
O Papa Francisco escreveu, no início de fevereiro, um prefácio comovente para o livro À espera de um novo começo. Reflexões sobre a velhice, do cardeal Angelo Scola, arcebispo emérito de Milão. A obra, publicada pela Livraria Editora Vaticana (LEV), chega às bancas nesta quinta-feira (24). O texto foi assinado em 7 de fevereiro, antes da internação do pontífice no Hospital Gemelli, em Roma, no dia 14 do mesmo mês.
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No prefácio, Francisco expressa admiração pela profundidade do conteúdo e afirma ter lido as páginas com “emoção”. Ele elogia o entrelaçamento entre experiência pessoal e sensibilidade cultural no texto de Scola, a quem descreve como um irmão de episcopado e um líder que ocupou cargos importantes na Igreja, como o patriarcado de Veneza e o arcebispado de Milão.
Francisco destaca que, embora o livro seja curto, é “muito denso” e merece ser lido e relido. O Papa se identifica com a forma como Scola aborda a velhice — sem eufemismos, chamando-se diretamente de “velho”. “Não devemos ter medo da velhice”, escreve o Papa. “Dizer ‘velho’ não significa ‘descartável’, mas sim sabedoria, discernimento, escuta, lentidão. Virtudes de que o mundo atual precisa muito.”
O pontífice também ressalta que a questão não é o fato de envelhecer, mas sim como se envelhece. Para ele, a velhice pode ser vivida com gratidão e fecundidade, mesmo diante das limitações físicas e do enfraquecimento. Ele cita o teólogo Romano Guardini para reforçar que essa fase da vida pode irradiar o bem.
Outro ponto de destaque no prefácio é o papel dos avós. Francisco reafirma sua convicção sobre a importância da presença dos mais velhos na formação dos jovens. “A sabedoria dos avós é um farol. Ilumina a incerteza e orienta os netos”, escreve.
O Papa também valoriza as reflexões de Scola sobre o sofrimento, a morte e a esperança cristã. Ele afirma que há ecos da teologia de Hans Urs von Balthasar e de Joseph Ratzinger (Bento XVI) no livro, descrevendo essa abordagem como uma “teologia feita de joelhos”, enraizada na oração.
A conclusão da obra, na qual Scola relata como se prepara para o “encontro final com Jesus”, inspira uma das frases mais marcantes do prefácio: “A morte não é o fim de tudo, mas o começo de algo. Um novo começo, porque experimentaremos a eternidade”.
Francisco encerra o texto com uma lembrança simbólica: o desejo de abraçar Scola com carinho, como fez quando vestiu pela primeira vez o hábito branco de Papa, em março de 2013. “Agora, ambos mais velhos, seguimos unidos pela gratidão a esse Deus que nos oferece vida e esperança em qualquer idade”, conclui.