OPINIÃO

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Por Claudia Zogheib | 26/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min

A autora é psicanalista, especialista pela USP – Departamento de Psicologia, Psicóloga Clínica formada pela USC, responsável pelas páginas Cinema e Arte no Divã e Auguri Humanamente

No campo da psicanálise a noção de sujeito e subjetividade constituem a própria essência do que denomina campo psicanalítico, e são compostos por duas regiões que não admitem seu desmembramento: o aparelho psíquico e o campo pulsional.

Freud considerava o quão difícil é viver e dizia que o sofrimento nos ameaça por três vias: a decadência do próprio corpo, o mundo exterior e as relações com os outros, destacando que o sofrimento advindo dos relacionamentos humanos somando-se a constatação de que a finalidade de evitar o sofrimento se sobressai a busca pelo prazer, considerando que a procura de uma satisfação ilimitada é uma norma de conduta tentadora mas que não se sustenta, e considerou que o sujeito tem três formas para diminuir o sofrimento que seriam: distrações que fazem parecer pequena a nossa miséria, satisfações substitutivas que a reduzem, e os medicamentos que nos tornam insensíveis a ela, referindo-se também ao isolamento social como maneira de evitar o sofrimento que vem do relacionamento humano.

A subjetividade definida em duas ordens de funcionamento relativas ao consciente e ao inconsciente, e essencialmente constituída pela sintaxe inconsciente, sendo o sujeito um ser de desejo que se constitui por sua inserção em uma ordem simbólica que o antecede e é atravessada pela linguagem, evidenciam um abalo associado ao conceito de sujeito em estado limite e a mercê de um outro pouco interditado e marcado por uma falta simbólica e, portanto, imaginariamente passível de completude que o torna suscetível a apatia, alienação e angústia, estas que são marcas comuns em que a falta não se instala de maneira efetiva.

Em defesa de uma suposta felicidade que pretende superar todo e qualquer limite suprindo toda e qualquer falta, o declínio da castração se torna evidente e produtor de condutas e atuações delirantes e transgressoras, e neste sentido, quando o enlace entre subjetividade, modo de vida e busca da felicidade se estabelecem como união que se pensam entre si, haveria neste modo de vida um caminho que a tanto tempo Freud apontou como via possível de integração e conhecimento de si mesmo como sendo o que torna possível o indivíduo se tornar ele mesmo.

A psicanálise não tem a prerrogativa de dissolver nada, mas precisamente o que a clínica nos ensina é que a solução vem fornecida pelo próprio sujeito intermediado por uma escuta qualificada que o ajude a se escutar, integrando todos os seus desmembramentos que em descompasso desorganizam o próprio sujeito e lhe causam sintomas que se não olhados o fazem padecer de um sofrimento sem compreensão e de saber como ele participa ativamente deste emaranhado de situações.

O contato consigo próprio através da psicanálise tem nos mostrado que cada vez que nos escutamos, mais aprendemos sobre nós descobrindo caminhos que se desdobram em autoconhecimento.

Em teoria dos nós um enlace é uma coleção de nós que não se cruzam, mas que podem ser ligados. Em psicanálise se justifica pelo fato de que tudo está interligado porque somos nós que estamos vivendo o sofrimento, as alegrias, as distorções, os sintomas, as somatizações que ainda estão sem nomeação, mas que depois de nomeá-los podemos integrar as partes cindidas nos aproximando de nós mesmos. Depende individualmente de cada um de nós, ou seja, do quanto estamos dispostos a nos enfrentar.

Música "One Last Dance" com Us The Dou.

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