ECONOMIA

A Taxa Selic cai novamente

Por Reinaldo Cafeo | 23/03/2024 | Tempo de leitura: 4 min

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, chegando a 10,7 ao ano. Essa é a sexta queda consecutiva da Selic desde agosto do ano passado. A expectativa do mercado financeiro é de que a taxa de juros continue recuando em 2024. No entanto, o Copom indicou uma possível redução no ritmo de cortes. A decisão foi unânime e coloca a taxa no mesmo patamar de fevereiro de 2022.

O que esperar daqui para frente?

O Comitê informou que fará apenas mais uma redução de 0,5 ponto na próxima reunião, em maio. Isso aumenta a chance de a autoridade pausar o ciclo de cortes a partir de junho. O afrouxamento monetário total chegaria a 3,00 pontos percentuais, mais da metade do caminho previsto pelo Boletim Focus, que projeta uma taxa de juros de 8,50% no fim do ciclo em 2025. Em relação à inflação, as projeções para 2024 e 2025 tiveram algumas variações, mas a autoridade monetária está atenta à evolução da dinâmica inflacionária, expectativas de inflação, hiato do produto e balanço de riscos.

Nos Estados Unidos a taxa foi mantida

O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, manteve a taxa de juros inalterada pela quinta reunião consecutiva, permanecendo na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. Essa taxa é a mais alta desde 2001. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), responsável pelas decisões de política monetária, reafirmou que não considera apropriado reduzir o intervalo de juros até que haja maior confiança de que a inflação está evoluindo de forma sustentável para 2%, que é a meta do Fed. A inflação oficial dos Estados Unidos está atualmente em 3,2% no acumulado de 12 meses até fevereiro.

Detalhes da decisão do Fomc

O Fomc também observou que a atividade econômica do país tem se expandido em um ritmo sólido e que os ganhos no emprego permaneceram fortes, com a taxa de desemprego mantendo-se baixa. Essa declaração representa uma leve mudança em relação ao comunicado anterior, quando o colegiado mencionou ganhos moderados nos dados de emprego. Os juros mais elevados nos Estados Unidos têm impactos significativos, aumentando a rentabilidade dos Treasuries (títulos públicos norte-americanos) e influenciando os mercados de ações e o valor do dólar. Investidores têm migrado cada vez mais para os EUA em busca de melhor remuneração. Além disso, os efeitos dos juros altos indicam uma tendência de desaceleração econômica global, uma vez que empréstimos e investimentos também se tornam mais caros.

Por que os juros no Brasil são mais elevados do que nos Estados Unidos?

Sempre há um questionamento do porquê a taxa básica de juros no Brasil é superior a praticada nos Estados Unidos. Vamos levantar alguns pontos para reflexão. A formação das taxas de juros leva em conta a projeção de inflação e o prêmio pelo risco. O Banco Central trabalha com metas de inflação, para tanto são considerados: consumo das famílias, o nível de investimento, o câmbio, o nível de crédito e as expectativas dos agentes econômicos. Para este ano, a meta é de 3,0% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.

Copom

Apesar de o Copom ter a meta de 3% ao ano para inflação, é avaliado o patamar futuro efetivo da inflação. Aí começa a definição da taxa. Caso considere a mediana da projeção do mercado, que é de 3,79% para este ano, este já será o primeiro parâmetro. O Brasil apresenta um nível de risco aos investidores, que é definido pelas agências de risco. O país opera com nível de risco na casa dos 200 pontos. Isso quer dizer que o investidor estrangeiro tem expectativa de ganhos de 2 pontos percentuais acima da inflação futura. Assim, se considerarmos 3,79% acrescida de 2 de p.p. chegamos em 5,79% ao ano. Acontece que se fosse esse nível de taxa de juros, os investidores iriam preferir investir em países mais seguros, como os Estados Unidos. Aqui o Copom avalia as taxas praticadas nas principais economias. Tomando os Estados Unidos com taxa anual entre 5,25% e 5,50%, é evidente que o Copom não pode e não deve praticar os 5,79%. Teríamos uma saída em massa de dólares, elevando a cotação, e pressionando a inflação.

Outras variáveis

Além disso, há muitas dúvidas sobre a execução fiscal do governo. Risco adicional que precisa se precificado. Assim, para manter a atratividade para rolagem da dívida pública, para oferecer o prêmio pelo risco de investir no Brasil, considerando que nossa economia não é madura, e que nossa moeda não é aceita internacionalmente como o dólar, o Banco Central tem que ser conservador e elevar o prêmio de risco. Desta maneira, uma Selic na casa dos 8,5% e 9,00% ao longo do tempo é compatível com este ambiente, porém, no curto prazo é preciso esperar quedas nos juros nos Estados Unidos (para não ser tão atrativa aos investidores), a execução orçamentária deste ano, a eliminação da pressão inflacionário, notadamente dos alimentos, para depois, diante de um ambiente benigno ter uma taxa real (acima da inflação) na ordem de 4% a 5%.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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