Escrevo este artigo antes do resultado do primeiro turno das eleições municipais. Mas a temperatura política, marcada por preocupante radicalização, ausência de propostas e demonização do adversário, transmite a urgente necessidade de repensar muitas coisas.
O adversário não é um inimigo a ser extirpado. Todos, à esquerda ou à direita, deveriam saber que é típico do pensamento totalitário reivindicar o monopólio da verdade. Não há democracia sem diálogo. Só as ditaduras podem prescindir do debate livre e civilizado. O Brasil está cansado do radicalismo que mata a política e abre as portas para os aventureiros.
A maioria dos brasileiros, mesmo os que foram seduzidos pelas lantejoulas do marketing político, não está disposta a renunciar aos valores que compõem a essência da nossa tradição: a paixão pela liberdade e a prática da tolerância. É preciso investir na convivência pacífica e plural.
A radicalização ideológica, de direita ou de esquerda, não tem a cara do Brasil. Tenta-se dividir o País ao meio. Jogar pobres contra ricos, negros contra brancos, homos contra héteros. Querem substituir o Brasil da alegria pelo país do ódio e da divisão. Tentam arrancar com o fórceps da intolerância o espírito aberto dos brasileiros. Procuram extirpar o DNA, a alma de um povo bom, aberto e multicolorido. Não querem o Brasil café com leite. A miscigenação, riqueza maior da nossa cultura, evapora nos rarefeitos laboratórios do fanatismo ideológico.
Está surgindo, de forma acelerada, uma nova "democracia" totalitária e ditatorial, que pretende espoliar milhões de cidadãos do direito fundamental de opinar, elemento essencial da democracia. Se a ditadura politicamente correta constrange a cidadania, não pode, por óbvio, acuar jornalistas e formadores de opinião.
O primeiro mandamento do jornalismo de qualidade é a independência. Não podemos sucumbir às pressões dos lobbies direitistas, esquerdistas, de orientação sexual ou racial. O Brasil sempre lutou contra a censura. E só há um desvio pior que o controle governamental da informação: a autocensura. Para o jornalismo não há vetos, tabus e proibições. Informar é um dever ético. E ninguém, ninguém mesmo, impedirá o cumprimento do primeiro mandamento da nossa profissão: transmitir a verdade dos fatos.
Veículos de comunicação tradicional e produtos digitais de credibilidade oxigenam a democracia. As tentativas de controle da mídia tradicional e também do mundo digital, abertas ou disfarçadas, são sempre uma tentativa de asfixiar a liberdade. Num momento de crise no modelo de negócio, evidente e desafiante, o que não podemos é perder o norte. E o foco é claro: produzir conteúdo de alta qualidade técnica e ética. Somente isso atrairá consumidores em qualquer plataforma. E só isso garantirá a permanência da democracia.
Vivemos tempos de forte polarização, de afirmações superficiais, carentes de profundidade e de saudável visão crítica. Tempos de cancelamentos, uma atmosfera viciada que pode desembocar em rupturas e fraturas sociais.
Chegou a hora da política e do diálogo.