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Germofobia: Medo excessivo de se contaminar com vírus ou bactérias

Promover a saúde do corpo e da mente em busca de equilíbrio é fundamental

Por Eduardo F. Filho | 24/03/2024 | Tempo de leitura: 5 min

Apesar de serem frequentemente relacionadas a doenças, algumas bactérias podem ser benéficas para os seres humanos, principalmente para as crianças
Apesar de serem frequentemente relacionadas a doenças, algumas bactérias podem ser benéficas para os seres humanos, principalmente para as crianças

Em julho de 2019, a modelo Naomi Campbell publicou um vídeo na internet mostrando o ritual de limpeza que faz toda vez que entra em um avião. De dentro de sua bolsa de viagem, ela tira um par de luvas de látex, coloca nas mãos e logo em seguida pega um pacote de lenços antibacterianos. Campbell, então, começa a higienizar tudo.

Recentemente, Naomi voltou a chamar atenção ao criar uma linha de roupa com mais de 40 peças antibacterianas, de ternos a calças de moletom. Esse medo excessivo de ser contaminado por vírus, germes ou bactérias tem nome: germofobia ou misofobia. Se não tratado, ele pode desencadear crises sérias de ansiedade e até mesmo transtornos obsessivos-compulsivos de limpeza.

A patologia pode aparecer através de métodos triviais que visam a prevenir a contaminação, como tirar os sapatos ao chegar em casa com receio de trazer bactérias da rua, lavar as mãos mais de 25 vezes ao dia e não estar satisfeito com a limpeza a ponto de causar fissuras e machucados na pele ao higienizar todos os cômodos da casa nos mínimos detalhes várias vezes, tomar banhos de uma hora, passar o sabonete mais de três vezes pelo corpo, utilizar o álcool gel toda vez que tocar em maçanetas ou botões ou sair de máscara facial para todos os lugares, mesmo sem sintomas gripais. Até chegar ao extremo de restringir o contato com outras pessoas, recusando-se a apertar a mão, tocar, beijar ou abraçar, com pânico de vírus e bactérias.

"As pessoas imaginam que esses rituais vão amenizar o medo irracional e persistente delas de serem contaminadas, mas não percebem que isso acaba virando um ciclo vicioso paralisante, que causa mais angústia e não leva a nada. Elas acabam se isolando das outras pessoas, tendo uma vida empobrecida, sobrevivendo às angústias que criam", explica a psicanalista e membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro Renata Bento.

A especialista explica a diferença entre medo e fobia. O primeiro, diz ela, é um sentimento inquietante fundamental, porque nos protege em diferentes momentos de nossa vida, ativando mecanismos de defesa. O problema é quando ele ultrapassa o limite do razoável e fica excessivo, atrapalhando a vida social, aí se torna uma fobia.

"Toda vez que saímos de casa, sabemos que algo de ruim pode acontecer, é algo concreto com que lidamos, mas preferimos pensar que estamos protegidos e nada vai acontecer. As pessoas que têm este tipo de fobia pensam apenas com o concreto e começam a viver acreditando que todas as coisas ruins vão acontecer com elas. Elas não criam essas defesas inconscientes e ficam 100% na possibilidade, esquecendo de viver", afirma a psicóloga Carla Maia, especialista em desenvolvimento emocional e saúde mental de mulheres, crianças e adolescentes.

PANDEMIA PROVOCOU O AUMENTO DE ANSIEDADE

A psicóloga Carla Maia explica que toda a população mundial viveu uma fase de germofobia durante a pandemia de Covid-19, quando não podíamos sair de casa para não espalhar o coronavírus. Naquele momento, além do medo da doença, as pessoas também estavam assustadas com as imagens dos hospitais cheios, as chances desconhecidas de cura e o risco iminente de morte.

Isso causou um aumento de casos de ansiedade em crianças, jovens e adultos. Uma publicação divulgada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos divulgou que a proporção de atendimentos em emergências de hospitais relacionados a condições mentais em crianças de 5 a 11 anos aumentou 24% durante a fase mais crítica da pandemia.

Outro estudo, realizado pela Sociedade Americana de Psicologia, revelou que cerca de 75% dos adultos entrevistados citaram a pandemia como uma fonte significativa de ansiedade. O adoecimento mental já atinge um bilhão de pessoas em todo o mundo - uma a cada oito - segundo dados da Organização Mundial de Saúde. O cenário desencadeou aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo, só no primeiro ano de pandemia.

"À medida que a coisas voltaram ao normal, com a chegada da vacina, nós nos habituamos a isso, mas tem pessoas que ainda estão paralisadas, vivendo uma vida isolada, com rigidez psíquica, o que traz muito sofrimento. Elas precisam aprender a controlar as coisas internas do corpo e não as externas", explica Maia.

Os cientistas já descobriram que a solidão e o isolamento social elevam a mortalidade em cerca de 30%, causando risco de doenças cardiovasculares, mentais, derrames e demências.

COMO SE PROTEGER

"A melhor forma de proteção contra vírus e bactérias é se vacinar e buscar ter um estilo de vida mais saudável com boa alimentação e a prática regular de exercícios físicos", afirma o patologista Hélio Magarinos. Se for constatado que há uma doença psíquica, é necessário buscar a ajuda de profissionais como psicólogos e psiquiatras. "Esses pacientes precisam ser escutados em sua singularidade. Entender que eles têm esse sofrimento e precisam de ajuda. A família pode ajudar também tentando trazer clareza para o paciente, dizer que ele não está bem e encaminhá-lo para um atendimento. Eles precisam ampliar a capacidade de pensar, sair do isolamento mental e físico e entender que o ritual não vai levar a nada, apenas a mais angústia", explica a psicanalista Renata Bento.

BACTÉRIAS AMIGAS PROTEGEM CONTRA DOENÇAS

Apesar de serem frequentemente relacionadas a doenças, algumas bactérias podem ser benéficas para os seres humanos, principalmente para crianças, porque ajudam a fortalecer a imunidade, além de serem fundamentais para a homeostase corporal, ou seja, o equilíbrio constante das funções biológicas.

"É como se nosso corpo fosse um ônibus, e essas bactérias são os policiais que estão dentro do ônibus. Se os retirássemos, os bandidos, que seriam as bactérias patogênicas, entrariam e produziriam doenças. O contato de uma criança com o meio ambiente, com os animais, terra, areia faz com que essas bactérias boas cresçam, ou seja, quanto mais você criar o seu filho numa redoma de vidro, com cuidados higiênicos excessivos, menor será a quantidade de policiais dentro do ônibus para lutar contra as novas doenças", explica o infectologista Roberto Figueiredo, também conhecido como Dr. Bactéria.

Segundo o médico, se uma pessoa lavar a mão mais de 10 vezes por dia, as bactérias tendem a aumentar, porque, além de usar produto químico para a lavagem, há a redução do microbioma da região, que são as bactérias boas presentes na pele. O mesmo acontece com o excesso de banhos.

Figueiredo afirma que as pessoas podem tomar mais de um banho por dia, desde que apenas em um sejam usados sabonete e xampu. O excesso desses produtos pode levar a infecções de pele.

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