Ainda estou pensando sobre o que acho da notícia sobre o nascimento de Rômulo e Remo. Os dois filhotes de uma espécie extinta há 10 mil anos, o "lobo terrível", foram gerados a partir de fragmentos intactos de DNA e usando "barriga de aluguel".
A parte científica do ocorrido pouco me importa, na verdade. Desde o final da década de 1990, o nascimento da ovelha Dolly, clonada de uma célula de outra ovelha adulta, abriu a Caixa de Pandora capaz de fazer Jurassic Park deixar de ser obra de ficção. Até que demorou muito para finalmente vermos nascerem filhotes de uma espécie extinta há tanto tempo.
O que me intriga é todo o simbolismo que tal acontecimento traz. Principalmente por causa do nome dado aos filhotes. No mito da fundação de Roma, os gêmeos humanos Rômulo e Remo, foram amamentados pela Loba Capitolina e, assim, sobreviveram para que surgisse o império que gerou o mundo tal qual conhecemos hoje.
A famosa escultura em bronze da Loba Capitolina é considerada de origem etrusca e as figuras dos gêmeos humanos teriam sido acrescentadas posteriormente, já na Idade Média, para ilustrar mais claramente o importante mito fundante da civilização que originou a nossa.
Muito se fala do mito fundante bíblico - com mais semelhanças com o de Pandora - e pouco se fala do romano. Mitos fundantes são presentes na formação de um povo até mesmo para quem não os conhece.
E, no momento em que presenciamos o ocaso do Império Americano, nascem novamente Rômulo e Remo. Dessa vez, em vez de gêmeos humanos criados por uma loba, são lobos gêmeos criados por humanos. Será que essa inversão dos papéis não significa justamente a inversão dos significados de surgimento e ocaso de um conceito?
Muitas vezes pensei que o Império Romano nunca acabou, apesar da Idade Média e tudo que se seguiu. Ainda vivemos num modelo de civilização baseado nos conceitos romanos, como o próprio dinheiro (denário). Os novos Rômulo e Remo talvez tragam um novo modelo de civilização.