ENTREVISTA

Leandro Avila Rodrigues (Foguinho); ele enxerga e forma talentos

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Guilherme Matos
Leandro Avila Rodrigues, o Foguinho, foi olheiro do São Paulo
Leandro Avila Rodrigues, o Foguinho, foi olheiro do São Paulo

Com metade de seus 38 anos dedicados a identificar e lapidar jovens promessas no futebol, Leandro Avila Rodrigues, o Foguinho, é o novo coordenador do departamento de formação de novos talentos do Noroeste. Integrado ao clube neste mês, ele terá a tarefa de montar o elenco das categorias sub-15 e sub-17 visando o Campeonato Paulista de Base, que terá início entre abril e maio.

Nascido em Agudos, Leandro mudou-se para Bauru com a família ainda criança, quando já sonhava ser jogador de futebol. Os planos foram alterados quando estava prestes a migrar da base ao adulto. Durante uma corrida na rua, conheceu um garoto habilidoso com a bola nos pés e descobriu, a partir dali, sua verdadeira vocação.

De lá para cá, já são 19 anos de trabalho, tendo passado por sua mentoria talentos como o zagueiro João Victor, ex-Corinthians, Benfica e atualmente no Vasco, entre outros nomes conhecidos dos amantes do futebol. Formado em educação física, Leandro tem MBA em gestão e marketing esportivo e é dono do Centro de Formação de Atletas Foguinho Sports.

Foi, ainda, olheiro do São Paulo e do Desportivo Brasil e, em 2014, técnico do sub-15 do Norusca. Atualmente, mantém parceria com o Palmeiras, indicando potenciais atletas de base ao clube.

Casado com Anaila e pai de Luisa, 4 anos, ele fala, nesta entrevista, sobre o início da carreira, como ascendeu rapidamente na profissão e sobre a importância da formação das categorias de base para o fortalecimento dos clubes. Leia, abaixo, os principais trechos.

JC - O que o trouxe a Bauru?

Leandro - Morei em Agudos, mas, criança, vim com meus pais para Bauru, porque eles foram trabalhar na Mezzani. Ele como operador de caldeira e ela, na produção das massas. Desde aquela época, já treinava, em busca de realizar o sonho de ser jogador de futebol. Tive oportunidade de jogar na base do Atlético Sorocaba, mas tive uma lesão no joelho e, quando fui fazer a transição ao profissional, fui para o Santacruzense, que não tinha boa estrutura. Com esse histórico, achei melhor parar. E, como sempre tive cachorro e até adestrei um pastor alemão preto meu, pensei em fazer faculdade de medicina veterinária.

JC - E o que o demoveu da ideia de seguir longe do futebol?

Leandro - Gostava de correr, até cheguei a treinar como fundista e participar de algumas competições regionais. Certo dia, em 2004, estava correndo no Horto Florestal e havia um campeonato no campo onde hoje é o ginásio do Sesi. Fui lá observar e vi um garoto, o Gabriel Storolli, jogando pela escola Chute Inicial Corinthians e me chamou atenção. Decidi ajudá-lo, o levei ao Ressaca Futebol Clube, passei a trabalhar voluntariamente com eles e peguei gosto, porque via talentos que não tinham oportunidades. Um deles era o França, que chegou a jogar no Noroeste e Palmeiras depois. Em 2004, era a terceira edição da Copa Big Boys e esse time foi muito bem. Em 2005, então, fui montar meu próprio projeto.

JC - Como foi essa experiência?

