Comando com visão comunitária
Vindo de um sítio de Santelmo, distrito de Pederneiras, Nilson Cesar Pereira tinha 10 anos e dividia sua rotina em Bauru entre o trabalho em uma oficina mecânica e os estudos. Em um dia atípico na escola, foi com sua turma conhecer a rotina do Comando de Policiamento do Interior 4 (CPI-4) e, de lá, saiu com um sonho: tornar-se policial militar. Hoje, aos 48 anos, ele é o tenente-coronel que comanda o 4.º Batalhão de Caçadores da Polícia Militar, com o propósito não apenas de liderar o policiamento em 19 municípios, mas também estreitar o vínculo entre a PM e a comunidade.
Natural de Pederneiras, Nilson tem origem humilde. Com dedicação e disciplina, foi aprovado e formou-se na Academia do Barro Branco, iniciando a carreira na Capital. Com atuações destacadas, foi responsável por implantar uma Base Comunitária de Segurança em Jaú, reorganizar a atuação da Companhia Ambiental de Bauru e idealizar o sistema online de gestão operacional do 4.º BC.
Casado com Luciana e pai de Gabriel, 14 anos, e Leonardo, 10 anos, é formado em educação física, informática e direito, além de ser mestre e doutor pelo Centro de Altos Estudos de Segurança da PM. Amante de seu ofício - e também de futebol, pescaria e encontros e viagens com a família ou amigos - Nilson revisita sua trajetória nesta entrevista. Leia os principais trechos.
JC - Como foi sua infância?
Nilson - Meu pai tinha sítio em Santelmo e vendia bois, ovos, mas, com 25 anos, ficou doente, incapacitado, e minha mãe criou os cinco filhos sozinha. Costureira, enfrentou dificuldade para sustentar a família e foi guerreira. Como lá só tinha até a 4.ª série e meus irmãos mais velhos precisavam começar a trabalhar para ajudar, viemos para Bauru. Eu tinha 5 anos e, com 9, fui trabalhar em uma oficina mecânica com dois irmãos. Aos 10, após visitar o CPI-4 com a escola Luiz Zuiani, onde estudei até o ensino médio, voltei com o sonho de ser policial militar. Fiquei encantado e entendi que precisaria me dedicar aos estudos. Eu trabalhava à tarde e estudava de manhã. Aos 13 anos, passei a ajudar minha mãe na sorveteria que ela comprou e só parei com 17 anos para focar nos estudos e prestar a Academia do Barro Branco. Eu não sabia nada sobre militarismo, mas, como estudei bastante, passei na primeira tentativa.
JC - A inexperiência trouxe dificuldades?
Nilson - Sofri demais, porque fui criado no sítio, minha mãe era muito tradicional, controlava horários, para onde os filhos iam e com quem. E, quando fui aprovado, com 17 anos, peguei o ônibus sozinho e fui para São Paulo. O primeiro ano foi difícil, não tinha noção de corte de cabelo, padrão de roupa, não sabia marchar e tinha receio que, por esta inexperiência, pudessem me mandar embora. Além disso, eram 26 matérias, nota 8 para ser aprovado, a distância de casa. Mas, no segundo ano, mais familiarizado com a rotina, foi mais tranquilo. Aos 21 anos, em dezembro de 1997, me formei como aspirante a oficial.
JC - E foi trabalhar onde?
Nilson - Em São Paulo, como comandante de Força Patrulha, em um batalhão com uns dez municípios, incluindo Barueri, Carapicuíba, Jandira. Fiquei cinco anos lá, aprendendo a rotina operacional e ganhando bagagem. Na época, cursei educação física. Em seguida, vim para Jaú porque queria voltar para casa e fui implantar a Base Comunitária de Segurança Norte, em 2003, época em que o governo estava instituindo esta política no Estado, após o projeto-piloto bem-sucedido de Bauru. Começamos de forma precária, nos fundos de um ginásio de esportes municipal e, em 2004, conseguimos um terreno em frente à Fundação Educacional. Fizemos parcerias para construir e, em nove meses, inauguramos a sede. Era uma área complicada, mas fizemos a prisão de todos os traficantes que atuavam lá.
JC - Depois, veio em definitivo para Bauru?
Nilson - Em 2007. Já era primeiro-tenente, tinha casado e, quando terminei o curso de informática na Fatec de Jaú, assumi a coordenação da Escola de Soldados em Bauru, no CPI-4, um trabalho de que gosto demais, tanto que dou aula há 24 anos, por saber da importância de formar bons policiais, com princípios. Também cursava direito em Jaú, mas parei e terminei depois, em São Paulo. Aprendi muito nesta época, porque assumi muitas funções, substituindo titulares de forma temporária, no Copom, setor financeiro, agência de inteligência. Em 2012, promovido a capitão, assumi o comando do policiamento de Cândido Mota e, em 2013, por ter perfil disciplinador, fui chamado para comandar a Companhia Ambiental, que estava com problemas.
JC - Conseguiu colocar a casa em ordem?
Nilson - Era um mundo novo, ouvia histórias, não conhecia as atividades e as pessoas, mas tinha um policial amigo de infância, em quem eu confiava, e fui estudar. Lá, alterei processos internos para ter mais controle sobre o atendimento das ocorrências. Sou muito ligado a controle de qualidade, estatísticas e, em 2014, recebemos o prêmio Polícia Cidadã do Instituto Sou da Paz, por maior redução de roubos em área rural no Estado. Foram seis anos maravilhosos e, no fim, já estava dando aula sobre gestão ambiental no Senac e Senar. Na promoção a major, em 2019, me tornei coordenador operacional do 4.º BC e, em 2021, fui para o 13.º Baep um período como subcomandante e outro como comandante interino.
JC - Como chegou ao comando do 4.º BC e qual é sua meta?
Nilson - Já tenente-coronel, voltei ao CPI-4 e, em janeiro de 2024, assumi o comando do 4.º BC. Tive uma carreira com muitas mudanças, que me trouxe experiência e me permite ter visão ampla. Ainda em 2019, trouxe um sistema de gestão operacional para o batalhão, via aplicativo, objeto do meu doutorado. Ele permite o controle de viaturas e atendimentos em tempo real, além da geração de estatísticas, que ajudam a direcionar nossa atuação. Agora, como comandante, como gosto de conversar, estar próximo à população, meu desafio é potencializar esta habilidade na corporação. Este contato é fundamental para a população confiar e ser parceira da PM na prevenção e solução dos problemas que afetam a comunidade.
O que diz o comandante
'Aos 10 anos, após visitar o CPI-4 com a escola, voltei com o sonho de ser policial militar'
'Dou aula há 24 anos na Escola de Soldados em Bauru por saber da importância de formar bons policiais'
'Tive uma carreira com muitas mudanças, que me trouxe experiência e me permite ter visão ampla'