OPINIÃO

Ainda sobre análise econômica

Por Caio Coube | O autor é empresário, colaborador de Opinião
| Tempo de leitura: 4 min

O meu artigo em que analiso o resultado dos principais indicadores econômicos em 2024 foi contestado pelo economista Reinaldo Cafeo em um dos seus artigos semanais publicado em Opinião.

Cafeo afirmou "que quem é leigo no assunto é incapaz de enxergar o filme e ver apenas o retrato". Apesar desta minha limitada visão, volto a destacar o bom resultado do crescimento do PIB, 3,5%, o maior dos últimos 10 anos, e o índice de desemprego, média do ano 6,6%, o menor dos últimos 12 anos.

Para minimizar o crescimento do PIB, Cafeo afirmou que "crescimento sem justiça social só aumenta as desigualdades sociais" e citou como referência o período do milagre econômico ocorrido no governo militar.

Prezado leitor, prezada leitora, se existe alguma coisa que mudou para melhor no Brasil nos últimos 50 anos foi a redução das desigualdades sociais. A evidência mais contundente de caráter econômico é o valor atual do salário mínimo, em torno de 265 dólares, comparado ao salário mínimo dos anos 70, em torno de 80 dólares. Isso sem mencionar os programas sociais de transferência de renda que contribuíram para a redução do número de brasileiros que vivem na pobreza.

A taxa de desemprego é outro indicador desprezado por Cafeo em seu artigo, que coloca ênfase no número de trabalhadores informais. A população economicamente ativa sempre foi formada por trabalhadores com registro em carteira (celetistas) e por trabalhadores informais (sem carteira assinada). Recentemente, surgiu um outro grupo denominado MEI (microempreendedor individual).

O número de novos empregos com carteira assinada em 2024 foi de 1,7 milhão. O aquecimento do mercado de trabalho favorece o trabalhador, o que contribuiu para o atingimento do maior valor da renda média (R$ 3.225). Os dados são do IBGE.

O principal problema da economia brasileira é o resultado fiscal.

A inflação, outro indicador mencionado em meu artigo, em 2024 foi de 4,83%. É fato que a inflação de alimentos, a que mais pesa no orçamento das famílias, foi de 8%. O café (40%), a carne (20%) foram os itens com maior crescimento de preços. Em ambos os casos o aumento dos preços está relacionado a particularidade de cada um dos mercados. Frustração de safra no caso do cafe' e abate de matrizes, fenômeno conhecido como " ciclo do boi" , no caso da carne.

Não há duvida que todo governo deve estar muito atento à inflação. O controle da inflação, que significa preservar o poder de compra da moeda, é responsabilidade do Banco Central. Para executar esta tarefa o Banco Central monitora o comportamento dos preços de diversos segmentos da economia. Constatada uma alta generalizada de preços que comprometa o atingimento da meta estipulada para a inflação, o Banco Central aumenta a taxa de juros para esfriar o consumo e brecar a alta de preços. Em linguagem popular, o aumento da taxa de juros é o "remédio" que o Banco Central usa para controlar a inflação.

Como todo remédio produz efeito colateral, a elevação da taxa de juros torna o crédito mais caro para pessoas físicas e pessoas jurídicas e diminui o potencial de crescimento da atividade econômica. A taxa de juros hoje no Brasil está em um ciclo de alta é de 13.25% ao ano.

E também como mencionei no artigo anterior, o Brasil vem apresentando resultado fiscal negativo (déficit) desde 2014. Este período de resultados negativos foi antecedido por um longo período 1995/2013 de resultado positivo (superávit). Estes déficits constantes são financiados pela emissão de títulos do governo e aumentam a divida pública.

A métrica para a avaliação do resultado fiscal é o índice percentual do valor do déficit/superávit em relação ao valor do PIB. O déficit em 2024 foi de 0,36%, equivalente a R$ 44 bilhões. Deste valor, R$ 8 bilhões são relativos a prejuízo das empresas estatais, especialmente dos Correios, cujo resultado negativo foi R$ 3 bilhões. É evidente que empresas estatais devem ser privatizadas, e o Estado deve concentrar suas atividades nas áreas essenciais - Saúde, Educação, Promoção Social e Segurança.

2025 está apenas começando e as expectativas em relação ao resultado dos principais indicadores econômicos é grande. Os economistas são experts em fazer previsões, mas nos últimos tempos eles mais erram do que acertam.

Como o palpite é livre, vou dar o meu.

O crescimento do PIB será menor em razão do aumento da taxa de juros que deve reduzir o consumo. A previsão, hoje, é de 2,0%. O desemprego continuará baixo, próximo do patamar atual de 6,6% (média do ano). A inflação deverá fechar o ano em 4,5%, que é o limite superior da meta estipulada pelo Banco Central.

#O resultado fiscal previsto pelo Ministério da Fazenda é déficit zero, ou seja, um empate entre receita e despesa.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sabe da importância e é comprometido com o equilíbrio fiscal.

Nesta jornada, Haddad tem enfrentado o fogo amigo de alguns membros do seu partido e tem se esforçado para convencer o presidente Lula da necessidade de o Brasil voltar a apresentar superávit fiscal e com isto aumentar a confiança dos agentes econômicos no crescimento da economia.

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