COLUNISTA

Aftas: causas, prevenção e condutas

Por Alberto Consolaro |
| Tempo de leitura: 4 min
Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC
Autoconhecimento, controle do estresse e o saber sobre os fatores associados às aftas, são fundamentais na sua prevenção e tratamento
Autoconhecimento, controle do estresse e o saber sobre os fatores associados às aftas, são fundamentais na sua prevenção e tratamento

As aftas afetam até 66% da população. O termo “afta” foi utilizado por Hipócrates (460-370 a.C.) para identificar as ulcerações dolorosas na mucosa bucal e significa eu inflamo”, “eu ascendo ou “eu queimo. Elas reparam entre 5 e 14 dias. Ulceração tende reparar, já a úlcera persiste indefinidamente.

As aftas comuns têm diâmetro de até 1cm e podem ser chamadas de aftas menores ou de Mickulicz. Tem se ainda as aftas maiores e incomuns, quando são chamadas de aftas de Sutton com até 4cm e duração de até 6 meses, deixando cicatrizes.

As aftas também são chamadas de estomatite aftosa recorrente e, deve ser por isto, que muitas pessoas inclusive profissionais da saúde, acreditam que sua causa pode ser um problema estomacal, mas não tem nada a ver. O termo estomodeu vem do latim e é aplicado para as coisas da boca e não do estômago.

E AS CAUSAS?

A afta começa como um microtraumatismo e a mucosa fica exposta ao sistema imunológico. Se estiver desregulado pelo estresse, o sistema imunológico pode achar que as proteínas das células epiteliais se parecem com as de certas bactérias, atacando-a e necrosando, até perceber, depois de dias, que se enganou, mas aí já se formou a afta. Se a pessoa não estiver estressada, a frequência será muito menor. Pode se dizer que na geração das aftas, se tem um componente de autoimunidade cruzada.

Esta semelhança das células da mucosa com as bactérias é herdada dos pais. Filhos de pais com aftas, tem mais probabilidade de ter aftas também. Há um risco de 50% em herdar aftas, se um dos pais as apresentarem, mas a possibilidade diminui muito quando os pais não são portadores.

As aftas não ocorrem em mucosas queratinizadas como dorso da língua, palato duro e gengiva inserida. No local que acidentalmente se morde, ou a escova machuca, ou se fura com agulha na anestesia, ou ainda, quando se coloca aparelho ortodôntico, o microferimento pode evoluir em 2 dias para uma afta.

As aftas não têm nada a ver com a função estomacal como acidez e gastrite. As pessoas estressadas que tem muitas aftas, em geral, têm também desconforto estomacal que se coincidem, dando a impressão de que são interligadas, pois uma das causas é a mesma: o estresse!

As aftas não são alergias a alimentos como o abacaxi. Faça um teste e tome todos os dias suco de abacaxi por uma semana e não terás aftas. Ao comer este fruto sólido, ele que irrita mecanicamente e machuca muito a mucosa. 

É por isto que fumante não tem afta, o tabaco espessa a mucosa deixando grossa e revestida por queratina como a pele. Nos fumantes há um aumento da espessura e queratinização da mucosa em toda boca como uma “adaptação” funcional pelo tabaco. Quando se deixa o vício de fumar, pode apresentar aftas.  Alguns voltam a fumar por causa das aftas que não mais terão, mas o tabaco é cancerígeno, e as aftas não!

Qualquer doença que deixe a mucosa muito fina e frágil pode aumentar a quantidade de aftas. Quando se deixa de ingerir vitaminas B e ferro encontrado nas frutas e vegetais, a pessoa fica com anemia carencial porque a medula óssea prolifera muito e, sem eles, deixa de produzir hemácias na quantidade suficiente. Na mucosa bucal, que também prolifera muito, precisa-se destas vitaminas e íons para proliferar e sem eles, fica delicada, especialmente a língua que fica lisa avermelhada. Pacientes com muitas aftas em frequência e quantidade, geralmente apresentam-se com anemia, pela causa ser comum a ambas e não porque uma provocou a outra!

PREVENÇÃO E TRATAMENTO

Para não se ter aftas, o segredo é a integridade da mucosa. Evite microferimentos com alimentos perfurantes como abacaxi, pão ou pipoca. Prefira sucos e alimentos cremosos. Alimentos ácidos e adstringentes alargam os microferimentos na mucosa. Evite movimentos bruscos com a escova sobre a mucosa, use protetores nos braquetes e fios ortodônticos, tenha boa alimentação com ferro e vitaminas B para a mucosa ficar íntegra, espessa e resistente ao microtraumatismos.

Quando aftas aparecem, procure o profissional, devemos identificar as causas associadas em uma anamnese detalhada, pedir um hemograma completo e receitar medicamentos locais e sistêmicos adequados para cada caso. Mas o princípio terapêutico é recobrir a ulceração com filmes e películas protetoras para proteger os nervos expostos do meio bucal e reduzir a dor e desconforto. Que estes medicamentos locais tenham analgésicos e antiinflamatórios, também para abreviar o tempo da doença. Os medicamentos sistêmicos visam corrigir a carência de vitaminas do complexo B e ferro.

Em casos extremos com muito desconforto na intensidade e duração da dor, deve-se avaliar se não é o caso de se administrar a talidomida como último recurso, uma vez que se esgotou todas as outras possibilidades terapêuticas, compartilhando este procedimento com profissionais preparados e treinados para prescrever este medicamento.

Comentários

Comentários