OPINIÃO

Depois do Oscar, falta o Nobel

Por Zarcillo Barbosa |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é jornalista

O Oscar atribuído ao filme "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, serviu para levantar o orgulho dos brasileiros, e também para mostrar ao mundo que o gigante deitado, respira. Adélia Prado, que em seus poemas costuma refletir a complexidade e contradições da vida, disse uma vez que todo prêmio vai além daquele bem inicial. Porém, quando o premiado carrega um país inteiro junto, fica difícil manter a racionalidade. Comovente o esforço de Fernanda Torres para conter as manifestações nas redes sociais, que ofenderam as suas concorrentes.

A atriz espanhola Karla Sofía Gascón, a transexual estrela de "Emília Pérez", teve que pedir ajuda a Fernanda Torres para conter o ódio dos brasileiros. A artista brasileira, sempre elegante nas suas declarações, implorou pelo fim dessa rivalidade criada e que serviu de estopim à controvérsia.

Na noite do Oscarnaval, Fernanda, novamente, disse esperar do público brasileiro o reconhecimento dos méritos da sua colega Mickey Madison, de 25 anos, a atriz potente e madura em "Anora", de Sean Baker. Foi a mais votada e recebeu o prêmio. Palmas para ela. Erotismo e sexo já foram temas de outros filmes premiados, como "Taxi Driver". Quem assistiu aprovou o trabalho da então jovenzinha Julie Foster, como prostituta explorada e massacrada pelo gigolô. Em Anora, Mickey foi incumbida de papel semelhante, e convence pela inocência de anjo caído, mas que também sabe ser esperta ao cobrar "taxa de feriado" dos clientes.

A noite do Oscar, na TV Globo, teve a maior audiência dos últimos 20 anos, no gênero. Perdeu por apenas um ponto para o desfile das escolas de samba do grupo especial. Havia mesmo um clima de Copa do Mundo. O Brasil é carente de heróis. Rebeca Andrade e suas medalhas olímpicas ainda é pouco para um país tão grande e diverso. A consagração de Walter Salles e Fernanda Torres ajudam a nos livrar daquele complexo de vira-latas nascido com a Copa perdida em 1950.

A euforia, quando extravasa, chega ao ridículo. Como aquele gritinho dado pela apresentadora Ana Furtado ao entrevistar Selton Mello pela TNT: "Chupa essa, Argentina!" O intérprete de Rubens Paiva em "Ainda estou aqui", ficou constrangido. O autor do livro, Marcelo Rubens Paiva, achou "Desnecessária. Totalmente sem noção" a dis-torcida da apresentadora diante da câmera. O cinema argentino é merecedor de todo respeito, não pela vizinhança, mas pela qualidade. Teve oito indicações ao Oscar, desde 1948. Levou duas vezes a estatueta pelo Melhor Filme Internacional. Em 1986, ganhou com "La Historia Oficial", sobre os desaparecidos durante a ditadura militar, lá deles. Em 2010, voltou a vencer com o primoroso "O Segredo dos Seus Olhos". A esperança é que o nosso primeiro Oscar, abra as portas para o cinema nacional.

Em 1960 deveríamos ter ganho o Oscar com "Orfeu Negro", filme gravado no Brasil, com atores brasileiros, falado em português, baseado numa peça de Vinicius de Moraes, música de Tom Jobim e... a França, país do diretor, levou a estatueta.

Em compensação, em 1963 "O Pagador de Promessas", dirigido por Anselmo Duarte, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Somos tetracampeões no futebol, mas ainda nenhum brasileiro foi contemplado com um Prêmio Nobel. A Argentina tem cinco laureados, dois com o Nobel da Paz, dois em Medicina e um em Química. O Chile tem dois, com Gabriela Mistral e Pablo Neruda, em Literatura. A Colômbia ganhou com Gabriel García Márquez, a Guatemala com Miguel Angel Astúrias. O México tem laureados com o Nobel da Paz, de Literatura (Octavio Paz) e de Química.

No Brasil, sempre faltam verbas para pesquisas. Deveríamos ter ganho o Nobel de Física, em 1950, quando César Lattes provou a existência da partícula atômica Méson-pi. À época, levava o prêmio o chefe da equipe. A láurea ficou para o inglês Cecil Power, responsável pelo laboratório de Bristol, Inglaterra.

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