OPINIÃO

A rua das primas

Por Roberto Magalhães | O autor é professor de redação, autor de obras didáticas e ficcionais
| Tempo de leitura: 3 min

Quatorze anos. O corpo do Jotinha gritava exigindo mulher. O menino se resolvia do jeito possível. Era a Dulcineia acender a luz do banheirinho, ele trepava correndo na mangueira. No galho mais forte, apoiava as costas, firmando os pés em outro mais baixo. De lá, enfiava os olhos pelo vitrô para ver o corpo molhado da empregada gostosa sob o chuveiro. Então, sentindo a firmeza do galho, soltava a mão bem treinada em movimentos intensos até o gemido final. Assim era muito bom, mas queria mais. Queria ser homem de verdade dentro de mulher.

À noite, a molecada se reunia sentada no chão. Na roda, os meninos falavam de futebol, da escola, mas, principalmente, das meninas e do que faziam com elas. Agora, quando um deles contava que tinha ido à rua das primas, a tensão era total. A inveja doía fundo e todos queriam detalhes. Era o moleque começar a contar, o desejo ereto dos meninos ameaçava arrebentar o zíper da calça. Como o desgraçado conseguiu enfrentar aquelas mulheres assustadoras de boca pintada? Como negociou o preço da sacanagem? E a idade? Mentiu? E na hora que ela ficou pelada...?

Jotinha decidiu não adiaria mais. Tomou um banho caprichado, borrifou colônia no corpo, contou o dinheiro guardado e, suando frio, foi ao encontro das mulheres tentadoras. Na porta, nas janelas, nas calçadas, lá estavam elas. Um mínimo de roupa, pernas grossas, seios volumosos e biquinhos fazendo convites e provocações.

Então aconteceu o pior: "Como é, franguinho, vai querer cantar de galo, vem que eu vou levantar essa crista?" Jotinha odiou aquele "franguinho". Era isso o que ele era, um menininho tonto, um franguinho querendo bicar o que não podia. Sentiu-se humilhado, voltou apressado para casa.

Ao chegar, viu o banheirinho da Dulcineia aceso. Trepou no galho de sempre.Tão tenso estava, que escorregou. A árvore tremeu, um barulho assustador. Dulcineia, imediatamente fechou a água e meteu a cara no vitrô. O que teria acontecido? Teria ela visto a cena ridícula? Só quando ela apagou a luz, ele desceu e sumiu pelo quintal escuro. Esperou passar um tempo, depois voltou para o quarto. Sem fazer barulho, acendeu a luz e deu de cara com um bilhete no travesseiro. "Jota preciso falar com você. Estou te esperando. Não é amanhã não! Venha já!". O moleque gelou, agora me estrepei. Ela me viu, estou frito! Vou ou não vou? Acabou indo.

O quartinho da Dulcineia ficava no quintal. Três batidinhas tímidas e a porta se abriu. Sem dizer nada, ela agarrou o menino e passou a beijá-lo. Derrubou-o na cama e se jogou por cima dele. O moleque, gostando do que acontecia, enlouqueceu. Passou a morder e a beijar o corpo da morena. Foram muitos arranhões e gemidos até o prazer final.

Safadinho, era isso o que você tanto queria? Pensa que eu não te via na mangueira, gostosinho? Escuta bem, daqui pra frente, você vai ser o meu menino bonito, mas se abrir a boca pra molecada, a farra acaba. Entendeu? Agora, vai embora, que eu deixei o quintal escuro.

No quarto, o menino queria abrir a janela e gritar ao mundo: Sou homem! Agora sou homem! E gritou, mas com o travesseiro sufocando a boca pra ninguém escutar. Deitou e começou a relembrar tudo o que tinha acontecido. Quando percebeu, a mão já estava fazendo o que tão bem sabia. Amanhã, serei homem pela segunda vez.

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