Com as mortes de Zagallo e Beckenbauer espaçadas por um dia, biografias importantes, de alto nível, poderiam ser feitas. Como Ruy Castro, um mestre dessa arte, sempre defendeu não escrever sobre vivos, poderia agora compor a tríplice coroa, incluindo Pelé, cuja morte completou um ano por esses dias. Prato cheio com os três reis e magos do futebol, todos multicampeões.

Futebol não é minha praia, mas é inegável sua importância cultural para o país. É tão importante na vida que poderia ser plasmado o termo biobola para essa dimensão esportiva. Outro que detestava o futebol era Lima Barreto, mas por motivos mais justos. Um século atrás o esporte era exclusivo de brancos. De qualquer forma, neste início de ano lembraram dos escritos satíricos de Lima Barreto, às vezes esquecidos, especialmente por ter escrito "Os Bruzundangas", uma série quase distópica de contos desse país imaginário semelhante a um existente na América do Sul. Um profeta? Que Lima Barreto continue sendo redescoberto. Muitas de suas crônicas sob pseudônimos ainda não vieram a público, e outros brasis são ali revelados, além da evidente Bruzundanga.

A biografia é uma oportunidade de refletir a história para além do biografado. Da mesma forma que a filosofia se baseia em fatos, às vezes isolados, para construir um pensamento que explique ou tente explicar a existência humana.

Assim, entre idas e retornos, para citar uma dos expoentes da filosofia, Márcia Tiburi volta à cena nacional, com livro novo avaliando o patriarcado, controverso, mantendo sua natureza (dela e dele). O título é longo: "Com os sapatos aniquilados, Helena avança na neve". A aguardamos outras publicações, pois admiro Márcia Tiburi pela honestidade em seus posicionamentos políticos. Leio com avidez suas avaliações filosóficas sobre a sociedade, sempre embasadas no melhor conhecimento construído. Não sei se conseguirão plasmar obra homogênea que amalgame futebol e filosofia, mas a dica fica lançada.