COLUNISTA

Evitemos complicações pós-procedimentos

Por Alberto Consolaro |
| Tempo de leitura: 3 min
Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC
Na atualidade, os exames prévios a procedimentos são muito acessíveis a pacientes e profissionais
Na atualidade, os exames prévios a procedimentos são muito acessíveis a pacientes e profissionais

Sai na mídia toda semana, casos de pacientes com hemorragias e sepses em consequência de procedimentos “simples” que podem ser desde a depilação, pedicure, manicure, injeção intradérmica, limpeza de pele, procedimentos dermatológicos e odontológicos, preenchimentos, cirurgias menores e maiores, até se chegar aos transplantes.

Procedimentos se iniciam com a retirada da maioria das bactérias, vírus, fungos e parasitas na área. São trilhões e vivem na pele, cabelos, pelos, olhos, ouvidos, nariz, ânus, uretra e boca. Não temos como eliminar todos, pois não se tem como fazer isto! Isto se chama antissepsia e se usa substâncias químicas, mas pode se fazer esfregando com sabão, dentifrícios, cremes, pomadas e até substâncias gasosas.

Nos procedimentos, as luvas, gazes, cremes, fios, agulhas e instrumentos devem ser esterilizados, o que significa eliminar todos os microrganismos do material, inclusive o vírus da hepatite B e o bacilo da tuberculose, os mais resistentes que temos. E o único jeito de eliminar todos os microrganismos é o uso adequado do autoclave.

Alguns materiais não são esterilizáveis na autoclave, pois derretem ou perdem o corte. Nestes casos são colocados em substâncias químicas, gazes, luz ultravioleta, laser, estufa e outros meios qualificados como desinfetantes. Eles não conseguem acabar com todos os microrganismos, mas com boa parte destes, muito mais do que quando se usa antissépticos.  Os desinfetantes são bem mais efetivos e fortes que os antissépticos e não podem ser usados nos humanos e animais, pois podem intoxicá-los e até levar a morte. Antissépticos se usa em vivos, desinfetantes em seres inanimados.

Se não adotar esta sequência rigorosamente, o risco de uma complicação pós-operatória é enorme como sepses e hemorragias. Mesmo assim, os mecanismos de defesa como inflamação e resposta imunológica, conseguem, na maioria dos casos, superar os microrganismos que entram no corpo durante os procedimentos.

MUNDO HOJE

Pessoas vivem mais e sobrevivem com doenças debilitantes como anemias, diabetes, autoimunes, cardiopatias, neoplasias, quimioterapia, radioterapia, dengue, covid, gripe, transplantados etc. Na maioria, não se percebe que é portadora de alguma destas situações, mesmo quando atendidas por profissional experiente.

O risco de complicação pós-operatória nestes pacientes debilitados é muito maior. Como o profissional pode se prevenir destas complicações? Seguindo-se TRÊS REGRAS DE OURO no atendimento clínico em TODOS os pacientes:
1ª). Fazer antissepsia, desinfecção e esterilização rigorosas,
2ª). Anamnese e exame físico minuciosos e, especialmente,
3ª). Solicitar exames complementares como hemograma com contagem de leucócitos e de plaquetas, glicemias e outros exames como radiografia e tomografia. Muitos desses exames, são feitos até em farmácias. Diagnóstico preciso é tudo!

Pacientes com dengue, anemias e leucemias, por exemplo, podem ter aspectos de completa normalidade, mas a contagem de plaquetas em níveis extremamente baixo com risco à vida frente a qualquer procedimento. Os exames são reveladores! Esteticista, tatuador, colocador de piercing, cirurgião dentista e médico, só têm uma forma de se sentirem seguros para fazer procedimentos:  seguirem as Três Regras de Ouro.

REFLEXÃO FINAL

Neste mundo de: 1. Superpopulação, 2. Prolongamento da vida por terapêuticas de longa duração, 3. Uso frequente de medicamentos e drogas, e 4. Comportamento de risco com dietas e nutrição inadequadas, os profissionais da saúde não devem se arriscar em procedimentos sem os prévios exames amplamente acessíveis na atualidade, como o hemograma completo, glicemia, radiografias e tomografias.

Uma “fórmula mágica” pode ser a dos 4Ps na qual a soma da segurança do profissional (SP) mais o risco à vida do paciente (VP), deve ser maior que a soma da praticidade na vida (PV) com o imediatismo da pressa (PS) ou (SP+VP) > (PV+PS).  Na área biomédica, coragem, imediatismo, bravata e rapidez não são virtudes, e sim comportamentos de risco!

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