OPINIÃO

A COP 28 - mais um fracasso

Por Paulo Cesar Razuk | 20/12/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é professor titular aposentado do Depto. de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp - câmpus de Bauru

O filósofo e economista britânico John Stuart Mill (1806 - 1873), ainda na época em que viveu, nos taxava de homo economicus, definido por ele como um ser que faz inevitavelmente aquilo que lhe permite obter a maior quantidade de coisas necessárias, conveniências e luxos com a menor quantidade de trabalho e sacrifício físico. Em outras palavras, para nossa espécie, o suficiente nunca é o bastante.

Terminada essa semana (em 13/12), a Conferência do Clima de Dubai (COP 28) estipulou 2050 como ano em que todos os países devem "compensar" as emissões de gases de efeito estufa geradas por combustíveis fósseis, mas, sem mencionar explicitamente o petróleo, o gás e o carvão. A declaração do diretor executivo do Observatório do Clima (Márcio Astrini) resume bem o resultado de mais uma Conferência do Clima: "apenas palavras não vão mudar a realidade da crise que estamos atravessando, porque fora dessa conferência, as ações concretas continuam em direção oposta, com projetos de incremento do uso e exploração dos combustíveis fósseis".

Entre os séculos 15 e 18 a energia necessária para a sobrevivência humana era extraída da lenha, do moinho de vento, da roda d'água e dos músculos de humanos e animais. Já no final desse período a produção de carvão vegetal consumia tanta lenha que houve uma grave escassez de combustível na principal economia do mundo na época, a Inglaterra. Em decorrência dessa crise, a indústria do ferro trocou o carvão vegetal pelo carvão mineral (coque) e a partir daí, a queima de combustíveis fósseis começou a bombear grandes quantidades de dióxido de carbono e outros gases para a atmosfera.

Com o ferro prontamente disponível aconteceu o boom das ferrovias, das máquinas e barcos a vapor. A Inglaterra, à frente dos outros países, entre 1825 e 1850, produzia de 60% a 80% das emissões mundiais de gases de efeito estufa provenientes da queima de carvão - o dobro dos Estados Unidos, França e Alemanha juntos.

A invenção do motor de combustão interna - na década de 1880 - e do avião logo depois, criou um novo mercado para o petróleo, até então usado para iluminação (como querosene) e lubrificação. Mas, o grande avanço do petróleo como combustível, aconteceu em 1912 quando os ingleses converteram seus navios de guerra movidos a carvão em navios movidos a petróleo.

Logo depois da Primeira Grande Guerra, os automóveis e caminhões transformaram a indústria do petróleo de produtora de iluminantes e lubrificantes em fornecedora de gasolina. A indústria química começou a desenvolver produtos totalmente novos que dependiam de grande aporte de energia que somente subprodutos do refino do petróleo podiam fornecer. Isso facilitou o aparecimento das gigantes como a Basf, Bayer, DuPont, Dow Chemical, Monsanto, entre outras.

Portanto, os países ricos do mundo são responsáveis por 80% das emissões cumulativas de CO2 desde muito tempo e essas emissões são importantes para o clima em razão da longa vida útil do CO2 na atmosfera.

Os combustíveis fósseis se expandiram de maneira espetacular e hoje comprometem todo o processo iniciado há 10 mil anos e que tornou a Terra hospitaleira para nossa espécie. Os recordes sucessivos na emissão de gases de efeito estufa nos empurram para uma nova e perigosa época em que o padrão climático se inclina rapidamente para extremos de calor.

É certo que nossas crianças viverão em um mundo muito mais quente, sob estresse térmico - quando o corpo humano não consegue mais controlar sua temperatura interna - e sob um novo e severo regime climático.

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1 COMENTÁRIOS

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  • MILTON FERNANDO NEME SIMAO
    20/12/2023
    Excelente sua descrição , mostrou-nos os perigos que nossos descendentes correrão com as emissões de CO2 na atmosfera. Boa ptimo.