
A empregabilidade em Jundiaí reflete tanto oportunidades quanto desafios. Segundo dados do IBGE, no último dado atualizado (2022), a média salarial dos trabalhadores formais na cidade foi de 3,3 salários mínimos. No entanto, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o setor industrial foi o que mais gerou empregos no ano passado, evidenciando uma desigualdade salarial: enquanto alguns trabalhadores recebem remunerações acima da média, muitos ainda enfrentam dificuldades para alcançar um salário digno.
Dagoberto Antunes Mota Duarte conhece bem essa realidade. Casado e pai de três filhos, ele está desempregado desde setembro do ano passado e busca recolocação nas áreas de Transporte, Logística e Gestão. "Meu currículo é abrangente e minha experiência me permitiu enfrentar diversos desafios, sempre buscando conhecimento", conta. No entanto, ele relata dificuldades no processo seletivo, principalmente com a filtragem automatizada de currículos. "Muitas empresas utilizam inteligência artificial para a primeira triagem e, se o currículo não atende a certos critérios, já é descartado", afirma.
A gerente da Nova RH, Janaína Lemes, destaca a importância de um processo seletivo bem conduzido e da postura dos candidatos. "Jundiaí vive há anos um superaquecimento no mercado de trabalho, com muitas vagas tanto para áreas operacionais quanto administrativas. Os processos seletivos hoje são muito ágeis e rápidos, então o candidato precisa ficar atento às oportunidades e disponível para o contato das empresas", explica. Ela também alerta sobre a importância de manter os dados atualizados. "Parece bobagem, mas o número de pessoas que não retornam o contato para oportunidades de emprego é enorme."
Dagoberto também aponta outra dificuldade comum entre candidatos: a falta de retorno das empresas. "Fiz uma entrevista, fui bem avaliado e até iniciaram o processo de contratação, mas, de repente, deixaram de me responder. Sem qualquer explicação", relata. Esse tipo de situação é frequente e impacta a confiança dos profissionais na busca por emprego.
Para Janaína Lemes, além da qualificação técnica, o que realmente faz diferença na contratação é o comportamento do candidato. "Ele se destacará através de sua postura, atitudes e comprometimento. Não adianta ser excelente tecnicamente se não tiver um comportamento adequado. Demonstrar interesse, ser honesto e comprometido são fatores essenciais", afirma.
Em Jundiaí, o Portal Jundiaí Empreendedora tem sido um canal essencial para a intermediação entre empresas e candidatos, oferecendo oportunidades atualizadas diariamente. De acordo com Maria Aparecida Gibrail, diretora do Departamento de Fomento ao Comércio e Serviço, as vagas mais procuradas no momento são para auxiliar de limpeza, linha de produção e logística.
Apesar da grande oferta de vagas, a dificuldade na conexão entre empregadores e trabalhadores persiste. Muitas empresas relatam a escassez de mão de obra qualificada, enquanto candidatos, como Dagoberto, enfrentam barreiras na busca por emprego. Além disso, questões como acesso à internet e dificuldade em utilizar plataformas digitais também limitam a inclusão de trabalhadores de bairros mais afastados e em vulnerabilidade social no mercado formal.
Para enfrentar esses desafios, a Prefeitura de Jundiaí tem aproximado as oportunidades das comunidades por meio dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). "A ideia é levar capacitação até os bairros, oferecendo cursos de especialização como cabeleireiro e cuidador de idosos, que não exigem escolaridade alta e podem gerar renda rapidamente", explica Maria Aparecida.
Realidade do país
Os trabalhadores brasileiros receberam, em média, cerca de R$ 3.225 por mês em 2024. Esse foi o rendimento real habitual de todos os trabalhos registrado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE. Em São Paulo, o rendimento médio anual é de R$ 3.907.
O mercado de trabalho no Brasil também apresenta contrastes. Em 2024, a taxa de desemprego atingiu 6,6%, a menor desde 2012. No entanto, a informalidade ainda atinge 39% dos trabalhadores. Gustavo Ferreira, outro trabalhador , encontrou no empreendedorismo uma saída temporária: vende doces feitos por sua esposa para complementar a renda. "Ganha mais do que no meu emprego anterior, mas meu objetivo é voltar ao mercado formal", conta.
Enquanto a empregabilidade em Jundiaí segue aquecida, os desafios para a recolocação ainda são reais. Para muitos candidatos, como Dagoberto, o caminho até o emprego passa por superar barreiras tecnológicas, burocráticas e comportamentais, além da necessidade de um processo seletivo mais transparente e inclusivo.