Presidente da Associação dos Diabéticos de Bauru, ela construiu sua trajetória pavimentada no cuidado com o próximo
Pouco açúcar, muito amor
Do alto de seus 71 anos, Rita Katia Almeida de Oliveira não tem planos para desacelerar. Presidente da Associação dos Diabéticos de Bauru e formada em odontologia, ela construiu sua trajetória pavimentada no cuidado com o próximo.
O trabalho inicial com foco na saúde bucal foi somado a uma nova missão, que nasceu a partir do diagnóstico de diabetes do marido, José Roberto Eleutério de Oliveira: a de cuidar e educar pessoas com a doença. Empenhada em aprofundar-se neste universo, tornou-se educadora em diabetes e dentista especializada na área.
Há 15 anos, Rita integra a diretoria da associação, fundada pelo médico endocrinologista Carlos Antonio Negrato. Na presidência, ela conseguiu mobilizar profissionais voluntários e firmar importantes parcerias com universidades, proporcionando a oferta gratuita de atividades físicas e atendimento médico, nutricional e psicológico não só a associados, mas também a pacientes em situação de vulnerabilidade social.
Trata-se de um trabalho com impacto na vida de milhares de pessoas, que Rita segue motivada a continuar. Nesta entrevista, ela relembra sua jornada de dedicação à saúde e revela detalhes de sua agitada rotina, que inclui também o artesanato, a fé católica, cursos, congressos, viagens e momentos compartilhados com o marido, os filhos Luiz Octavio, Roberta Maria e Maria Paula e os três netos. Leia os principais trechos.
JC - Por que escolheu odontologia? Há dentistas na família?
Rita - Não tem. Meu pai trabalhou por 40 anos como motorista na Tilibra e minha mãe era doméstica. Fui fazer faculdade de odontologia, na FOL, em Lins, porque sempre gostei da área da saúde. No primeiro ano, comecei a namorar o Zé Roberto e, quando terminei o curso, em 1975, voltei a Bauru. Um mês depois, fui trabalhar como dentista no Sindicato do Comércio, onde fiquei por um ano e meio, até me casar. O Zé Roberto tinha se formado como engenheiro civil e fomos para São Paulo. Comecei trabalhando em um consultório, em sala alugada e, depois de um ano, tive meu primeiro filho e passei a levá-lo comigo. Embora eu tivesse uma funcionária para ajudar a tomar conta dele, o dono começou a implicar. Então, montei meu próprio consultório, onde trabalhei por uns seis anos com clínica geral.
JC - Em que momento decidiu retornar a Bauru?
Rita - Com 5 anos, o Luiz Octavio começou a ter crises de alergia, mas, quando vínhamos a Bauru visitar a família, ele ficava ótimo. Resolvemos procurar uma casa em Santos, mas o médico disse que não adiantaria, porque também ele tinha alergia a mofo e um local úmido não seria bom. Então, decidimos retornar a Bauru. Encontramos uma casa onde desse para adaptar o consultório e comecei a trabalhar. Como meu pai conhecia muita gente, ajudou distribuindo meu cartão. Além disso, fui convidada a voltar a atender no sindicato e logo nos estabelecemos profissionalmente na cidade. Mesmo aposentada há muitos anos, continuo atendendo até hoje, ainda que com menor frequência.
JC - Como o universo do diabetes passou a fazer parte da sua vida?
Rita - Estava grávida da Maria Paula quando meu marido começou a manifestar alguns sintomas, tinha muita sede, comia bastante, mas perdeu 19 quilos. Por recomendação de um amigo, ele fez exame e a glicemia estava em 550 (mg/dl), quando iniciou o tratamento com o doutor Carlos Antonio Negrato. A associação tinha uns oito anos, o Negrato o convidou para fazer parte da entidade e eu acompanhei meu marido, que logo tornou-se presidente. Começamos a ir a palestras, fui gostando e decidi me aprofundar. Fiz especialização como educadora em diabetes pela Unip e capacitação na Anad em atendimento odontológico a pacientes diabéticos. Aprendi muito.
JC - Por que esta área moveu tanto a senhora?
Rita - Se você tem um diabético em casa, a família precisa aderir à nova rotina, ajudando o paciente a fazer o tratamento. Brinco que me tornei diabética tipo 3, o de amor à causa. E, há 15 anos, me tornei presidente da associação. Desde então, sigo na diretoria, como presidente ou em outra função, buscando mobilizar profissionais voluntários, já que não recebemos recursos públicos. O associado que pode paga mensalidade, mas atendemos quem não pode também. Além de voluntários, temos parceria com o curso de educação física da Unesp, que desenvolve há quase dez anos um projeto de extensão, com atividades físicas três vezes por semana na associação.
JC - A parceria foi firmada na sua gestão?
Rita - Sim, assim como a parceria com o curso de nutrição da Unip, que existe há uns três anos. Já na área médica, o projeto de extensão da USP, por meio do doutor Negrato, atende pacientes de baixa renda. É um atendimento personalizado, que visa educar o paciente sobre a necessidade de aliar exercício físico, nutrição e medicamento para o tratamento adequado. Temos ainda uma assistente social, uma podóloga e uma massoterapeuta voluntárias e, agora, também teremos uma nutricionista para nos ajudar. Fazendo um trabalho sério, também conquistamos, nesta semana, atendimentos psicológicos em parceria com o curso de psicologia da Unip. E fazemos, ainda, mutirões de testes glicêmicos quando somos convidados. É gratificante poder ajudar pessoas e foram milhares ao longo destes anos. Pretendo continuar por muito tempo ainda.
JC - Sobra tempo para o lazer?
Rita - Sou elétrica. Gosto de artesanato, faço biscuit, a decoração de festas dos netos, lembrancinhas. É gostoso construir estas memórias. Também coordeno a liturgia da Paróquia São Sebastião, participo das atividades físicas oferecidas pela associação e adoro viajar. Visito o Luiz Octavio e a Roberta, em Santa Catarina, ao menos três vezes ao ano. Também viajo bastante com a Paula. Fomos a São Francisco, Las Vegas e Grand Canyon (EUA), para Cancún (México). Falou em viagem, já estou com minha malinha pronta. Ninguém me segura.
O que diz a presidente
'Brinco que me tornei diabética tipo 3, o de amor à causa'
'É gratificante poder ajudar pessoas e foram milhares ao longo destes anos. Pretendo continuar por muito tempo ainda'
'Falou em viagem, já estou com minha malinha pronta. Ninguém me segura'