ENTREVISTA DA SEMANA

Entrevista com Rita de Oliveira, da Associação dos Diabéticos

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Tisa Moraes
Rita Katia Almeida de Oliveira
Rita Katia Almeida de Oliveira

Presidente da Associação dos Diabéticos de Bauru, ela construiu sua trajetória pavimentada no cuidado com o próximo

Pouco açúcar, muito amor

Do alto de seus 71 anos, Rita Katia Almeida de Oliveira não tem planos para desacelerar. Presidente da Associação dos Diabéticos de Bauru e formada em odontologia, ela construiu sua trajetória pavimentada no cuidado com o próximo.

O trabalho inicial com foco na saúde bucal foi somado a uma nova missão, que nasceu a partir do diagnóstico de diabetes do marido, José Roberto Eleutério de Oliveira: a de cuidar e educar pessoas com a doença. Empenhada em aprofundar-se neste universo, tornou-se educadora em diabetes e dentista especializada na área.

Há 15 anos, Rita integra a diretoria da associação, fundada pelo médico endocrinologista Carlos Antonio Negrato. Na presidência, ela conseguiu mobilizar profissionais voluntários e firmar importantes parcerias com universidades, proporcionando a oferta gratuita de atividades físicas e atendimento médico, nutricional e psicológico não só a associados, mas também a pacientes em situação de vulnerabilidade social.

Trata-se de um trabalho com impacto na vida de milhares de pessoas, que Rita segue motivada a continuar. Nesta entrevista, ela relembra sua jornada de dedicação à saúde e revela detalhes de sua agitada rotina, que inclui também o artesanato, a fé católica, cursos, congressos, viagens e momentos compartilhados com o marido, os filhos Luiz Octavio, Roberta Maria e Maria Paula e os três netos. Leia os principais trechos.

JC - Por que escolheu odontologia? Há dentistas na família?

Rita - Não tem. Meu pai trabalhou por 40 anos como motorista na Tilibra e minha mãe era doméstica. Fui fazer faculdade de odontologia, na FOL, em Lins, porque sempre gostei da área da saúde. No primeiro ano, comecei a namorar o Zé Roberto e, quando terminei o curso, em 1975, voltei a Bauru. Um mês depois, fui trabalhar como dentista no Sindicato do Comércio, onde fiquei por um ano e meio, até me casar. O Zé Roberto tinha se formado como engenheiro civil e fomos para São Paulo. Comecei trabalhando em um consultório, em sala alugada e, depois de um ano, tive meu primeiro filho e passei a levá-lo comigo. Embora eu tivesse uma funcionária para ajudar a tomar conta dele, o dono começou a implicar. Então, montei meu próprio consultório, onde trabalhei por uns seis anos com clínica geral.

JC - Em que momento decidiu retornar a Bauru?

Rita - Com 5 anos, o Luiz Octavio começou a ter crises de alergia, mas, quando vínhamos a Bauru visitar a família, ele ficava ótimo. Resolvemos procurar uma casa em Santos, mas o médico disse que não adiantaria, porque também ele tinha alergia a mofo e um local úmido não seria bom. Então, decidimos retornar a Bauru. Encontramos uma casa onde desse para adaptar o consultório e comecei a trabalhar. Como meu pai conhecia muita gente, ajudou distribuindo meu cartão. Além disso, fui convidada a voltar a atender no sindicato e logo nos estabelecemos profissionalmente na cidade. Mesmo aposentada há muitos anos, continuo atendendo até hoje, ainda que com menor frequência.

JC - Como o universo do diabetes passou a fazer parte da sua vida?

Rita - Estava grávida da Maria Paula quando meu marido começou a manifestar alguns sintomas, tinha muita sede, comia bastante, mas perdeu 19 quilos. Por recomendação de um amigo, ele fez exame e a glicemia estava em 550 (mg/dl), quando iniciou o tratamento com o doutor Carlos Antonio Negrato. A associação tinha uns oito anos, o Negrato o convidou para fazer parte da entidade e eu acompanhei meu marido, que logo tornou-se presidente. Começamos a ir a palestras, fui gostando e decidi me aprofundar. Fiz especialização como educadora em diabetes pela Unip e capacitação na Anad em atendimento odontológico a pacientes diabéticos. Aprendi muito.

JC - Por que esta área moveu tanto a senhora?

Rita - Se você tem um diabético em casa, a família precisa aderir à nova rotina, ajudando o paciente a fazer o tratamento. Brinco que me tornei diabética tipo 3, o de amor à causa. E, há 15 anos, me tornei presidente da associação. Desde então, sigo na diretoria, como presidente ou em outra função, buscando mobilizar profissionais voluntários, já que não recebemos recursos públicos. O associado que pode paga mensalidade, mas atendemos quem não pode também. Além de voluntários, temos parceria com o curso de educação física da Unesp, que desenvolve há quase dez anos um projeto de extensão, com atividades físicas três vezes por semana na associação.

JC - A parceria foi firmada na sua gestão?

Rita - Sim, assim como a parceria com o curso de nutrição da Unip, que existe há uns três anos. Já na área médica, o projeto de extensão da USP, por meio do doutor Negrato, atende pacientes de baixa renda. É um atendimento personalizado, que visa educar o paciente sobre a necessidade de aliar exercício físico, nutrição e medicamento para o tratamento adequado. Temos ainda uma assistente social, uma podóloga e uma massoterapeuta voluntárias e, agora, também teremos uma nutricionista para nos ajudar. Fazendo um trabalho sério, também conquistamos, nesta semana, atendimentos psicológicos em parceria com o curso de psicologia da Unip. E fazemos, ainda, mutirões de testes glicêmicos quando somos convidados. É gratificante poder ajudar pessoas e foram milhares ao longo destes anos. Pretendo continuar por muito tempo ainda.

JC - Sobra tempo para o lazer?

Rita - Sou elétrica. Gosto de artesanato, faço biscuit, a decoração de festas dos netos, lembrancinhas. É gostoso construir estas memórias. Também coordeno a liturgia da Paróquia São Sebastião, participo das atividades físicas oferecidas pela associação e adoro viajar. Visito o Luiz Octavio e a Roberta, em Santa Catarina, ao menos três vezes ao ano. Também viajo bastante com a Paula. Fomos a São Francisco, Las Vegas e Grand Canyon (EUA), para Cancún (México). Falou em viagem, já estou com minha malinha pronta. Ninguém me segura.

O que diz a presidente

'Brinco que me tornei diabética tipo 3, o de amor à causa'

'É gratificante poder ajudar pessoas e foram milhares ao longo destes anos. Pretendo continuar por muito tempo ainda'

'Falou em viagem, já estou com minha malinha pronta. Ninguém me segura'

Em um dos vários eventos sobre diabetes dos quais participou (crédito: Arquivo pessoal)
Em um dos vários eventos sobre diabetes dos quais participou (crédito: Arquivo pessoal)
Rita com o marido José Roberto, os filhos Roberta, Maria Paula e Luiz Octavio e os netos Arthur, Bernardo e Davi (crédito: Arquivo pessoal)
Rita com o marido José Roberto, os filhos Roberta, Maria Paula e Luiz Octavio e os netos Arthur, Bernardo e Davi (crédito: Arquivo pessoal)
Rita com voluntários em comemoração aos 40 anos de fundação da associação (crédito: Arquivo pessoal)
Rita com voluntários em comemoração aos 40 anos de fundação da associação (crédito: Arquivo pessoal)

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