A mutilação mandibular acontece por acidentes, violência, tumores e osteomielites. Nas osteomielites, as bactérias e inflamação se espraiam no labirinto do osso, repleto de microcavidades. Neste ambiente, como uma esponja óssea, as bactérias formam películas e amontoados que lhes dão uma grande vantagem estratégica na guerra com o organismo. São os chamados biofilmes e os aglomerados microbianos.
A missão de defesa dos leucócitos, anticorpos e enzimas fica quase impossível, pois as bactérias tornam-se inatingíveis. Como ficam inatingíveis também para os medicamentos como os antibióticos, que chegam até o osso pelo sangue. O ideal seria não deixar as bactérias chegarem no osso. Os medicamentos não destroem as películas e aglomerados microbianos, e quase sempre vai precisar da cirurgia para debridar os restos necróticos e osso comprometido cheio de bactérias. E a doença sistêmica vai ter que ser controlada.
Talvez, a mais prevenível das causas de mutilação mandíbular seja as osteomielites. Como uma inflamação difusa e geralmente bacteriana, elas ocorrem em pacientes sistemicamente comprometidos ou com doença esclerosante prévia, aqui representada pela displasia cemento-óssea florida e, na Europa, pela doença de Paget.
Em pessoas saudáveis, quando entram bactérias, em poucos minutos ou até segundos, os mecanismos de defesa eliminam-nas. Não as deixam sobreviver, adentrar e conspirar no ambiente ósseo, logo são fagocitadas ou explodidas pelas enzimas. Uma bactéria vive em média 2 min, quando se divide e vira duas.
Se bobearmos, proliferam rapidamente dentro do osso, e é isto que ocorre no paciente debilitado sistemicamente com seus leucócitos estão lentos em sua fagocitose, pois sua capacidade bactericida está diminuída e seu número no sangue também. Deixando as sobreviverem mais do que 20min, se duplicam. Em debilitados, os anticorpos e enzimas também estão em menor quantidade.
Mais e mais
Atualmente vivemos e sobrevivemos mais, mesmo com às doenças. Entre nós temos muitos sistemicamente comprometidos como diabéticos, anêmicos, imunodeprimidos, leucêmicos, etilistas e outros vícios, além dos pacientes oncológicos.
Nestes pacientes não se deve vacilar um minuto. Na boca, local mais contaminado do corpo, não devemos deixar portas abertas para as bactérias nos pacientes debilitados sistemicamente. Elas terão tempo para proliferarem e disseminarem no labirinto ósseo para proliferarem, se organizarem e protegerem. A inflamação e o sistema imune vai aumentando com necrose e pus, mas nada adiantará. Apenas cirurgia eficiente, medicamentos acertados no tempo prolongado e controle da doença sistêmica poderá levar a cura!
O melhor de tudo seria evitar abrir as portas com exodontias, cirurgia para implantes, cirurgias periodontais, raspagens, fraturas, necrose pulpares por cárie, endodontias etc. Os pacientes oncológicos devem ter higiene bucal impecável, cuidados minuciosos com os dentes, controle médico de sua doença e especialmente, informar sobre ela, sempre que for ao cirurgião dentista.
Diagnosticar antes
Antes de qualquer procedimento, o profissional deve avaliar sistemicamente o paciente, fazer uma anamnese criteriosíssima e ter imagens intraósseas dos dentes. Os serviços de oncologia, antes da quimioterapia e ou radioterapia, devem passar o paciente pelo serviço de estomatologia e cirurgia bucomaxilofacial dos hospitais para zerar os problemas da boca.
Imagens radio e ou tomográficas antes de tratamentos odontológicos permitem descobrir se o paciente tem doença óssea esclerosante prévia. Estas doenças deixam o osso mais labiríntico e com maior facilidade ainda para as bactérias se esconderem e nos atacarem. Essas imagens são indispensáveis e previnem procedimentos cruentos em pacientes com doenças ósseas esclerosantes, como a displasia cemento-óssea florida, evitando-se as osteomielites superpostas na mandíbula.
Reflexão final
Enfim, é possível fazer prevenção das osteomielites mandibulares.