
A história de Renato Pugliesi, 48 anos, se entrelaça com a da Ticomia, empresa da qual é sócio-fundador e que se tornou referência em festas de formatura no Brasil. Natural de Orlândia, o empresário chegou a Bauru em 1995 para cursar engenharia civil na Unesp de Bauru, onde reencontrou o irmão Mauricio Pugliesi e o amigo Marco Antônio Filho.
Com espírito empreendedor e de liderança desde jovens, o trio da República Ticomia iniciou a parceria para a organização de festas universitárias ainda na faculdade. Informal, a iniciativa ganhou força após a morte precoce do pai de Renato e Mauricio, que levou à decisão de profissionalizar o negócio.
Àquela altura, a Ticomia já era contratada para promover suas inovadoras festas de formatura e em casas noturnas, que chamaram a atenção da Levi's do Brasil. A partir dali, Renato trocou a engenharia pelo curso de administração, assumiu o departamento financeiro e a empresa decolou, tornando-se pioneira no modelo de franquias para eventos de formatura.
Atualmente, são 22 unidades com atendimento em mais de 300 cidades no Brasil. Morando em Winter Garden, na região de Orlando (Flórida), com a esposa Mariana e os filhos Guilherme, 13 anos, e João Pedro, 11 anos, Renato afastou-se momentaneamente da operação da Ticomia, mas, com tino para os negócios enraizado em seu DNA, faz planos para, no futuro, empreender em terras norte-americanas. Leia os principais trechos da entrevista.
JC - Como foi sua trajetória até chegar a Bauru?
Renato - Morei em Orlândia até 1991, quando fui fazer o colegial em Ribeirão Preto e, em 1995, fui cursar engenharia civil na Unesp, em Bauru. O Mauricio já fazia engenharia mecânica na Unesp desde 1992 e o Marco, que conheci na época em que eu estava em Ribeirão, passou junto comigo, mas em engenharia elétrica. A turma de engenharia do Mauricio já tinha feito a primeira festa da Ticomia em 1993, porque ele era presidente da comissão de formatura e organizava eventos em repúblicas para juntarem dinheiro. Depois, quando alcançaram o valor necessário para a formatura, ele decidiu continuar, mas ninguém mais quis e ele me chamou.
JC - O que aconteceu a partir daí?
Renato - O Marco também fazia festas com um amigo, o Marcel, e decidimos juntar forças, ainda na informalidade e com pensamento de que seria só por um tempo. Mas, no fim de 1997, perdi meu pai, vítima de infarto aos 57 anos e, em 1998, minha mãe me obrigou a fazer intercâmbio na Inglaterra para não ficar vivendo aquele luto. O Marco também foi, mas ficou seis meses em Cambridge e eu, quatro meses em Londres. Quando voltamos, o Marcel não quis continuar, então, nós três seguimos e, em 1999, o Mauricio, que era trainee da empresa de transporte de valores Brink's, foi chamado para ser gerente em Ribeirão Preto. O Marco e eu dissemos que iríamos continuar e ele decidiu arriscar, desde que nos profissionalizássemos, até porque meu pai era médico e minha mãe, professora do Estado aposentada. Ela não conseguiria manter o padrão de vida que a gente tinha. Então, a dor da perda nos trouxe amadurecimento.
JC - Ali foi o divisor de águas?
Renato - Foi. Àquela altura, já fazíamos festas de formatura, todas muito acima da média, além de festas no Kart, Quoruns, Camarim. E nosso nome chegou até o diretor de marketing da Levi's no Brasil, que quis conhecer nosso escritório. Mas não tínhamos escritório e corremos para alugar uma casa por um mês, demos uma arrumada, fomos contratados e fizemos uma festa top para a marca. Foi quando registramos o CNPJ e decidimos ficar no escritório para fazer o negócio das nossas vidas. Entendemos que precisávamos separar funções, então, o Marco assumiu a área comercial; o Mauricio, a produção; e eu, o financeiro. Aí, tranquei a faculdade no quinto ano e fui cursar administração de empresas na ITE, onde conheci minha esposa e me graduei em 2003.
JC - Como foi o processo de crescimento da empresa?
Renato - Os dois primeiros contratos de formatura foram de amigos nossos, mas crescemos de forma exponencial, primeiro na cidade e depois na região. Fomos ganhando corpo, fazendo formaturas de medicina, direito, engenharia. E começaram a ter pedidos do Rio de Janeiro, de Campo Grande, então, por questões logísticas, decidimos criar um modelo de franquia. Fomos os pioneiros no Brasil em franquias no setor de eventos de formatura e, atualmente, são 22 unidades, que atendem mais de 300 cidades no Brasil.
JC - Nestes 30 anos, a demanda dos formandos mudou muito?
Renato - Antigamente, o tempo para precisar mudar características do evento era maior, de quatro, cinco anos. Agora, com as gerações que nascem usando telas e têm muito acesso à informação, as demandas mudam mais de uma vez no mesmo ano, às vezes. Fazemos muitos espaços temáticos, então, um ano é Tomorrowland, outro ano é praia, hoje têm estudantes pedindo espaço Boteco sem Álcool porque cuidam mais da saúde. Então, quem está neste mercado sem estar conectado às tendências e preparado para se adaptar rapidamente está fadado ao fracasso.
JC - Por que decidiu morar nos Estados Unidos?
Renato - Como tive dificuldade com o inglês quando fiquei na Inglaterra, já tinha decidido que moraria fora quando tivesse filhos para eles aprenderem a língua. E viemos em agosto de 2021 para minha esposa também estudar inglês. As crianças se adaptaram rápido, mas tivemos que voltar nove meses depois porque minha sogra precisou colocar marcapasso. No mesmo dia, minha mãe teve pancreatite, ficou 54 dias na UTI e faleceu no meu aniversário. Então, ficamos até o fim de 2022 no Brasil. Como tenho visto de estudante nos EUA, estou impossibilitado de trabalhar na Ticomia, mas sigo no conselho da empresa. No futuro, pretendo obter o Green Card para empreender, porque é um país com muitas oportunidades e para o qual acredito que posso contribuir, mas sem deixar meus negócios no Brasil.