COLUNISTA

'Sou Eu mesmo tocai em mim e vede'

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 3 min
Bispo Emérito de Bauru

A palavra "domingo" vem do latim "dies dominica" que tem também raiz grega. Traduzindo: dia senhoril ou dia do Senhor. Mas que Senhor? É o Senhor Jesus ressuscitado. Domingo é também dia dos fiéis que participam do senhorio do Ressuscitado.

Naturalmente, todos os dias da semana são dias do Senhor, mas o primeiro dia da semana é o Domingo, porque foi neste dia que o Senhor Jesus ressuscitou, derrotando o pecado e vencendo a morte e tornando-se o Deus Salvador e o Senhor da vida. O que o sábado dos judeus significava - a passagem libertadora de Deus que fez Aliança com o seu povo eleito no Sinai, a Páscoa judaica - foi prefiguração da Páscoa de Cristo que sintetiza a passagem de Deus por Jesus Cristo a este mundo, salvando o homem do pecado e estabelecendo com ele a nova e eterna aliança. Para os judeus era no sábado que eles celebravam semanalmente a sua Páscoa, a passagem de Deus e do povo de Israel. Para nós, cristãos, segundo explica o Concílio Vaticano II, o Domingo é o dia da festa primordial, a Páscoa de Cristo. A "Sacrosanctum Concilium" afirma que "Por tradição apostólica que tem sua origem do dia mesmo da ressurreição de Cristo, a Igreja celebra cada oitavo dia o mistério pascal, naquele que se chama justamente dia do Senhor ou Domingo. Neste dia, pois, os fiéis devem reunir-se em assembléia para ouvirem a Palavra de Deus e participarem da Eucaristia, e assim recordarem a paixão, ressurreição e glória do Senhor Jesus e elevarem graças a Deus que os 'gerou de novo pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos para uma esperança viva' (1Pd 1,3)" (SC n. 106). Prosseguindo neste n. 106, a Sacrosanctum Concilium faz esta peremptória afirmação: "O Domingo é, pois, o principal dia de festa que deve ser lembrado e inculcado à piedade dos fiéis: seja também o dia da alegria e da abstenção do trabalho. As outras celebrações não lhe sejam antepostas, a não ser as de máxima importância, porque o Domingo é o fundamento e o núcleo central do Ano Litúrgico".

O Evangelho da santa Missa de hoje, terceiro Domingo da Páscoa, é de São Lucas 24,35-48. O Ressuscitado aparece aos discípulos numa refeição e lhes explica as Escrituras. Eles pensam que estão vendo um fantasma, mas Jesus lhes diz: "Sou Eu mesmo. Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne nem ossos, como estais vendo que eu tenho". Depois, Jesus pede-lhes alguma coisa para comer. Eles lhe oferecem peixe assado e Ele come diante deles. Então, Jesus lhes diz: "São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na lei de Moisés, nos profetas e nos salmos". Estas coisas se resumem no que está escrito a respeito do Messias, sobretudo, que deveria sofrer e morrer e, no terceiro dia, ressuscitar. É verdade que o sepulcro foi encontrado vazio, mas o que convencia mesmo foram as suas aparições. Como disse São Pedro, segundo os Atos dos Apóstolos, "Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido, a nós, que comemos e bebemos com Jesus depois que ressuscitou dos mortos" (At 10,40-41).

A teologia litúrgica ensina que os cristãos devem ser pessoas dominicais, isto é, que devem viver sua vida em Cristo. A Eucaristia dominical que eles participam semanalmente os ajuda, verdadeiramente, a viver no Ressuscitado. Ao mesmo tempo, os impulsiona à missão. A missão dos discípulos de Jesus e da Igreja por Ele fundada, ontem, hoje e sempre, é de testemunhar a sua morte e ressurreição para todos os homens e mulheres a fim de que, crendo nele, se convertam, se alegrem com a misericórdia de Deus, obtenham o perdão dos pecados, gozem da vida divina, lutem pela construção de uma sociedade solidária, uma fraternidade aberta a todos e uma amizade social criadora da paz no mundo e construtora do Reino de Deus, desde aqui e agora.

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