O presidente Lula quer encontrar uma explicação para o preço do ovo, mais caro. Segundo ele, não viu nenhuma galinha pedindo aumento para o seu produto. O governo está trabalhando para descobrir quem é o "pelintra" que provocou o aumento no preço do ovo neste país.
A preocupação de Lula nos remete ao eterno dilema: Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? A resposta ao líder petista já foi dada pelos economistas que garantem que ele não vai "descobrir o ladrão que passou a mão no direito do povo brasileiro de comer ovo". A culpa é da lei da oferta e da procura, que não se revoga. O preço do ovo subiu mais de 15%, somente no mês passado.
De acordo com o IBGE, a demanda pelo produto cresceu com a volta às aulas; por causa das exportações devido a problemas com a gripe aviária nos Estados Unidos, além do calor que inibe a produção das poedeiras.
Minha mãe ensinava que na Quaresma as galinhas botam menos. Seria uma ordem emanada do céu para dificultar que os católicos quebrem o jejum trocando de proteína. Já que não se pode comer carne, vamos encher a barriga de arroz com ovo - seria o raciocínio dos católicos, mas não tanto.
Lula gosta do prato que, antigamente, não faltava na marmita do operário da construção, como conta em versos ritmados o samba de Adoniran Barbosa. Na verdade, é apenas o calor deste final de verão que prejudica a postura.
O Brasil também não é lá um país granjeiro. Produzimos menos de 60 bilhões de ovos, em quinto lugar, depois da China com 613 bilhões, Índia, Estados Unidos e Indonésia.
Lula está com o ovo atravessado. Sem razão. A principal causa inflacionária é o próprio governo que não consegue o equilíbrio fiscal. A última alta dos preços, de 1,31%, é a maior para o mês de fevereiro desde 2003, ou seja, em 22 anos.
O ovo não pode pagar o pato (ou a galinha) sozinho. Subiu a energia elétrica residencial (16,8%), as mensalidades escolares, a gasolina, o café moído (10,77%) e "tutti quanti". O cenário mostra desafios para o combate à inflação, o que reforça a perspectiva de alta na taxa de juros (Selic), pelo Banco Central.
O presidente Lula quer uma solução rápida para a carestia dos alimentos. Liberem as importações. Zerem as alíquotas. O ano eleitoral se aproxima e, em 2026, o destino de Lula será decidido em um embate dos mais difíceis com os alinhados à direita. Com Bolsonaro ou sem ele.
E o problema do surgimento do ovo ou da galinha em primeiro lugar? Este já foi solucionado por cientistas suíços. O ovo apareceu primeiro, resposta embasada na velha Teoria da Evolução. A galinha veio dos dinossauros que eram ovíparos a 300 milhões de anos. Com os seres humanos está tudo certo. Somos vivíparos, isto é, nascemos do desenvolvimento embrionário dentro do corpo materno.
A conclusão darwiniana contraria a Bíblia. Segundo o Gênese, no quinto dia Deus criou todas as aves, abençoou-as e disse: "Sejam férteis e multipliquem-se." E elas chocaram os primeiros ovos. O ovo de Páscoa, que também encareceu e diminuiu de tamanho, é o símbolo do renascimento, renovação e alegria. Ponto de partida da vida, significando a Ressurreição de Jesus.
Diz Clarice Lispector em um dos seus contos, que "o ovo é a cruz que a galinha carrega". A poedeira ama o ovo, está destinada a protegê-lo e livrá-lo dos predadores. Nascem os pintainhos e ela, a galinha, os têm sob as asas até que se encorpem. E daí ela volta a botar.
Uma vida filosoficamente diferente do existencialismo de Sartre. Segundo o pensador francês, as pessoas criam significados para suas vidas através de suas ações e decisões, não pela busca de verdades universais, como é o ovo, uma célula única.
Conta-se que duas galinhas conversavam: - "Por que o seu ovo é mais caro do que o meu". Observava a outra: - "Ora, porque o meu ovo é maior do que o seu. Trate de aumentá-lo". "Eu não - respondeu com ares de indignação. Vou machucar a minha cloaca por dez centavos a mais?!"
O autor é jornalista e articulista.
