
O número de casos de dengue aumentou em Bauru em 2024, na comparação com o ano anterior, mas a quantidade de mortes causadas pela doença ficou abaixo das provocadas pela Covid-19. Segundo o painel do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) do governo do Estado, 15.798 pessoas foram diagnosticadas com dengue no ano passado no município, 10% mais que os 14.375 casos somados em 2023.
Já o número de vítimas fatais diminuiu de 14 para 11 pessoas. Até o início de 2025, um óbito e 135 casos suspeitos, cujos sintomas começaram no fim de 2024, ainda estavam sob investigação.
Diferentemente da dengue, o volume de notificações de Covid-19 caiu mais de 40% em um ano, conforme mostram as estatísticas do Ministério da Saúde. Em 2024, foram 3.071 registros e 23 óbitos, ante a 7.195 casos e 42 mortes no ano anterior.
O cenário de Bauru diverge do verificado em território nacional, visto que, conforme o MS, a quantidade de óbitos causados pela a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti superou o índice de mortes pelo novo coronavírus: foram 6.041 e 5.960 registros, respectivamente.
Para o médico infectologista Marcelo Pesce, a expressiva queda do volume de casos de Covid-19 em Bauru resulta do aumento progressivo de subnotificações, à medida que a população se acostuma com a circulação do vírus, diferentemente da dengue que, mesmo em sua manifestação mais branda, tende a debilitar significativamente o doente.
"Como as pessoas com sintomas de dengue procuram muito mais os serviços de saúde, a probabilidade de os casos serem notificados é muito maior. Já boa parte de quem tem as formas leves de Covid enfrenta hoje a doença de forma mais tranquila. Compra o teste na farmácia ou nem faz o exame, toma um analgésico e segue a vida. Então, estes casos ficam sem notificação", analisa, acrescentando que, diante desta realidade, não é possível afirmar, considerando a proporção de casos registrados e mortes, que a Covid foi mais letal do que a dengue em Bauru nestes últimos anos.
NOVO CENÁRIO
Já em relação à dengue, o cenário é um pouco mais preocupante, visto que o período e as regiões de transmissão da doença vêm se modificando rapidamente, na esteira das também velozes mudanças climáticas. Isso porque o aumento da incidência de chuvas proporciona o acúmulo de água necessário para a intensificação da proliferação do Aedes. Some-se a isso o calor intenso, propício para que os ovos eclodam, dando origem a milhares de novos mosquitos.
São alterações que, conforme destaca Pesce, também favorecem a elevação de pessoas infectadas por chikungunya e zika, outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. "O comportamento da dengue está um pouco diferente do que os próprios especialistas previam, com aumento de casos no País inteiro, incluindo regiões que não era muito comprometidas, como o Sul, e países onde não havia a doença e passaram a ter, como a Argentina e os Estados Unidos. Da mesma forma, outros agentes infecciosos se espalhando, como os vírus oropouche e mayaro, produzem um cenário que precisa ser estudado de forma mais detalhada", completa.
Expectativa
O futuro incerto ganha contornos ainda mais preocupantes frente à baixa adesão às vacinas. A da dengue, por exemplo, é aplicada em duas doses em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, faixa etária que concentra o maior número de hospitalização pela doença. E, das que tomaram o imunizante em 2024, mais da metade não havia retornado para receber a dose adicional até o fim do ano."Além disso, o laboratório Takeda, que produz esta vacina, não tem capacidade para atender toda demanda. Agora, está havendo uma negociação para a Fundação Oswaldo Cruz começar a produzir esta vacina no Brasil por meio de um acordo de transferência de tecnologia. Existe ainda a vacina do Instituto Butantã", comenta o médico infectologista Marcelo Pesce. Esta última é de dose única e 1 milhão delas poderão ser produzidas e distribuídas ainda em 2025 no Brasil, com ampliação gradativa dos grupos prioritários, se for aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e incluída no calendário nacional de vacinação.
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