COLUNISTA

Doutor para cá, doutor para lá!

Por Alberto Consolaro | 06/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Professor titular da USP e Colunista de Ciências do JC

Platão registrava as palavras e pensamentos de Sócrates. São Paulo, foi escritor do cristianismo primitivo e seus princípios teológicos.
Platão registrava as palavras e pensamentos de Sócrates. São Paulo, foi escritor do cristianismo primitivo e seus princípios teológicos.

Era comum escolher em quem votar a partir da sua escolaridade. Era um tal de doutor para cá, e doutor para lá, e quase ninguém era doutor com título obtido por universidade. Doutor ou “doctor” é aquele que conhece a “doutrina”, ou seja, o conjunto de leis, regras e conhecimento profundo da área em que atua. Chamar alguém de doutor, significa um elevado grau de conhecimento sobre a doutrina, como se supõe em um advogado, médico, dentista e veterinário.

A forma mais contemporânea, sem chance de errar, é chamar de Doutor apenas quando a pessoa tem uma formação acadêmica invejável e obteve o título de doutor cursando um programa de pós-graduação chamado doutorado, oferecido pelas universidades, independente da sua área de graduação.

Na Índia, o mercado convenceu as pessoas que se tivessem diploma de ensino superior ou pós-graduação, o salário seria maior. Agora por lá, tem faculdades e pós-graduação em todas as esquinas e até embaixo de viadutos. Tem propaganda maciça em outdoors e outras mídias. Lá é comum pessoas até com quatro faculdades, mestrados e doutorados trabalhando em serviço braçal, pois não adianta ter diploma, precisa-se ter capacidade de liderança e competência. Não confundir competência com competividade.

EXEMPLOS

Um líder convence pelos argumentos e qualidades, como:

1) Inteligência: envolve a capacidade de raciocinar, memorizar e aprender. O inteligente apresenta grande capacidade de adaptação, planeja e articula bem para ser feliz, como Einstein, Pelé e Gandhi.

2) Cultura: são as atividades mentais, sensoriais e físicas que caracterizam uma sociedade como teatro, vestuário, esportes, cinema, música e artes. Elas se distinguem pelo fato dos animais não exercerem estas atividades, como as de Jô Soares, Chico Buarque, Gil e Lima Duarte.

3) Escolaridade: é aquisição de conhecimentos de forma organizada como fizeram FHC, Geraldo Alckmin, Roberto Justus, Luciana Gimenez, José Sarney. Mas, tem exemplos de cultos e inteligentes sem faculdade: Silvio Santos, Lula, José Serra, Lima Duarte e Hebe.

4) Memória: é a capacidade de retenção mental de dados, hoje mais para máquinas, deixando-se o cérebro para os sentimentos. Com a Inteligência Artificial, basta apenas ter memória razoável para acionar aparelhos, programas e funções.

Por aqui já passaram muitas pessoas que nunca frequentaram escola e nem escreveram nada. Eram tão inteligentes que o que pensavam e fizeram, ficaram perpetuados. Na ciência, a quantidade de citação dá importância a um pesquisador. Já pensou quantas vezes foram citados Sócrates e Cristo?

Sócrates, o pai da filosofia, sem ler ou escrever, influenciou e ensinou o homem a raciocinar, pensar, refletir e a dialogar entre 469 e 399 a.C. Seus pensamentos, palavras e atitudes foram registrados por Platão, um leal e brilhante aluno. Não se assuste, nós pensamos e repetimos os mesmos raciocínios e reflexões de um homem sem escolaridade, mas um brilhante pensador!

Cristo, além de inteligência, tinha grande memória, raciocínio rápido e enorme cultura como suas parábolas. Era tão inteligente e brilhante que ainda tinha a capacidade de amar ao próximo como a si mesmo, inclusive inimigos. Na bíblia não se descreve diretamente Jesus lendo ou escrevendo. A teologia cristã foi escrita por São Paulo, um leal discípulo de Jesus. Quando precisamos passar em concursos e provas, solicitamos a ajuda intelectual e celestial a Jesus.

REFLEXÃO FINAL

A falta de escolaridade de Sócrates e de Jesus não diminui o seu valor, se valoriza-os muito mais. Sem qualquer recurso tecnológico, nem da escrita, denotam que eram muito especiais e iluminados. E nem eram bilingues! Outros seres, também não precisaram de diplomas para inventar, refletir e fazer a humanidade progredir. Isto é intrigante e muito interessante.

Fico imaginando Jesus e ou Sócrates entre nós, em carne e osso, passeando pelas universidades, parlamentos, bibliotecas e centros históricos. Seria demais, desde que não aparecesse alguém pedindo crachá, currículo Lattes e histórico escolar!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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