CULTURA

Jards Macalé relê obra de Zé Kéti com Sergio Krakowski Trio em disco político

Fundado em Nova York, o Trio começou a fazer experiências com o samba em 2016 até chegar esse trabalho com Jards

Por FolhaPress | 31/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Divulgação

Jards Macalé e Sergio Krakowski Trio estão juntos há anos
Jards Macalé e Sergio Krakowski Trio estão juntos há anos

Rio de Janeiro - Pandeiro, piano e guitarra parecem caminhar a esmo, tateando o ar e construindo uma atmosfera rarefeita e tensa. Depois de um minuto, uma voz dá forma mais definida àqueles sons, entoando os versos conhecidos de "Opinião", cantados em andamento bem mais lento do que o de costume. As palavras ganham outro peso. A certa altura, ouvimos uma lista de nomes de negros vítimas da violência policial.

"Opinião" é uma das faixas de "Mascarada", álbum no qual Sergio Krakowski Trio e Jards Macalé unem forças para reler canções de Zé Kéti. A densidade angustiada da gravação, a inventividade livre do arranjo, a carga política presente ali "Opinião" guarda muito das características do projeto, registrado em 2019 em Nova York e lançado agora em vinil e nas plataformas de streaming pela gravadora Rocinante.

"Mascarada" foi uma decorrência do trabalho que o Sérgio Krakowski Trio grupo fundado em Nova York que, além do percussionista que o batiza, tem o guitarrista Todd Neufeld e o pianista Vitor Gonçalves? vem desenvolvendo nos últimos anos.

Depois de lançar em 2016 um disco de composições próprias, eles começaram a fazer experiências sobre o samba, inclusive com canções como "Mascarada". "Até que um dia Todd sugeriu que fizéssemos um disco em homenagem a Zé Kéti", diz Krakowski. "E ele mesmo trouxe a ideia de ser com Jards".

Na hora, Krakowski aprovou com entusiasmo. Veio à sua memória o dia em que Jards deu uma canja numa apresentação do Anjos da Lua grupo que comandava bailes de samba que marcaram época na Lapa nos anos 2000 e que tinha o percussionista na sua formação.

Krakowski conta como ficou impressionado ao dividir o palco com Jards naquela ocasião na Lapa. "O que une Jards e o trio é a reverência ao silêncio. O subentendido mais do que o explícito. Muito da expressividade dele se dá por aí. E naquela noite ele conseguiu criar a mágica, essa expressividade do silêncio, no Clube Democráticos, naquela zona, naquele esporro, naquela energia de festa. Tinha que ser ele agora. E Jards tem uma história de vanguarda, é o maluco que toparia essa aventura."

Pode-se dizer, porém, que a história de "Mascarada" começa bem antes, em 1965. Foi quando Jards começou a tocar no espetáculo "Opinião", que reunia Maria Bethânia substituindo Nara Leão, cantora da formação original, João do Vale e Zé Kéti. "Me tornei amigo de Zé Kéti. Saía com ele pela cidade, pra beber pelos bares, conhecendo seus sambas", afirma Jards.

Já ali, Jards se mostrava encantado pelas criações do compositor. "Em Acender as Velas, tem aquele momento em que a melodia sobe: O doutor chegou tarde demais. Isso é maravilhoso, é Villa-Lobos. E faz todo sentido com o que está sendo dito na letra", avalia.

"Acender as Velas" é uma canção sobre a banalidade da morte na favela. "Opinião" trata da manutenção da dignidade sob a opressão, na fala de uma pessoa que defende seu direito de morar no morro. "Prece de Esperança" clama pela paz "para não ver o mundo se matar". "Peço Licença" pede licença para o exercício do amor.

As quatro estão no disco. Krakowski conta que as letras dos sambas de Zé Kéti também motivaram a escolha por seu nome.

MASCARADA - ZÉ KÉTI
Onde: Disponível nas plataformas digitais
Autoria: Jards Macalé e Sergio Krakowski Trio
Gravadora: Rocinante

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