COLUNISTA

Cristianismo sem cruz e religião sem compromisso


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Um tipo de cristianismo moderno admite sim a cruz, mas só a de Cristo. Ele sim carregou a cruz e morreu na cruz, passou por ela para salvar a humanidade, o que significa para quem assim pensa livrar a humanidade da cruz. Basta você ter fé em Jesus salvador que você está livre do peso de carregá-la com seus próprios ombros. Não é o que muitos andam pregando por aí com chamadas como esta: Pare de sofrer, venha conosco, em nossa igreja Jesus tem poder e faz milagres? Alguns dirão: só pessoas muito simples, ingênuas, que não têm mais em quem acreditar que se deixam enganar por essas tolices. Não é verdade não. Há sim pessoas, inclusive bem-posicionadas na vida, que, desiludidas, vão além desse tipo de religião e dizem assim: Não tenho religião, tenho espiritualidade, isto é, sou espiritualizado, não quero compromisso com ninguém, minha relação com Deus é pessoal e direta. Como também respeito os outros e não faço mal a ninguém, vivo em paz com minha consciência, não tenho pecados. E isto me basta. Mas todo esse falatório faz parte do marketing contemporâneo. Mentiras vendidas como verdades à luz do dia. Com essa ideologia, alguém deve estar faturando alto. A mentira, porém, é pecado. Não obstante, a mentira hoje rege o mundo. E esse marketing ideológico não engana só os ingênuos, simples e desesperados, tenta passar para todos nós, os bem pensantes, como verdades modernas, o que fora tentação para São Pedro: um cristianismo sem a cruz e uma religião sem o compromisso. Abra o olho!

São Marcos no Evangelho da santa Missa deste domingo, Mc 8, 27-35, conta que Jesus expôs a seus discípulos a realidade do mistério da cruz não escondendo o paradoxo da cruz na sua vida e na dos seus discípulos. Em primeiro lugar há a declaração do messianismo de Jesus feita por São Pedro, representando o pensamento dos discípulos. Jesus, porém, rejeita essa ideia e contrapõe a sua paixão: "O Filho do homem devia sofrer muito e ser morto, mas ressuscitaria ao terceiro dia". E afirma que "se alguém quiser segui-Lo devia renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-Lo. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa dEle e do Evangelho vai salvá-la". A intenção de São Marcos é demonstrar quem é Jesus e quem são os cristãos. Pois está aí perante todos essa verdade paradoxal: o mistério da cruz está presente na vida do cristão como esteve presente na vida de Jesus. De Jesus sabemos que, aceitando livremente a cruz, abandonou-se confiantemente em Deus, para cumprir a sua vontade. Conforme ouvimos na primeira leitura da santa Missa, Is 50,5-9, aplica-se a Jesus o que Isaías disse sobre o servo sofredor: "O Senhor Deus veio em meu auxílio, por isso não fiquei envergonhado" (Is 50,7). Também São Paulo escreveu dizendo que a ressurreição de Jesus e a salvação da humanidade realizada por Ele são os penhores do seu glorioso triunfo. Por isso, diante dEle todo joelho se dobre no céu e na terra, porque Ele, Jesus Cristo, é realmente o Senhor (cf, Fil 2,6-11). O Senhor virá também em nosso auxílio e assim sendo a cruz nossa da vida não nos envergonhará, se aceitarmos carregá-la com Cristo como testemunho concreto da nossa fé, a qual se prova pelas obras, como disse São Tiago na segunda leitura da santa Missa, Tiago 2,14-18): "Tu tens a fé e eu tenho a prática! Tu, mostra-me a tua fé sem as obras, que eu te mostrarei a minha fé pelas obras!" (v.18). E a primeira obra da fé é aceitar a vontade de Deus, acolhendo humildemente a carga da cruz de Cristo que toca a cada um carregar, com amor, em união com Cristo, para a glória de Deus e para a salvação do mundo. "Quem não carrega sua cruz e não vem após mim, não pode ser meu discípulo" (Lc 14,27).

Sendo setembro o mês da Bíblia, lembremos que a Palavra de Deus deve ser a nossa esperança, como lemos no Salmo 119, 114: "Ó Senhor, sois o meu abrigo, o meu escudo, na vossa Palavra pus a minha esperança".

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