CULTURA

Candelária: série retrata chacina a partir de sonhos das vítimas

Por FolhaPress |
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Divulgação
Série já está disponível na Netflix, com classificação para 14 anos
Série já está disponível na Netflix, com classificação para 14 anos

Trinta anos atrás, em 23 de julho de 1993, um grupo de cerca de 50 crianças e jovens dormiam nas escadarias da Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro, quando seus sonhos foram interrompidos por tiros de policiais. Para sempre, no caso de oito deles, de 11 a 19 anos, mortos naquela madrugada por policiais. A chacina da Candelária chocou o país, mostrou a ação de grupos de extermínio e teve repercussão internacional. Revelou ainda uma fotografia da miséria brasileira (crianças dormindo nas ruas) e um filme da história do Brasil: eram quase todas pretas.

Esse é o fio da meada que o cineasta Luís Lomenha puxou na minissérie "Os Quatro da Candelária". Sem desviar das muitas brutalidades do caso, escolheu mergulhar no universo infantil de quatro integrantes do grupo. E, para jogar luz num cotidiano à margem e nos sonhos pueris de quem dormia na escadaria da igreja naquela noite, costura referências inusitadas para o tema, como Os Trapalhões, afrofuturismo, carnaval e o filme "A Fantástica Fábrica de Chocolates".

Antes de explorar uma mistura de gêneros em uma narrativa não linear, no entanto, o primeiro episódio lembra que "a cidade do Rio de Janeiro recebeu 3 milhões de africanos escravizados durante quatro séculos de colonização europeia", alguns dos quais ajudaram a erguer a Basílica Nossa Senhora da Candelária, a mesma onde esses seus descendentes foram assassinados em 1993.

Produzida pela Netflix, a minissérie foi baseada em relatos de sobreviventes da chacina às quais se misturaram histórias de vida do próprio Lomenha, criador e roteirista de "Os Quatro da Candelária", cuja direção assina junto com Márcia Faria.

"A gente quis ir para um caminho de entrar na imaginação daquelas crianças e jovens. Fiz horas de entrevistas com o Wagner [dos Santos, testemunha chave do crime que buscou refúgio na Suíça], com o Snoopy e a Érica [sobreviventes da chacina], que era a mais nova do grupo, e falamos do que aconteceu mas também de seus sonhos", explica Lomenha, 46, que encontrou ali o material para criar sua fantasia. "A gente foi muito mais fiel à ficção do que à realidade." Cada um dos quatro episódios da minissérie acompanha as 36 horas que antecederam o crime.

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