
Cemitérios de Bauru vivem uma crise dramática de gestão. Inúmeras reclamações de famílias se somam também à problemática série de furtos que os locais enfrentam. O caso deve dar margem a uma audiência pública a ser agendada a pedido da vereadora Estela Almagro (PT).
Dois vídeos publicados pela parlamentar na semana passada dão uma dimensão do problema. No primeiro, que foi às redes na terça-feira (21), a petista mostrou o caso de Richard Ferreira, que por pouco não conseguiu enterrar a própria mãe, Neusa, porque o jazigo construído no cemitério Cristo Redentor era demasiadamente pequeno.
As medidas já haviam sido repassadas pela família durante o período da manhã, horas antes do enterro. "Assim que o coveiro abriu o porta-malas ele falou 'Nossa, é gordo, e gordo é para lá'", afirmou Richard durante a gravação. "E não quiseram arrumar", critica, sugerindo também que pessoas maiores são enterradas em outro canto do cemitério.
Os próprios familiares conseguiram uma marreta e quebraram o jazigo para aumentar o tamanho do túmulo. O caixão acabou enterrado de lado, e não na horizontal. Em nota, a Emdurb, responsável pela gestão dos cemitérios, confirmou que "os túmulos dos cinco cemitérios municipais possuem um padrão e quando há necessidade de caixões maiores, existe um outro local apropriado que atende essa demanda". O caso ganhou repercussão e outras famílias procuraram a parlamentar ao longo da semana. É o caso de dois munícipes, Dalva e Marcos (os sobrenomes não foram divulgados), cujos caminhos se cruzaram depois que Mauro a procurou para informar que o irmão dela, Marcos, fora enterrado no túmulo de um familiar dele.
"A degradação do estado de conservação dos campanários administrados pela Emdurb demonstra a ineficiência da gestão da empresa pública causando transtornos à população", escreveu Estela nas redes sociais. Os dois casos não são isolados e há também questionamentos sobre a gestão de necrópoles até mesmo no Poder Judiciário. Duas ações localizadas pelo JC evidenciam isso.
Em uma delas, um morador processou a Emdurb pedindo indenização por dano moral depois que foi visitar seu pai, enterrado no cemitério da Saudade, e percebeu que o jazigo havia sido violado. Ao buscar informações, descobriu que os ossos foram enviados a um ossuário - ninguém o informou da data que isso aconteceu.
Após uma série de questionamentos, porém, a Emdurb teria dito a ele, segundo o processo, que localizou a ossada e que havia realizado novo sepultamento no cemitério do Redentor. Isso foi feito, de acordo com os autos, "sem o acompanhamento de qualquer membro da família e sem qualquer exame que comprovasse que aquela ossada de fato do pai do munícipe".
Em outro caso, uma idosa acusa na Justiça a Emdurb dizendo que a empresa pública deu fim a um jazigo perpétuo que adquiriu em 1970 quando seu filho de apenas seis dias morreu. Ela teria descoberto o caso depois que perdeu um segundo filho, vítima da Covid-19, em 2021, e precisou retirá-lo da vala assistencial para enterrá-lo no mesmo lugar em que o primeiro havia sido sepultado. "Ocorre que, para sua surpresa, sequer fora localizada a sepultura do filho Aparecido em Tibiriçá, o que gerou na autora choque e intenso sofrimento. Vale destacar que na época (1970) a família adquiriu o jazigo perpétuo e, desde então, não ocorreram outras mortes na família, de forma que nenhuma pessoa fora enterrada desde aquele óbito", afirmou a idosa na ação.
Ao JC, a Emdurb admitiu os problemas mas disse que trabalha para solucioná-los. "Desde o início da gestão os cemitérios vem recebendo manutenção, como a pintura das salas velatórias do cemitério da Saudade", afirmou. A empresa pública disse também que "vem conversando com a Secretaria de Obras para juntos realizarem melhorias em todos os cemitérios, dependendo da necessidade de cada um, principalmente na questão de segurança". No Cemitério da Saudade, por exemplo, já foi implementada vigilância 24 horas.
Sobre os ossuários, a instituição afirmou que os modelos atuais são antigos e que já está prevista a troca dos equipamentos. "A Emdurb está substituindo esses ossuários pelo modelo vertical, que agiliza a procura quando e evita esse tipo de situação", disse.