PARALIMPÍADAS

Do sonho ao bronze: a saga de Claudio Massad em Paris

Por Douglas Willian | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Alexandre Schneider/CPB
Claudio Massad e Luiz Manara celebram sua conquista no pódio das Paralimpíadas de Paris
Claudio Massad e Luiz Manara celebram sua conquista no pódio das Paralimpíadas de Paris

A rotina de um atleta de alto nível é exigente, e para o mesatenista Claudio Massad não seria diferente. Treinos intensos, viagens e competições com os melhores do mundo fazem parte do seu cotidiano.

 Diagnosticado com erisipela no joelho esquerdo aos 10 anos, o crescimento dos ossos foi afetado, deixando sua perna esquerda arqueada. Em 2001, mediante uma cirurgia, foi possível corrigir parte da patologia.

TRAJETÓRIA

O tênis de mesa entrou na vida de Claudio na infância, durante visitas frequentes à casa de amigos. Em 1997, ele conheceu o esporte por meio do professor Ari, no SESI. Dividido entre o futsal e o tênis de mesa, Claudio precisou escolher, e essa decisão se mostrou a mais acertada de sua vida.

Após seis meses de prática, o bauruense já era campeão estadual. A partir de 2008, passou a treinar em Marília. No entanto, esse mesmo ano foi marcado por uma das maiores tragédias de sua vida: seu irmão contraiu H1N1. "A perda do meu irmão foi a maior da minha vida, mas também um divisor de águas, que me motivou a seguir na carreira profissional", relembra.

Em 2014, Claudio foi classificado como atleta paralímpico de classe 10. "No esporte paralímpico, as categorias são divididas em classes. Os atletas com maiores limitações físicas estão entre as classes 1 e 6; os com menores limitações, entre 7 e 10; e a classe 11 é para atletas com problemas cognitivos", explica. Para obter a classificação funcional, é necessário passar por uma avaliação internacional, que inclui exames, laudos médicos e testes físicos rigorosos.

 O primeiro grande desafio veio no Parapan de 2015, em Toronto, onde Claudio disputou a final contra seu compatriota Carlos Carbinatti, mas foi derrotado, ficando temporariamente fora das Paralimpíadas do Rio. Ele tentou uma vaga via ranking nacional, mas, ao ver outro atleta com menor pontuação ser escolhido, iniciou uma batalha jurídica com a confederação, sem sucesso.

Em 2017, sagrou-se campeão sul-americano, o que lhe garantiu uma vaga no mundial do ano seguinte, onde conquistou seu primeiro título mundial ao vencer a dupla francesa, que se tornaria um forte adversário em anos posteriores.

No Parapan de 2019, em Lima, Claudio novamente enfrentou Carbinatti, mas foi derrotado e ficou fora dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. "Foi difícil, porque eu não perdia para o Carbinatti desde 2016. Ele teve méritos, mas foi um golpe duro", diz.

Ainda assim, o sonho paralímpico persistiu. Porém, em setembro de 2020, Claudio sofreu uma lesão no menisco do joelho direito, o que exigiu cirurgia e o afastou do esporte por um mês. "Eu tinha seis meses para me recuperar antes da seletiva para Tóquio. Graças ao meu fisioterapeuta, consegui voltar aos treinos em apenas um mês", conta.

Fora dos jogos de Tóquio, Claudio focou nos Jogos de Paris, e a redenção veio no Parapan de 2023, em Santiago, onde venceu o chileno na final. "Prometi a mim mesmo que não deixaria essa terceira chance escapar."

Nos Jogos Paralímpicos de Paris, Claudio e seu parceiro, o mogimiriano Luiz Manara, representaram o Brasil na classe M18 (Classe 10 Classe 8), enfrentaram grandes desafios. Na estreia, venceram a dupla espanhola número um do mundo, por 3 sets a 1. Nas quartas de final, superaram os franceses Mateo Boheas e Thomas Bouvais em uma das partidas mais icônicas. "Senti que precisava representar o Brasil, e fiz isso, eles precisam respeitar, aqui é o Brasil", desabafa Claudio após vibrar em frente a torcida da casa, gesto que marcou a competição. A vitória os levou à semifinal, onde garantiram a medalha de bronze após perderem para os chineses Liu Xiaodong e Zhao Zhiquing, país referência no esporte.

"É um privilégio enfrentar os melhores do mundo. Para mim, é um sonho realizado. Sou grato a Deus, à minha família, à minha mãe dona Claudete Massad, à minha esposa Edilaine Cunha Massad e à minha saudosa tia Besma Massad, que sempre investiu em mim. Essa conquista é para ela e para todos que me apoiaram", diz emocionado.

O LEGADO

"Espero ter contribuído para a história do esporte. Precisamos alcançar o nível de países como a Europa e a China, que investem muito no esporte, com tudo custeado pelo governo. Isso faz a diferença", ressalta Claudio. Ele também aponta a evolução do Brasil na modalidade, mas destaca a necessidade de mais apoio financeiro e patrocínios.

"Nosso país evoluiu, mas ainda falta investimento. Eu, por exemplo, sou beneficiado pelo Bolsa atleta, mas o pagamento começou apenas em maio deste ano e vai ser cortado em setembro, falta apoio", conclui.

O medalhista ainda reflete sobre o impacto mental do esporte: "Esse campeonato foi um divisor de águas para mim. Aprendi a lidar com a pressão, sem exagerar na cobrança. O tênis de mesa é minha paixão, e espero continuar representando o Brasil."

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