COLUNISTA

O inferno são os outros

Por Zarcillo Barbosa | 02/12/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é jornalista e articulista do JC

É difícil conviver com as pessoas. Sartre dizia que "o inferno são os outros". Não é que nos atormentemos uns aos outros, pelo simples prazer da crueldade. É que o "outro" é essencial para que cada um se conheça a si mesmo. O ser humano precisa se relacionar para construir a sua identidade, processo nem sempre tranquilo e harmonioso. Temos fartos exemplos na área política, onde os interesses são diversos e só convergem para o mesmo desejo de poder.

Aqui em Bauru tivemos um prefeito-psicólogo, chamado Tuga Angerami. Professor universitário na disciplina, mestrado e doutorado nos Estados Unidos em comportamento humano. Acompanhei a sua gestão como jornalista e via a sua dificuldade para dar conta de tantas incompreensões.

A convivência humana, quando é saudável atrai soluções. Mesmo que os equacionamentos dos problemas sejam demorados porque cada um tem um temperamento.

O duro é quando a intenção subjacente é só a de fazer bolhas ou, como diria Lula, que gosta de comparações futebolísticas, de "embolar o meio de campo".

Somos pessoas. E o que é o ser humano? Indivíduo (cada um é um) dotado de defeitos, qualidades, erros, acertos, fraquezas, arrogância, egoísmo. Os gregos chamavam de "persona" a máscara que os atores usavam no teatro de arena. Recurso para que o público melhor enxergasse as expressões de humor ou de tristeza dos personagens encarnados. Assim somos nós até que um dia, a máscara cai revelando a verdadeira identidade.

Na fábula de Esopo, a raposa encontra uma máscara abandonada. Atraída pela sua beleza, cheira, examina e decepciona-se: - "Pena que não tenha cérebro!"

Moral: A bela aparência não substitui o valor do espirito.

A convivência humana é complicada desde Adão e Eva. Com a interveniência da serpente concordaram em comer o fruto proibido. Expulsos do Paraíso, de lá saíram brigando: - "A culpa é sua". - "Foi minha não, você é que foi o culpado". Na hora do bem-bom todos estavam concordes em saborear a maçã. No momento de cuspir o caroço...

Essa desavença dos pais deve ter motivado Caim a também brigar com o irmão e chegar ao cúmulo de matá-lo, quando já estavam exilados "a leste do Éden".

A insatisfação que hoje existe nas pessoas, devido à baixa autoestima ou falta de afeto, dá causa a modalidades de conflitos modernamente nomeados como cyberbullying, assédio moral e sexual, trolagens e outros problemas relacionados ao uso das mídias sociais. Durkheim entendia a violência como falha nos processos de socialização das pessoas. Hannah Arendt atribuía o fenômeno à ausência do Estado.

Em matéria de política, o Senado e o STF brigam por mais espaço de poder, o que não acontecia desde a ditadura militar quando vários ministros togados foram compulsoriamente aposentados por não concordarem com a supressão do habeas corpus e da liberdade de expressão.

Vivemos numa sociedade adrenalizada. O medo e a injustiça geram violência. O cidadão quebra a recepção da Unidade de Saúde pela demora no socorro de alguém muito doente. O jovem médico não está satisfeito porque o volume de pacientes a atender é quase impossível durante a jornada e o salário não compensa. Se fossemos abordar a intolerância religiosa, iríamos muito além de palestinos e judeus que se matam na Terra Santa. Ódio racial, misoginia e homofobia são outros tipos de fenômenos que destroem o convívio social.

Jogar a responsabilidade para o Estado, pouco ou nada adianta. A solução está em nós mesmos conforme o preceito ético consagrado por Buda e por Jesus Cristo: "Não façais aos outros o que não quereis que vos façam". Regrinha simples. Bastaria uma única lei, com este único artigo para resolver todos os conflitos humanos e entre nações.

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