OPINIÃO

Descontrole das contas públicas limita a queda nos juros

Por Reinaldo Cafeo | 14/12/2023 | Tempo de leitura: 2 min

O autor é diretor regional da Ordem dos Economistas do Brasil

A taxa básica de juros, a conhecida taxa Selic, tem sua trajetória em queda. A política monetária implementada pelo Banco Central vem trazendo resultados e a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), passou a operar neste ano dentro da meta estabelecida, que é de 3,25% em 2023 com tolerância de 1,5 ponto percentual. Neste particular, o mais recente Boletim Focus, de 11 de dezembro, trouxe a previsão do mercado de um IPCA de 4,51%., portanto, dentro do limite máximo que é de 4,75%. Dados recentes do IBGE indicam o IPCA em 4,04% de janeiro a novembro deste ano e 4,68% nos últimos 12 meses.

Considerando que o Banco Central olha para frente, portanto, as metas para os próximos anos, também neste particular, as previsões estão dentro do estabelecido. Apesar de a meta de 2024 ser menor, ou seja, 3%, podendo no máximo chegar a 4,5%, o mercado projeta taxa de 3,93%.

As condições para os juros caírem estão postas, porém, a questão que se coloca é: cairá até que nível? Neste contexto recorro a condição céterius-páribus, que traduzido para o português quer dizer: que tudo o mais fique constante. Assim, no olhar somente da inflação e os efeitos futuros da política monetária praticada neste ano, a taxa básica de juros poderá virar o ano que vem em 9,25% ao ano. Assim, se nada excepcional acontecer, as quedas serão gradativas até atingir este patamar, portanto, um dígito.

E onde está o risco de isso não ocorrer? Agora abre-se mão da condição céteris-páribus, e deixamos a questão fiscal interferir.

Neste ano o buraco nas contas públicas deve ser R$ 36 bilhões maior do que os R$ 141,2 bilhões previstos. E na previsão orçamentária de 2024, cuja meta é zerar o déficit público, o mercado já precificou em suas projeções um déficit na ordem de 0,8% do PIB, o equivalente a aproximadamente R$ 80 bilhões.

Qualquer número muito fora das projeções do mercado, aumentando o déficit público, o risco país se instala, a desconfiança passa a ser a tônica dos agentes econômicos, e isso refletirá nas decisões do Banco Central, que, na melhor das hipóteses, reduzirá o ritmo de queda dos juros.

Será fundamental que a área técnica do governo Federal, comandada pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, se sobreponha a área política, evitando que aventuras fiscais sejam praticadas neste governo.

Vale sempre lembrar que a ciência econômica já consolidou há tempos a relação de causa e efeito e o aqui colocado, é de conhecimento de todos, portanto, se o governo Federal errar a mão na condução da política fiscal, não será por falta de conhecimento, e sim puro populismo, cujas consequências econômicas prejudicarão o grosso da população.

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