Leandro - Fiz uma parceria com o Paraná Soccer Technical Center (PSTC), de Londrina, que até hoje revela muitos jogadores, e criei o Centro Avançado de Formação de Atletas Infantis, a Cafai/PSTC. Comecei trabalhando com o sub-15, que eu já tinha uma base montada, e sub-13, que montei pegando meninos nos bairros, em Agudos. Mas só consegui cinco ou seis e pedi socorro ao Wilson Scioli, de Marília, que era revelador de talentos e me mandou a outra metade do time. Fiz a inscrição da Big Boys e os dois times foram finalistas, sendo o sub-13 campeão e o sub-15 derrotado nos pênaltis, invicto, tendo na equipe o goleiro menos vazado e o artilheiro do campeonato. Em 2006, já éramos a três equipes; em 2007, quatro; em 2008, oito e; em 2009, 11, sendo duas na sub-11 e três, cada, na sub-13, sub-15 e sub-17. Naquele ano, ganhamos nosso primeiro título na categoria sub-11, com o zagueiro João Vitor.

JC - Em que o projeto mudou de lá para cá?

Leandro - Não tínhamos a estrutura que temos hoje, campo com iluminação para treinos noturnos, mais professores. Em 2007, montei o Centro de Formação de Atletas Jovens Talentos, que, por incentivo dos amigos, passou a se chamar Centro de Formação de Atletas Foguinho Sports, com uma segunda unidade em São Manuel. Mas não fiz nada sozinho. Tive desde o início e tenho, até hoje, ajuda de muita gente. Atualmente, recebemos uma média de 12 observadores vinculados a clubes por ano e trabalhamos com cerca de 350 alunos de 4 a 17 anos. Mas, na faixa entre 16 e 17 anos, temos o mínimo possível, para focarmos nos que têm mais potencial. E, considerando a experiência que eu tive, não quero atrasar o futuro de meninos que podem perder tempo bitolados em ser jogador sem terem condições para isso. Infelizmente, são poucos os que conseguem unir o talento à disciplina e lapidar esse dom para chegar ao futebol profissional. Aos demais, tento ensinar o caminho do bem, para que tenham responsabilidade, uma profissão.

JC - Como está sendo o desafio de estruturar as categorias de base do Noroeste?

Leandro - Pretendemos ter as equipes sub-15 e sub-17 praticamente prontas até a primeira quinzena de março para o Campeonato Paulista, que normalmente começa em abril, e, no segundo semestre, montar o sub-20. Queremos ao menos 90% do elenco com atletas de Bauru e região para alojar o menor número possível no clube, pensando não só nos custos, mas também na valorização dos jogadores daqui, para que fiquem perto de suas casas, sejam formados nas nossas categorias de base e, quem sabe, até negociá-los com outros clubes, rentabilizando o Noroeste. O XV de Piracicaba, por exemplo, negociou a transferência do zagueiro Beraldo para a França por R$ 20 milhões. Outros times do Interior estão fazendo o mesmo e o Noroeste não pode ficar para trás. A diretoria do clube enxergou essa necessidade e precisamos fazer esse trabalho, que não dá resultado do dia para noite, a fim de que o clube suba à primeira divisão no Paulista e também tenha condições de disputar o Brasileiro.

O que diz o coordenador:

'Passei a trabalhar voluntariamente e peguei gosto, porque via talentos que não tinham oportunidades'

'Em 2006, o projeto tá tinha três equipes na Copa Big Boys; em 2007, quatro; em 2008, oito e; em 2009, 11'

'Queremos formar jogadores nas categorias de base e, quem sabe, até negociá-los com outros clubes'

Leandro com a irmã Letícia, o pai Joaquim e a mãe Cirlene
Leandro com a irmã Letícia, o pai Joaquim e a mãe Cirlene
Com Bruno Guimarães, da Seleção Brasileira e Newcastle, na Inglaterra
Com Bruno Guimarães, da Seleção Brasileira e Newcastle, na Inglaterra
Leandro com a filha Luisa e a esposa Anaila
Leandro com a filha Luisa e a esposa Anaila
Com Dhiego Wallace e Alexandre Colazelli, ex-alunos e atualmente professores do Foguinho Sports
Com Dhiego Wallace e Alexandre Colazelli, ex-alunos e atualmente professores do Foguinho Sports

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