OPINIÃO

Luís Angústia e o Pós-Moderno

Por José Carlos Brandão |
| Tempo de leitura: 2 min

Dez anos antes de Adorno proclamar a morte da modernidade, dizendo que o moderno ficou fora de moda, Carlos Drummond de Andrade escrevia: "E como ficou chato ser moderno. /Agora serei eterno." Brincadeira do poeta? Talvez não haja outro símil de pós-moderno melhor que o eterno, ou o caos. As sensações atropelam-se. Um texto é outro texto, não há medida, não há limite. Eu sou o outro, diluo-me no outro. Nações? Uma dilui-se na outra. O universo, não apenas o planeta Terra, é uma grande empresa a ser administrada. O lucro é o único objetivo. Não é o eterno, mas é o caos.

No princípio era o caos. Não se pode ter uma definição de eterno sem se pensar em caos. São irmanados. Xifópagos. Não há luz, não há nada. Escuridão, convulsão, caos. O espírito de Deus pairando sobre as águas. Não havia Deus, não havia águas. O espírito? O caos. No princípio de tudo está o caos. "Uma flor que se fana", diz o poeta, em "Eterno" (de "Fazendeiro do Ar", 1954), "mas se soube florir." No momento da floração. No instante preciso em que a flor se torna flor, é eterna. Antes ou depois, é o caos. A flor paira no caos. A flor ou o eterno.

Matar e morrer, a única realidade. Se eu sou o outro, posso matá-lo. Tenho direito à sua vida, e a suas posses. To be or not to be? Possuir. Ser é apenas um instante. Intuir. Eu sou uma intuição. O outro em si não existe, a massa. Uma massa amorfa esperando o padeiro que lhe dê a forma. O big brother. É demais, o big brother. Mais fácil se aceitar um big bang. Imputar esse qualificativo a um Luís da Silva qualquer, é demais. O Luís da Silva de Angústia, do Mestre Graçiliano. Mais um Luís angustiado. É mais um nordestino. Antes de Luís Ignácio, o Lula. Um Luís Angústia.

Com a sua resiliência, com a sua força nordestina. Big brother é uma fatiota que cai bem num Hitler, num tal de Sam. Fatiota de espantalho. Que fique com esses espantalhos. Que se vistam com os trapos negros, o Hitler, ou coloridos, o Sam. "O relógio no pulso é nosso confidente", diz o poeta. Um minuto, e não mais existiremos. Um segundo, e a volta ao caos. Nós ficamos com o nosso Luís Angústia. Nós boiamos no caos, no limite imperceptível entre nada e coisa nenhuma. À espera de "que a precisão urgente de ser eterno boie como uma esponja no caos/e entre oceanos de nada/gere um ritmo", conclui o poeta.

Nós somos apenas irmãos, Luís Angústia. Neste mundo pós-moderno acabaram-se as diferenças, somos todos iguais; fomos nivelados muito por baixo, esquecemo-nos mesmo do humanismo, mas somos iguais. Não pode haver ninguém mais igual; a angústia é a mesma.

Quando quisermos respostas, quando quisermos soluções, olhemo-nos no espelho, Luís Angústia. Ali estará estampada a nossa face, a face da angústia.

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