalha da invasão da cidade, no dia seguinte, Apolo direcionou uma das setas do inimigo para seu tornozelo, penetrando, impiedosamente, tirando-lhe a vida. Esta é quase a descrição da cena final do filme Troia, com Brad Pitt.
Era um trabalho com mais de cem anos, mas eu e LR Neuvald, uma orientada na pós-graduação, achávamos que não era bem assim, pois Choquet (1899) havia visto isto em cortes por desgaste ao microscópio comum, onde se via um corte apenas por dente.
O que faz a junção amelocementária ser um calcanhar de Aquiles? É incrível, mas os dentes são formados nos humanos às escondidas do sistema imunológico que reconhece tudo que for diferente ou estranho e tenha proteínas. O catálogo destas proteínas foi feito ainda na vida intrauterina e é usado pelos macrófagos para este reconhecimento de estranheza.
Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC.