POLÍTICA

Chiara assume União Brasil e quer reviver os tempos áureos do DEM

Antigos colegas do Democratas já fazem parte da nova comissão provisória do União Brasil, que surgiu da fusão entre DEM e PSL

Por André Fleury Moraes | 02/03/2024 | Tempo de leitura: 4 min
da Redação

Guilherme Matos

A vereadora Chiara Ranieri (União Brasil) em entrevista ao JC, na última quinta-feira (29)
A vereadora Chiara Ranieri (União Brasil) em entrevista ao JC, na última quinta-feira (29)

A vereadora Chiara Ranieri (União Brasil) assumiu há cerca de duas semanas a presidência do União Brasil, legenda que surgiu da fusão do PSL com o DEM, partido até há alguns anos liderado por seu pai, Dudu Ranieri.

O União Brasil era comandado até o final de 2022 pelo advogado Caio Santos, ex-presidente estadual da OAB. A legenda permaneceu cerca de oito meses sem diretório.

"Quando houve a fusão, eu mesma pedi para não pertencer ao diretório. Queria saber como funcionariam as coisas", lembrou a parlamentar ao JC na quinta-feira (28). De volta ao partido que tem o DEM em suas raízes, Chiara quer agora reviver os tempos áureos da legenda cujo maior expoente em Bauru foi justamente seu pai.

Dudu também teve passagens pela Aliança Renovadora Nacional (Arena), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Social Cristão (PSC), Partido da Frente Liberal (PFL). Mas encontrou no Democratas (DEM) um caminho a ser trilhado.

Não é difícil reconhecer que o DEM fez história no município. O próprio Dudu Ranieri se elegeu vice-prefeito, mas preferiu dedicar a vida à Educação - o grande empreendimento da família.

Dudu se manteve nos bastidores. Sabia montar chapa de candidatos como ninguém - capacidade reconhecida pela velha guarda da política local - e conseguia manter a união de grupo numa época em que a política já passava por transformações no País.

"Tenho lembranças de reuniões políticas desde muito cedo. Claro que essa percepção é facilitada quando você tem um pai que vive isso, que se dedica a isso", lembra a vereadora.

As aulas no Liceu Noroeste terminavam no horário do almoço. "Eu voltava para casa com ele. E ouvíamos no rádio o noticiário político, por exemplo, e reconhecia a voz dos entrevistados. Eram frequentadores da minha casa", completa.

Chiara se formou em análise e desenvolvimento de sistemas, mas não demorou para trilhar os caminhos do pai. Candidatou-se pela primeira vez em 2000 numa candidatura a princípio não planejada.

Naquela época, os partidos tinham de indicar previamente os nomes dos candidatos e podiam substitui-los posteriormente.

Legendas costumavam usar naquela época pessoas que nem se candidatariam para ganhar tempo para analisar os potenciais candidatos - após o período de indicações, não era mais possível ampliar o número de potenciais postulantes à disputa.

"E quando chegou na convenção [partidária], ele pediu que os candidatos se levantassem. Eu me levantei. Ele resistiu bastante", conta. Tanto que, no início, Dudu saía para fazer campanha sem levar a filha - que sempre o acompanhou nos comícios e nas reuniões. Não demorou para que as encomendas de campanha de Chiara chegassem à sua casa, onde o pai também morava. "Ele viu nesse momento que não tinha mais volta", explica. Chiara teve mais de mil votos, mas não foi eleita.

Depois, na eleição de 2004, se candidatou a vice na chapa encabeçada por Luiz Carlos Valle, mas sem sucesso diante da candidatura mais do que competitiva do ex-prefeito Tuga Angerami (PDT).

Chiara foi eleita pela primeira vez em 2008 numa lista de candidatos escolhida a dedo por Dudu. "Não havia diferenciação. O tempo de televisão, por exemplo, era o mesmo para todos que estavam na disputa. Não é porque eu era filha que teria a mais. Isso era reconhecido", relata.

Visionário por natureza, as indicações ou declarações de Dudu Ranieri eram aclamadas pelo grupo quase que sem contestação. Se havia divergências, no entanto, o presidente do DEM mediava a discussão e observava os argumentos.

"É algo difícil de ver hoje. Essa noção de que política se faz em grupo, e não individualmente", pontua. "Hoje vemos 'carreiras solo' dentro da política. Há candidatos de si mesmo. O DEM tinha vida orgânica, um conteúdo programático", diz.

Montar a chapa é um processo trabalhoso, mas Dudu se fez mestre nesta tarefa. Entre 2000 e 2016 - última eleição municipal da qual participou antes de sua morte, em 2019 -, afinal, o DEM só não elegeu vereador na eleição de 2012. Em 2017, enquanto isso, compensou a perda: emplacou três parlamentares na Câmara de Bauru.

É essa a tarefa que Chiara herda agora. A dor de cabeça já começou: ela terá de regularizar a situação da legenda perante a Justiça Eleitoral, medida que não foi feita pela diretoria anterior.

"Recebi um pedido de regularização em casa sendo que nem participava da comissão provisória", pontua. O documento veio da diretoria estadual da legenda. "Mas eu me dispus a tocar o partido. E chamei os antigos colegas do DEM, o DNA do DEM", diz.

O vereador José Roberto Segalla, amigo de longa data de Dudu Ranieri e cujo caminho na política foi trilhado pelo DEM, é o vice-presidente do diretório municipal.

Chiara afirma que a legenda deverá permanecer na oposição, num seguimento à postura que ela e o colega Segalla adotam na Câmara. "Mas ainda é prematuro definir se teremos candidato a prefeito", diz.

Cebolão, Dudu Ranieri, Cícero Domiciano, Arlindo Savi e Osvaldo de Oliveira, em comício em 24 de outubro de 1976 (crédito: Arquivo pessoal)
Cebolão, Dudu Ranieri, Cícero Domiciano, Arlindo Savi e Osvaldo de Oliveira, em comício em 24 de outubro de 1976 (crédito: Arquivo pessoal)
Dudu Ranieri (de costas) conversa com Jânio Quadros, em visita do ex-presidente à casa da família em Bauru (crédito: Arquivo pessoal)
Dudu Ranieri (de costas) conversa com Jânio Quadros, em visita do ex-presidente à casa da família em Bauru (crédito: Arquivo pessoal)
Em comício do PTB, Dudu Ranieri ‘segura’ a filha Chiara, que acompanhou a trajetória política do pai desde cedo (crédito: Arquivo pessoal)
Em comício do PTB, Dudu Ranieri ‘segura’ a filha Chiara, que acompanhou a trajetória política do pai desde cedo (crédito: Arquivo pessoal)

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1 COMENTÁRIOS

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  • Tati
    02/03/2024
    Já votei na Chiara e percebi que como Vereadora, ela cumpre seu papel de agente fiscalizadora. Só espero que o partido dela não exale preconceitos tolos e ódio aos pobres como já vimos muitos políticos por aí... que na paz, consigam soluções pros problemas de Bauru, que não são poucos, e ela, já conhece todos!