OPINIÃO

Sinistros de trânsito continuam em alta

Por Archimedes Azevedo Raia Jr. | 16/11/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é mestre e doutor em Engenharia de Transportes/USP e diretor de Mobilidade e Transportes da Assenag

Elevado número de mortes no trânsito tem sido amplamente divulgado pela mídia. Os sinistros de trânsito têm sido motivo de preocupação por parte das autoridades e especialistas. Desde 2014, o número absoluto de óbitos vinha decaindo até atingir um patamar mínimo de 31.945 pessoas, em 2019. Nos dois anos seguintes, o número de mortes aumentou 2,41% (32.716), em 2020 e 3,35% (33.813), em 2021. No ano de 2021, os motociclistas responderam por 43,8% das mortes, os ocupantes de carros, 26,6%, e os pedestres, 19,5%. Já, a faixa de idade mais vulnerável ficou entre 20 e 59 anos, faixa economicamente produtiva.

Não há como negar certo avanço positivo na redução da mortalidade viária no período de 2015 a 2019. No entanto, esta queda foi interrompida. No país, os sinistros de trânsito são a segunda maior causa de morte não natural evitável. Os compêndios de Engenharia de Tráfego apontam, de forma simplificada, que os fatores causadores dos sinistros são o ambiente viário, o veículo e o ser humano. De maneira geral, tem sido uma prática comum apontar os aspectos relacionados ao ser humano como sendo aqueles que contribuem com 80 a 90% dos sinistros.

O ser humano é responsável por atitudes que conduzem ao sinistro: falta de atenção do condutor, ultrapassagens perigosas, falta de conhecimento ou respeito aos sinais de trânsito, excesso de velocidade, ingestão de álcool/droga, uso do celular, dentre outras. Além de colocar em risco a vida do condutor, a sua imprudência pode afetar outras pessoas, embarcadas e fora do veículo. Há que se citar o comportamento inadequado de pedestres.

Memórias do escritor franco-argelino Albert Camus após viajar pelo Brasil, publicadas no Jornal do Brasil, em 1998, afirmavam que há aqui dois tipos de motoristas: os "loucos alegres" e os "frios sádicos". Também existe um território livre dos "motoqueiros loucos", aliás, loucos e inclementes também. Imagine se Camus voltasse ao Brasil nos dias de hoje!

É esperado que um processo de educação no trânsito e fiscalização rigorosa possam conduzir a um cenário mais humano e respeitoso. Alice Fernández, em seu livro "Falha humana nos acidentes de trânsito", afirma que "o homem é um ser racional, social, moral e afetivo com inúmeras potencialidades que, se desenvolvidas através da educação o levará, inclusive, a reverter o quadro caótico em que se encontra o trânsito em nosso país."

Já, para Gerald Wilde, da Queen's University, Canadá, em seu livro "Target Risk", a taxa de acidentes e incidência de hábitos insalubres dependem essencialmente da orientação das pessoas para o seu futuro. Quanto mais elas dele esperam, tanto mais elas estão querendo se preparar para ele, e tanto mais cuidadosa querem ser com sua a vida e o próprio corpo. Por outro lado, se suas expectativas do futuro são baixas, elas procurarão achar mais gratificações imediatas de seus desejos, e fazem isso com maior risco de colocar suas vidas em perigo. Assim, a extensão da aceitação do risco em relação à segurança e saúde depende de valores que prevalecem em cada ser humano.

Vive-se em uma sociedade regrada pelo consumismo, carente de valores éticos e morais hábeis em influenciar no processo de formação do ser humano, incapaz de respeitar a sua vida e a do seu semelhante. A vida não tem preço, ela é um dom de Deus e só existe uma. Precisa ser respeitada e preservada.

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