CULTURA

Com ‘vento nos pés’, Ziraldo conheceu ‘meninos maluquinhos’ de Bauru

Escritor e cartunista interagiu com pequenos bauruenses, quando visitou a cidade para assistir à peça sobre suas obras

Por Guilherme Matos | 14/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min
da Redação

Divulgação

Era 31 de outubro de 1984, quando o ‘Ziraldando’ foi apresentado durante a 1°Jornada Literária do Colégio São José
Era 31 de outubro de 1984, quando o ‘Ziraldando’ foi apresentado durante a 1°Jornada Literária do Colégio São José

Defensor da ideia de que ler é mais importante do que estudar, Ziraldo, o pai de "O Menino Maluquinho", esteve em Bauru para assistir a uma obra musical, que transitava por outros livros seus. Era 31 de outubro de 1984, quando o 'Ziraldando' foi apresentado durante a 1° Jornada Literária do Colégio São José. Oportunidade em que o chargista, escritor, dramaturgo, poeta, cronista e humorista, interagiu com as crianças e contribuiu para que 'meninas e meninos maluquinhos virassem adultos legais'.

"Ele tratava as crianças como seres perspicazes, dotados de esperteza e inteligência. Ele foi um craque das palavras, da psicologia infantil e da forma de se tratar os pequenos". É assim que a professora Élida Farias se lembra do artista, que morreu no último sábado (6).

"Os alunos se aproximaram e vivenciaram a arte. Isso não tem preço em um processo pedagógico. Foram impactados pela obra e pelo contato com o autor", acrescenta. Hoje, 41 anos depois, Élida ressalta a importância do escritor para os jovens bauruenses presentes no evento (além dos milhares que não estiveram lá), também impactados por títulos como "Flicts", "Além do rio", "Pelegrino & Petrônio".

A IDEIA

Conforme relembra Élida, a obra de Ziraldo já era, de certa forma, "polêmica". "Na época, os livros dele já tratavam de assuntos como racismo e a homofobia, o que não era comum". Ela descreve o conteúdo como uma "ousadia pedagógica". No entanto, quando ela propôs à diretoria do colégio a ideia de trazer as publicações para a sala de aula, não enfrentou resistências e contou, inclusive, com o apoio de outros professores.

A partir do engajamento da instituição de ensino e dos próprios alunos, surgiu a proposta de fazer um teatro sobre Ziraldo. Ela, então, escreveu uma obra musical, batizada de 'Ziraldando', em que reunia diversas histórias do artista, todas costuradas a partir do seu personagem mais famoso: "O Menino Maluquinho".

A sala de Élida, formada por crianças de 11 a 13 anos, aderiu ao projeto e a professora, por sua vez, convidou o autor para prestigiar. Ela contou com o apoio da papelaria Jalovi para custear a viagem, além da própria escola para patrocinar os cenários e figurinos do teatro.

O ARTISTA

Ziraldo topou o convite. "Durante o dia, ele visitou toda a feira, inclusive, com outros trabalhos a respeito da obra dele. O escritor ainda deu entrevistas e conversou com diversas crianças e adolescentes. À noite, ele e a esposa prestigiaram a peça, que foi um sucesso. O teatro ficou lotado. Depois precisamos fazer uma turnê em cidades vizinhas e outros espaços", narra Élida.

A presença do autor trouxe, também, um incentivo para que a escola convidasse outras lendas da literatura para compor as edições seguintes do evento. A visita de Ziraldo permitiu, ainda, uma oportunidade de vivenciar "uma aula viva", quando foi possível 'humanizar' do autor. "Eles conversam e perceberam que é gente como a gente. Ao mesmo tempo em que a leitura dos livros já trazia muita riqueza. Ele deu muita atenção para os alunos", descreve. Será que os estudantes voltaram para casa com menos 'macaquinhos no sótão'?

Matéria publicada no Jornal da Cidade em 19 de outubro de 1984 trata da peça ‘Ziraldando’
Matéria publicada no Jornal da Cidade em 19 de outubro de 1984 trata da peça ‘Ziraldando’
Panfleto de divulgação da peça ‘Ziraldando’
Panfleto de divulgação da peça ‘Ziraldando’
Foguete original, desenhado por Ziraldo, e que foi uma parte do cenário da peça (crédito: Arquivo Pessoal/Élida Farias)
Foguete original, desenhado por Ziraldo, e que foi uma parte do cenário da peça (crédito: Arquivo Pessoal/Élida Farias)

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