Enquanto filhotes são adotados em poucas horas, cães adultos e idosos seguem esquecidos, esperando por uma família que talvez nunca chegue. Adoção tardia, no Brasil, ainda é um tabu — e a consequência disso é a solidão silenciosa nos abrigos e departamentos públicos de proteção animal.

No Departamento de Bem-Estar Animal (DEBEA), cerca de 60 cães e 20 gatos adultos e idosos vivem em baias há anos. Muitos deles foram resgatados de situações extremas: vítimas de maus-tratos, de acidentes ou simplesmente abandonados em condição de vulnerabilidade nas ruas. Ainda assim, continuam invisíveis para quem busca um novo companheiro.

A maioria das pessoas busca filhotes, acreditando que só eles podem ser educados. Mas essa crença ignora o potencial dos animais adultos, que muitas vezes já conhecem comandos básicos e aprendem com mais facilidade. Mesmo assim, são ignorados.

Adoções com cachorros idosos são raras. ONGs e protetores relatam que é comum o mesmo animal participar de dezenas de feiras até ser adotado. Muitos morrem nos abrigos sem nunca conhecer o que é o amor de uma família. Ser resgatado das ruas ou de um lar abusivo não é o fim do sofrimento. Em muitos casos, o abrigo vira uma cela onde o animal sobrevive, mas não vive. Sem passeios, caminha, atenção ou carinho diário, ele permanece em um ciclo de espera sem fim.

Exemplo disso foi o caso recente dos "gauchinhos", cães resgatados das enchentes no Sul do país. Após comoverem o Brasil, foram rapidamente adotados, mesmo sendo, em sua maioria, adultos. Alguns deles vieram para Jundiaí e, em uma única feira, todos ganharam um novo lar. A diferença esteve na mobilização social. Eles foram vistos, tiveram suas histórias contadas; algo que falta aos animais que seguem esquecidos nos abrigos locais.

Um cão idoso, um adulto ou até mesmo um animal com deficiência pode ser tão afetuoso, alegre e encantador quanto um filhote. O que muda é o olhar de quem escolhe dar uma nova chance.