OPINIÃO

Sem licença para matar

Por Zarcillo Barbosa |
| Tempo de leitura: 3 min

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos, SP), reconheceu que "estava totalmente errado ao criticar a adoção de câmeras corporais por agentes da PM durante operações". Prometeu manter o programa de câmeras e ampliá-lo. Durante a campanha eleitoral ele havia dito que acabaria com os equipamentos acoplados aos uniformes dos PMs.

Quem sabe diminuam os casos de "erro emocional" como o do policial que jogou um homem de uma ponte. Talvez não se repitam com tanta frequência fatos iguais ao do estudante de Medicina morto desarmado e do homem de 26 anos que levou onze tiros pelas costas por furtar sabão em um supermercado.

As câmeras, na maioria das ocorrências, estavam desligadas por concessão do governador e as denúncias se comprovaram com imagens de terceiros. O secretário da Segurança de Tarcísio é um ex-policial, Guilherme Derrite (PL), que já foi deputado federal e figura influente na "bancada da bala". Ficou famoso por declarar que considera uma vergonha qualquer policial que, com cinco anos de serviço, tivesse matado menos de três pessoas.

Está mais que provado que o comando leniente com a truculência torna os policiais mais violentos por se sentirem livres para agir sem freios. James Bond tinha "licença para matar", mas só no cinema e nos livros de Ian Fleming.

Mesmo assim, o espião teve sua licença cassada pelo governo de Sua Majestade Britânica, quando o número de mortos em seus filmes chegou a 453. Acobertado pelos superiores, o protagonista passou a fazer justiça com as próprias mãos e da forma que entendia ser justiça. Para 007, é justo matar e se a lei não concede tal licença, às favas com a lei.

Há cerca de quatro anos, o governador do Rio Wilson Witzel, deu ordens à polícia de alvejar quem fosse visto nas ruas com uma arma na mão. Um cheque em branco para matar. O primeiro morto estava com uma furadeira na mão, que o atirador pensou ser "metralhadora".

O sociólogo francês Émile Durkheim, no início do século passado, ensinava que o poder coercitivo do Estado é moral e socialmente defensável. É preciso, institucionalmente, que todos sigam as regras e cumpram seus deveres para que a sociedade possa viver em paz e prosperar.

Reconhecia, concomitante, que o Estado precisa de "contrapesos" e que sua força tem que "ser contida por outras forças coletivas". Justamente o que fazem agora os brasileiros indignados com tanta crueldade, a ponto de fazer o governador Tarcísio retroceder. O objetivo de acumular cadáveres e votos não está dando certo. Mudou o discurso do "tô nem aí" pra ONU e tribunais internacionais para o "estava completamente errado".

A violência urbana igualmente se dá pela ausência do Estado. É impossível cuidar da cidade inteira, faltam profissionais, mas quando estes intervêm, o mínimo que a sociedade espera é que tenham preparo psicológico para enfrentar situações de risco dentro dos limites da lei.

Bauru é uma cidade onde predominam os pequenos furtos e crimes de morte de motivações passionais. Os cidadãos se sentem seguros e percebe-se que os policiais civis e militares cumprem seus deveres, mas preferem voltar para casa sem expor suas vidas e a dos outros sem necessidade.

Há muita admiração pelos nossos Bombeiros, com trabalhos de resgate e sempre prontos a enfrentar situações não só de emergência, mas também as inusitadas. Já vi bombeiros resgatando um gato que subira numa árvore de porte e não conseguia descer.

O uso de câmeras corporais, e o governador agora concorda com elas, protege o cidadão de agressões e os próprios policiais de acusações indevidas.

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