OPINIÃO

Educação de qualidade não tem preço, tem valor

Por José Munhoz Fernandes |
| Tempo de leitura: 4 min
O autor é doutor em Educação Escolar pela Faculdade de Ciências e Letras da Unesp – Araraquara, Professor do Curso de Administração e Coordenador do Núcleo de Educação a Distância do Centro Universitário de Bauru da Instituição Toledo de Ensino – ITE

Segundo dados do novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - Caged, o Brasil registrou no período de agosto/2023 a julho/2024, um saldo de 1.776.677 empregos, decorrente de 24.761.401 admissões e de 22.984.724 desligamentos. A taxa de desocupação, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, caiu de 12,1% em janeiro de 2020 para 6,8% em julho de 2024. O aumento da empregabilidade, sem dúvida, é muito animador.

No final do mês de agosto, foi divulgado os resultados da 3ª edição da pesquisa nacional sobre empregabilidade, conduzida pela Associação Brasileira de Mantenedoras da Educação Superior - ABMES e a Symplicity Brasil, consultoria educacional especializada nesta temática. A pesquisa, que é anual, teve a participação de 4.792 egressos de 66 Instituições de educação superior brasileiras, e objetiva acompanhar a jornada e os resultados dos alunos após a conclusão de uma graduação, trabalho esse que pode orientar as instituições de ensino na criação de estratégias inovadoras, que conectem a instituição às competências exigidas pelos diversos segmentos do mercado de trabalho.

O relatório da pesquisa demonstra que 75% dos egressos do Ensino Superior estão empregados em até um ano após a colação de grau e mais de 83% deles estão atuando em sua área de formação, indicando que a educação superior de qualidade, seja ela na modalidade presencial ou a distância, tem valor, pois é um diferencial significativo para a empregabilidade.

O estudo também indica que esta taxa de ocupação é a mesma para os recém-formados, independentemente da modalidade do curso (presencial ou EaD) e o salário médio geral para o início de carreira em ambos os casos é de R$ 4.167,00.

Nesta mesma linha, outro estudo realizado pelo IPEA em 2023, constatou que no Brasil, os trabalhadores com ensino superior têm uma remuneração significativamente mais alta, quando comparada aos profissionais que possuem o ensino médio, independente de área de formação, embora a diferença salarial entre os trabalhadores com ensino superior varia de acordo com a área de formação, competência, dentre outras características do cada vez mais exigente mercado do trabalho.

Ter uma formação educacional de nível superior e de qualidade, pode levar a um salário diferenciado no mercado de trabalho, segundo o IPEA em média 30% a mais, isso se justifica em função de que há um desejo das empresas em remunerar melhor os profissionais com níveis mais elevados de qualificação, devido ao valor que é agregado por eles às organizações, embora sabemos, o salário também é influenciado ao longo da jornada profissional por outros fatores, como experiência, demanda do setor, nível de engajamento das pessoas, localização geográfica da empresa, dentre outros.

O fato é que um curso de graduação ou pós-graduação de qualidade não só melhor qualifica o indivíduo para um mercado de trabalho em constante mudança e cada vez mais exigente, como também forma o cidadão enquanto ser humano, pois além de desenvolver competências técnicas, o ensino superior também proporciona ao indivíduo desenvolver o pensamento crítico e habilidades como resolução de problemas, capacidade de se adaptar a novos cenários, comunicação e o interesse por aprender sempre, características muito valorizadas e fundamentais para o mundo do trabalho na atualidade, seja como intraempreendedor ou empreendedor.

Entretanto, alguns dados apresentados pelo Censo da Educação Superior no ano passado preocupam: quase 80% dos jovens de 18 a 24 anos não estão na faculdade; 32,3% sequer concluíram o ensino médio; havia quase 23 milhões de vagas disponíveis nas IES em 2022, mas apenas 4,7 milhões foram preenchidas. Nas instituições particulares, sobram mais de 80% das vagas. Nas públicas, as vagas ociosas chegam a quase 40%.

Isto indica que o país não conseguirá atingir dois dos três objetivos da Meta 12 do Plano Nacional de Educação, que almejava até o final de 2024: elevar a taxa bruta de matrícula no ensino superior para 50% da população e elevar a taxa líquida de matrículas no ensino superior para 33% da população de 18 a 24 anos.

Parece que estamos vivendo em universos paralelos, pois esse aparente desinteresse dos jovens em buscar a educação de nível superior, está na contramão da realidade de um mundo de trabalho em constantes e rápidas transformações e cada vez mais exigente.

Considerando que a educação é um dos principais pilares que sustenta e impulsiona o desenvolvimento de uma nação e no caso do Brasil ainda há muito a ser feito neste aspecto, educadores e instituições de ensino superior precisam se debruçar sobre este fenômeno para melhor compreendê-lo e agir, quem sabe, revertendo este cenário.

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