OPINIÃO

Os passos


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A mecânica do caminhar ocorre pelo desequilíbrio provocado entre as duas pernas.

Ao desejarmos seguir, nosso corpo se lança em pêndulo sobre uma única perna. Esse desequilíbrio nos permite, momentaneamente, equilibrar-nos apenas sobre ela.

Uma vez desequilibrados, inclinamo-nos para a frente e direcionamos o desequilíbrio para onde desejamos ir. Para não cair, a perna livre se projeta nessa direção e nos apoia no chão. Em seguida, a perna anterior se solta, e assim conseguimos fluir.

Esse é o caminhar.

E o que seria o caminho?

Nessa visão, o caminho é o espaço físico projetado entre as pernas durante esse movimento pendular.

O caminho é esse espaço.

Ao lançarmos nosso peso sobre uma perna, tocamos a fronteira do caminho.

E ao ser tocado pela planta de nossos pés, o caminho se eterniza, pois jamais será pisado novamente nas mesmas condições. É o eterno presente.

Quando caminhamos rapidamente ou corremos, os movimentos se sincronizam em um balé de fluxos e toques.

As Pegadas do Caminho

Podemos até imaginar que, por alguns milésimos de segundo, entre uma passada e outra, ambos os pés estejam livres, suspensos no ar, sem contato com o solo.

Esse seria o momento máximo de fluxo suave e sincronizado, de plena presença no caminho - fluindo sem agredi-lo, apenas se conectando a ele.

O solo e a planta dos pés são as fronteiras do caminhar.

Sabemos que grandes homens pisaram neste solo. Muitos deixaram marcas; outros, por sua pressa e falta de presença, sequer sentiram o chão sob seus pés - simplesmente passaram.

Quando Maria Madalena viu Jesus se aproximando com os seus, à primeira vista, exclamou:

"Nunca vi um homem tocar o solo desta maneira."

E o seguiu.

Este solo é sagrado. "Tira as sandálias", foi a primeira fala do encontro com o Sagrado e o Profeta.

Podemos flutuar, voar e seguir nosso caminho - passo a passo, sem agressões nem tropeços.

Basta desequilibrar-se e colocar um pé à frente do outro.

E, como diz o profeta: "A cada passo, uma prece pela oportunidade de andar livremente."

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