OPINIÃO

O crime na era digital

Por Zarcillo Barbosa | 23/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é jornalista

A internet exerceu impacto considerável sobre o crime organizado, com o advento de hackers e programadores que substituíram a violência dos capangas ou matadores de aluguel, por técnicas sofisticadas de computação em seus atos ilícitos.

Interessante a conclusão do analista norte-americano Misha Glenny, que li num jornal da Flórida, considerando ainda que o crime cibernético se tornou capaz de atos ilícitos graves sem ter que recorrer à violência. Há cerca de dois anos, hackers russos capturaram o sistema de contas do grupo JBS nos Estados Unidos e Canadá. A empresa achou ser mais barato pagar 11 milhões de dólares de resgate, para desbloquear o programa. Sem ele, os prejuízos seriam incalculáveis.

Nos meus tempos de universidade, colegas tinham que dar telefonemas com conversas crípticas, e enfrentar vielas escuras na periferia, para conseguir um pacauzinho de maconha. Os iniciados tinham um repertório de, pelo menos, uns sessenta nomes para encomendar a erva: marijuana, diamba, baseado, cigarrinho do capeta, perna de grilo, finório, bagulho e xibaba, eram os mais conhecidos. Havia muito medo da vigilância policial e dos dedos-duros.

Hoje em dia, tudo se tornou muito mais fácil. Os estudantes compram suas drogas on-line e elas chegam de bicicleta ou motoboy. Informa o articulista que as indicações dos fornecedores de drogas são postadas na dark web (internet oculta, que só pode ser acessada com navegadores especiais). A tecnologia levou a uma redução do preço e a um aumento da pureza de drogas como a cocaína. É uma operação eficiente e quase sempre sem estresse - garante o pesquisador.

O crime cibernético surgiu de forma modesta nos anos 1990, com jovens hackers que interferiam em sites ou apagavam dados de computadores pessoais por diversão.

Em pouco tempo, ao roubar acesos a cartões de crédito e débito, se tornaram protocriminosos, ou seja, antes mesmo da tipificação penal. Os criminosos cibernéticos desenvolvem seus talentos entre 12 e 15 anos; eles vêm de todas as classes sociais, países e etnias. Têm nível de inteligência e cultura superiores aos dos mafiosos, desses que a gente vê em filme classe B.

As principais organizações policiais do mundo, como a Scotland Yard, FBI, Europol e a nossa Polícia Federal, hoje se dedicam, prioritariamente, a compreender e combater a digitalização do crime organizado. Por uma questão prática, foram atrás dos que detêm conhecimento sobre os processos, ou seja, os próprios hackers processados. O pagamento tem sido a liberação de cumprimento de penas em prisões fechadas e até de pagamento de bonificações por serviços prestados. Estão certos. Quem não tem suficientes engenheiros de segurança cibernética em seus quadros, tem que se virar de alguma forma para proteger a sociedade.

As gangs com seus velhos métodos, também estão tratando de se modernizarem. No início do ano, a polícia belga deteve traficantes de drogas que haviam recrutado dois hackers para invadir o sistema de computadores de um porto. Isso permitiu que a quadrilha rastreasse todos os contêineres que entravam e saíam do local e roubasse aqueles que sabia estarem carregados de cocaína.

Em São Paulo, quadrilhas especializadas em furtos residenciais vasculham toda uma rua de potenciais alvos por meio de drones. Monitoram as idas e vindas dos moradores usando vídeo e contas de mídia social. Planejam o momento de ação de acordo com esses dados. Na Flórida, um assaltante simplesmente perguntou à Alexa da residência, o código do alarme contra roubo. Inocente, a assistente digital forneceu.

Os lucros do crime tecnológico estão crescendo e a cobiça que geram é difícil de conter. Os hackers estão cada vez mais próximos de paralisar partes da infraestrutura crucial de um país. O mundo precisa desenvolver uma estratégia adequada para enfrentar esse problema.

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