Vivemos em um mundo onde a coerência é muitas vezes tratada como uma virtude suprema. Espera-se que nossas opiniões sejam constantes, nossas palavras sempre alinhadas com nossos atos, e nossas ideias firmes como rochas. Mas talvez, justamente aí, more um engano sutil: a crença de que não se contradizer é sinal de sabedoria.
A frase "só os idiotas não se contradizem" surge como um paradoxo provocador. Ela não elogia a incoerência por si só, mas aponta para algo mais profundo: a rigidez do pensamento é, muitas vezes, fruto da ignorância — ou da vaidade. O ser humano inteligente é aquele que duvida, que revisita suas ideias, que refaz caminhos. Ele é capaz de dizer hoje algo diferente do que disse ontem, não por fraqueza, mas porque aprendeu algo novo.
Mudar de opinião não é falta de caráter; é, muitas vezes, sinal de evolução. Quem nunca se contradiz pode estar preso a convicções vazias, sustentando certezas não por clareza, mas por medo do desconforto que é crescer. A verdade, afinal, não é estática. Ela se revela aos poucos, pelas experiências, pelo diálogo, pela escuta atenta.
Só os idiotas não se contradizem porque só eles acreditam que já sabem o suficiente. Não questionam, não duvidam, não olham de novo. E sem dúvida, não há aprendizado. A contradição é o respiro da mente viva, o atrito necessário para o pensamento se expandir.
Ser contraditório, nesse sentido, é ser humano. É ter coragem de se olhar no espelho e admitir: "eu mudei". E mudar, quando é fruto de consciência e crescimento, é sempre um ato de sabedoria.