OPINIÃO

Argentinos rejeitam a esquerda

Por Direceu Cardoso Gonçalves |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é tenente, dirigente da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo)

A eleição do libertário Javier Milei – que promete um governo à direita e com menor interferência do Estado – representa uma guinada da Argentina, país detentor da segunda economia do continente. No curto período da campanha, os argentinos tomaram conhecimento e aceitaram a pregação do candidato que, entre outras coisas, pretende dolarizar a economia e fechar o Banco Central. Milei venceu com 55% dos votos contra 44% de Sérgio Massa, o candidato apoiado pelo governo do presidente Alberto Fernandez, que representa o peronismo e o kirchnerismo, seu controverso sucessor.

A diferença (de 11 pontos) representa 3 milhões de votos que, dependendo do desempenho do novo governo, poderá sepultar o peronismo, que governou o vizinho país de 1946 a 55 e de 73 a 74, ano em que morreu seu líder, Juan Domingo Perón.

Seus sucessores continuaram carregando seu cadáver e até agora estão no poder mas, pelo resumo da obra do mandato que se encerra, notadamente a inflação anual de 140% e a política estatizante, perderam o apoio popular (e a eleição).

A Argentina foi o país mais rico da América do Sul e perdeu essa posição por conta do populismo e outros problemas políticos. Sofreu ditaduras e repressão. O povo argentino, politizado que é, já chegou até a derrubar um presidente no panelaço (Fernando de La Rua, em 2001).

Mas nem assim recuperou a estabilidade política e econômica. Milei encontrou terreno fértil para propor mudanças radicais e, com esse proselitismo, ganhou a eleição. Agora promete uma nova Argentina.

Torcemos para que o presidente Fernandez possa fazer uma transição pacífica e que, a partir de 10 de dezembro, quando tomar posse, Milei consiga implementar seus planos de recolocar o país na rota da estabilidade e do desenvolvimento. Evite os radicalismos que têm levado aquela potente nação a problemas que fazem o povo sofrer.

Nós, brasileiros, não devemos ignorar que a Argentina é grande parceira do Brasil, cliente de nossos produtos manufaturados e fornecedora de mercadorias que importamos. E que temos em comum o Mercosul, mecanismo econômico que já poderia ter rendido melhores frutos, não fosse a política dos países-membros e suas interferências ideológicas como, por exemplo, a admissão da problemática Venezuela.

Espera-se juízo do sr. Milei – para não decepcionar os seus eleitores – e ter um mandato útil aos “hermanos”. Sua eleição, além da governança que deve proporcionar, é um grande balde de água fria sobre a estapafúrdia ideia lançada em 1990 no Foro de São Paulo, de se criar a URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina), nos moldes da antiga União Soviética que, apesar de toda a força que teve, esfacelou-se como bloco. É um duro golpe aos que ainda sonham com o comunismo.

O Brasil tem pecado ao meter seu bico nas eleições argentinas. Jair Bolsonaro falou contra a eleição de Alberto Fernandez, que se elegeu. Lula enviou marqueteiros e deu seu apoio explicito à candidatura de Sérgio Massa, que acaba de perder. Já trocou farpas com Milei.

Mas, gostando ou não, ambos precisam respeitar a tradição, a geopolítica e os interesses econômicos dos dois países.

Torcemos para que se contenham e administrem as diferenças para evitar prejuízos às nações.

Quanto a Lula, particularmente, somos de opinião que deve voltar suas atenções para governar o Brasil (o que é sua obrigação) e não tente interferir em guerras, políticas externas e eleições de outros países.

Se já tivesse adotado esse comportamento, hoje não teria “perdido” a eleição na Argentina e nem arrumado divergências nas guerras Israel-Hamas e Rússia-Ucrânia.

Por favor, presidente, o queremos governando nosso Pais. Todo o resto é dispensável...

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