OPINIÃO

Redescobrir a leitura é preciso

Por Carlos Alberto Di Franco | 24/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é jornalista

A internet é uma formidável ferramenta. Mas não deve perder o seu caráter instrumental. O excesso de internet termina em compulsão, um tipo de desvio que já começa a preocupar os especialistas em saúde mental. Usemos a internet, mas tenhamos moderação. Precisamos, todos, redescobrir o prazer e a beleza da leitura. Estou de férias e dando voltas ao tema desta coluna. Qual será o tema? Bingo! Ocorreu-me compartilhar com você, amigo leitor, algumas obras. Espero, quem sabe, que o estimulem em suas férias de verão. Vamos lá:

O Óvio Ululante - As Primeiras Confissões (Editora Agir, Rio de Janeiro). Como dizia Nelson Rodrigues, a arte da leitura é a releitura". Comentário certeiro. Acabo de reler as memórias de Nelson Rodrigues, sua Confissões, condensadas no magnífico Óbvio Ululante. Trata-se de um dos maiores cronistas que o Brasil já teve. Seu conhecimento da alma humana, com seus picos de grandeza de seus abismos de miséria, fica esculpido num texto insuperável. Nelson foi um criador de tipos antológicos. Como o anônimo cidadão que lhe serviu para criar o Palhares, o canalha, o que atacava as cunhadas nos corredores". Ou a imortal grã-fina "com nariz de cadáver". Ou ainda, o sacerdote que o inspirou a criar o "padre de passeata". Seu texto, brilhante e saboroso, dissecava a alma humana e radiografafa a sociedade. Mas o que mais me impressiona é a atualidade do pensamento rodrigueano. Um livro fascinante.

O Quinto Movimento - Propostas para uma construção inacabada (Já Editora, Porto Alegre). Seu autor, Aldo Rebelo, é um estadista. Quatro vezes ministro de Estado, deputado federal em muitas legislaturas, presidiu a Câmara dos Deputados e, como relator, dotado de grande capacidade de convencimento, conseguiu aprovar um Código Florestal irretocável. Trata-se de um depoimento sobre a Centralidade da Questão Nacional que, segundo Rebelo, "é a ideia de que a Nação é o eixo organizador da vida social na presente etapa da história da civilização: a convicção segundo a qual o Estado Nacional é a organização apta para proteger os valores da dignidade da pessoa humana e a crença na certeza de que viver em um país livre de qualquer submissão a outro país é o mais sagrado dos direitos do homem depois do direito à vida". Dotado de uma cultura extraordinária e uma incontida paixão pelo Brasil, Aldo Rebelo apresenta propostas que merecem uma reflexão. A coragem e sinceridade do autor é uma lufada de esperança num ambiente tão conturbado e num momento tão crucial da nossa história. Um livro obrigatório para quem quer entender o Brasil.

O Fio de Ariadne - A literatura e o labirinto da vida (Cultor de Livros, São Paulo). Rafael Ruiz, em seu livro, procura olhar para a literatura como um caminho que leva o ser humano à plena realização, ou seja, é um trajeto que humaniza o ser humano. Nas palavras do autor, o livro funciona como um mapa que nos leva "em busca do humano". Este mapa guia-nos através de histórias já muito conhecidas, apontando-nos as armadilhas e os tesouros do coração do homem. Ulisses, El Cid, e os personagens de O Senhor dos Anéis viajam e regressam conosco, transformados. Frankenstein e os personagens de Dostoiévski viajam, mas nunca retornam. E nós?

A literatura é o Waze que nos conduz na aventura da vida.

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